Com as ruas de Caracas marcadas pela confrontação, o presidente do parlamento, Juan Guaidó, autoproclamou-se chefe do Estado, na sequência do não reconhecimento da eleição de Nicolás Maduro e da tentativa de golpe de Estado denunciada há dois dias.
Até ao momento, Juan Guaidó foi já reconhecido como Presidente interino da Venezuela pelos Estados Unidos, Canadá, Organização dos Estados Americanos (OEA), Brasil, Colômbia, Peru, Paraguai, Equador, Chile e Costa Rica.
A Venezuela encontra-se agora num clima de incertezas, existindo a possibilidade de a oposição passar a administrar um Governo paralelo reconhecido como legítimo por outros países mas sem real controlo sobre as decisões governamentais.
O vice-Presidente brasileiro, Hamilton Mourão, descartou a possibilidade de o Brasil participar numa intervenção armada na Venezuela para retirar Maduro do poder, por não ser tradição da política externa do seu país.
"O Brasil não participa de intervenção. Não é da nossa política externa intervir nos assuntos internos dos outros países", declarou Mourão à imprensa brasileira.
No entanto, o Hamilton Mourão assumiu que, caso seja necessário, o Brasil poderá futuramente oferecer ajuda financeira para reconstruir o país vizinho.
"O apoio político é exatamente a decisão que foi tomada pelo Presidente. (Daremos) apoio económico, no futuro, caso seja necessário, para reconstruir o país", frisou.
O ministro português dos Negócios Estrangeiros, Augusto Santos Silva, afirmou o seu pleno respeito "à vontade inequívoca" mostrada pelo povo da Venezuela e disse esperar que Maduro "compreenda que o seu tempo acabou".
"Apelamos para eleições livres, para que Maduro compreenda que o seu tempo acabou, porque não pode ignorar a vontade do povo e a Assembleia Nacional tem de ser respeitada", disse o ministro à agência Lusa.
O ministro da Defesa da Venezuela, Valdimir Padrino, afirmou que os militares não aceitarão "um Presidente imposto à sombra de interesses obscuros.
"O desespero e a intolerância atentam contra a paz da nação. Os soldados da pátria não aceitam um Presidente imposto à sombra de interesses obscuros ou autoproclamado à margem da lei", disse o ministro na sua conta na rede social Twitter.
El desespero y la intolerancia atentan contra la paz de la Nación. Los soldados de la Patria no aceptamos a un presidente impuesto a la sombra de oscuros intereses ni autoproclamado al margen de la Ley. La FANB defiende nuestra Constitución y es garante de la soberanía nacional.
— Vladimir Padrino L. (@vladimirpadrino) 23 de janeiro de 2019
Na mesma mensagem acrescentou que as Forças Armadas defenderão a Constituição e serão "garante da soberania nacional".
As declarações do ministro representam um apoio ao Presidente Nicolás Maduro, a quem a hierarquia castrense do país já havia reconhecido como sendo seu comandante em chefe há cerca de duas semanas.
A União Europeia pediu que a "voz" do povo venezuelano seja escutada e que sejam realizadas eleições "livres e credíveis".
"Os direitos civis, a liberdade e a segurança de todos os membros da Assembleia Nacional, incluindo o seu presidente, Juan Guaidó, devem ser plenamente respeitados", acrescentou a Alta Representante da UE, Federica Mogherini, em nome dos 28.
O presidente do Parlamento Europeu, Antonio Tajani, reconheceu "legitimidade democrática" ao opositor venezuelano Juan Guaidó.
Sigo con mucha atención los acontecimientos en Venezuela. Contrariamente a Maduro, Guaidó sí tiene legitimidad democrática. Se debe respetar las manifestaciones y la libertad de expresión de un pueblo que está harto de pasar hambre y sufrir los abusos de Maduro
— Antonio Tajani (@EP_President) 23 de janeiro de 2019
"Sigo com atenção os acontecimentos na Venezuela. Contrariamente a Maduro, Guaidó tem legitimidade democrática", vincou Antonio Tajani numa reação publicada na sua conta oficial da rede social Twitter.
Para este responsável, "deve-se respeitar as manifestações e a liberdade de expressão de um povo que está farto de passar fome e de sofrer os abusos de Maduro".
O Governo de Portugal pediu que seja respeitada a legitimidade da Assembleia Nacional da Venezuela e o direito à manifestação pacífica.
