O presidente ucraniano, Volodymyr Zelensky, está em Varsóvia para se avistar com o primeiro-ministro polaco, Donald Tusk. A deslocação acontece depois de os dois países terem chegado a acordo sobre a exumação das vítimas polacas de massacres cometidos por nacionalistas ucranianos na II Guerra Mundial.
“Finalmente, um avanço. Há uma decisão sobre as primeiras exumações das vítimas polacas do Exército Insurgente Ucraniano (UPA)”, escreveu Tusk nas redes