"Apelamos a que não haja violência na Venezuela, que seja respeitada a legitimidade da Assembleia Nacional e que seja também respeitado o direito das pessoas a manifestarem-se pacificamente", lê-se numa mensagem divulgada na conta oficial do Ministério dos Negócios Estrangeiros português na rede social Twitter.
Apelamos a que não haja violência na Venezuela, que seja respeitada a legitimidade da Assembleia Nacional e que seja também respeitado o direito das pessoas a manifestarem-se pacificamente.
— N Estrangeiros PT (@nestrangeiro_pt) 23 de janeiro de 2019
"Acompanhamos minuto a minuto a evolução da situação na Venezuela. A nossa preocupação principal é a segurança da comunidade portuguesa. Estamos também em contacto permanente com os nossos parceiros mais próximos, designadamente na União Europeia", afirma-se numa mensagem colocada minutos antes na mesma conta.
O presidente do Conselho Europeu, Donald Tusk, disse esperar que “toda a Europa se una para apoiar as forças democráticas na Venezuela”.
I hope that all of Europe will unite in support of democratic forces in #Venezuela. Unlike Maduro, the parliamentary assembly, including Juan Guaido have a democratic mandate from Venezuelan citizens.
— Donald Tusk (@eucopresident) 23 de janeiro de 2019
Através de uma publicação feita na sua conta oficial da rede social Twitter, o responsável vincou que, "ao contrário de Maduro, a Assembleia Nacional, assim como Juan Guaidó, têm um mandato democrático" eleito pelos "cidadãos venezuelanos".
Esta é a primeira posição pública de um responsável das instituições europeias à situação na Venezuela, após o presidente do parlamento venezuelano, o opositor Juan Guaidó, se ter autoproclamado hoje presidente interino.
Guaidó afirmou que manterá relações diplomáticas "com todos os países", contrariando a decisão do chefe de Estado, Nicolás Maduro, de romper vínculos com Washington.
"Comunico a todos os chefes de missão diplomática e seu pessoal acreditado na Venezuela que o Estado da Venezuela deseja firmemente que mantenham a sua presença diplomática no nosso país", declarou na rede social Twitter.
"Responsavelmente vos digo que somos uma nação soberana e continuaremos a manter relações diplomáticas com todos os países do mundo. Continuamos firmes em retomar a ordem constitucional", refere.
#Comunicado para todas las Embajadas presentes en Venezuela.
— Juan Guaidó (@jguaido) 23 de janeiro de 2019
Responsablemente les digo que somos una nación soberana y seguiremos manteniendo las relaciones diplomáticas con todos los países del mundo.
Seguimos firmes en retomar el Orden Constitucional. pic.twitter.com/XODgm9rFbB
Guaidó insta as missões diplomáticas a "ignorar qualquer ordem ou disposição a este respeito que contradiga o firme propósito do poder legítimo da Venezuela" - que diz representar "em virtude da Constituição" - de que "as missões diplomáticas, chefes de missão e todo o seu pessoal continuem a trabalhar na Venezuela com normalidade e que se respeitem todas as imunidades e privilégios".
"Qualquer disposição contrária careceria de validade, pois emanaria de pessoas ou entidades que, pelo seu caráter usurpatório, não têm autoridade legítima para se pronunciar a este propósito", refere ainda a mensagem, com a assinatura de Juan Guaidó.
"Começamos hoje na América Latina a caminhada dos conflitos que tanto repudiamos em outros continentes. Líbia, Iraque, Síria são lembranças atuais das decisões arrogantes dos Estados Unidos e dos seus parceiros políticos. O Brasil só tem a perder com esta intervenção na Venezuela", afirmou Gleisi na rede social Twitter.
A líder do CDS-PP, Assunção Cristas, pediu ao Governo numa mensagem no Faceboock para que reconheça Juan Guaidó como presidente interino da Venezuela.
"Face à gravidade da situação na Venezuela e tendo em atenção a situação dos portugueses na Venezuela, e de acordo com o que o CDS-PP apresentou no parlamento relativamente ao plano de contingência e na salvaguarda dos direitos dos nossos compatriotas, peço ao Governo que desencadeie os mecanismos necessários com vista ao reconhecimento deste Governo, que estamos em crer respeita o Estado de Direito democrático, abrindo caminho para eleições livres", escreveu Assunção Cristas.
Os Estados Unidos admitiram usar todos os meios se o governo venezuelano recorrer à violência. Donald Trump disse que nenhuma hipótese está excluída.
#AHORA Rusia afirma que no revocará su reconocimiento a Nicolás Maduro como Presidente de Venezuela #23Ene https://t.co/ROIsHjowPP pic.twitter.com/riVmR8tmaM
— NTN24 Venezuela (@NTN24ve) 23 de janeiro de 2019
O presidente Nicolás Maduro lançou um apelo às forças armadas da Venezuela para que permaneçam unidas e mantenham a disciplina.
"Nós iremos triunfar também agora, sairemos vitoriosos", clamou a partir da varanda do Palácio de Miraflores.
A Guatemala reconhece Juan Guaidó como presidente interino, comunicou a ministra guatemalteca dos Negócios Estrangeiros, Sandra Jovel, na sua conta no Twitter.
Guatemala reconoce al Presidente de la Asamblea Nacional Juan Guaidó como Encargado Interino de la Presidencia de Venezuela y manifiesta su apoyo. pic.twitter.com/FB9Rky5aqh
— Sandra Jovel (@sandrajovel6) 23 de janeiro de 2019
20h39 - Chavistas manifestam-se a favor de Maduro
Imagens da televisão estatal venezuelana mostram uma manifestação com milhares de pessoas no centro de Caracas, apoiando Nicolás Maduro contra a proclamação de Juan Guaidó como presidente do país.
Nuestra solidaridad con el pueblo venezolano y el hermano @NicolasMaduro, en estas horas decisivas en que las garras del imperialismo buscan nuevamente herir de muerte la democracia y autodeterminación de los pueblos de #Sudamérica. Nunca más vamos a ser patio trasero de #EEUU.
— Evo Morales Ayma (@evoespueblo) 23 de janeiro de 2019
Um protesto gigante na Venezuela: parte da população saiu à rua a exigir a deposição do regime de Nicolas Maduro.
O líder da oposição proclamou-se presidente interino durante a manifestação em Caracas, e essa proclamação foi reconhecida pelos Estados Unidos, o Brasil e a Organização dos Estados Americanos.
Confrontos entre os militares destacados para as ruas e manifestantes da oposição resultam em vários feridos, com os números ainda muito imprecisos.
Canadá
Brasil
Paraguai
Colômbia
Peru
Equador
Costa Rica
Argentina
A Guarda Nacional Bolivariana já começou a repressão contra manifestantes anti-Maduro.
— RENOVA (@RenovaMidia) 23 de janeiro de 2019
Bombas de gás lacrimogêneo foram utilizadas para dispersar população concentrada em praça no bairro de El Paraíso, na capital #Caracas.
Um cidadão foi detido. pic.twitter.com/iKLJLDQqXH
"O Brasil apoiará política e economicamente a transição para que a democracia e a paz social regressem à Venezuela", declarou Bolsonaro.
Juan Guaidó se juramenta como Presidente de #Venezuela!!!!!!!!!! pic.twitter.com/SMGXBgqPgU
— Cristian Crespo F. (@cristiancrespoj) 23 de janeiro de 2019
Gobierno de Estados Unidos reconoce a @jguaido y a la Asamblea Nacional como único poder legítimo de #Venezuela. pic.twitter.com/yBNTRqZ3Z5
— Cristian Crespo F. (@cristiancrespoj) 22 de janeiro de 2019
Donald Trump apelou, além disso, a que a comunidade internacional deixasse de reconhecer o presidente Nicolás Maduro e passasse a reconhecer Juan Guaidó.
Com Nicolás Maduro saído de uma reeleição muito contestada interna e externamente, a 10 de Janeiro, os seus apoiantes pretendem assegurar condições para que leve por diante este segundo mandato.
Na antecâmara das movimentações populares esteve há dois dias uma tentativa de golpe de Estado que acabou por ser reprimida pelo exército.
Na data que comemora os 60 anos da queda da ditadura de Marcos Pérez Jiménez, a 23 de Janeiro de 1958, foram marcadas manifestações para esta quarta-feira em ambos os lados da barricada: pelos movimentos contra o governo de Nicolás Maduro e também por aqueles que apoiam o presidente.
A liderar o movimento de oposição está Juan Guaidó, o jovem presidente do Parlamento da Venezuela a quem Donald Trump ofereceu o seu apoio caso se declarasse o líder do país.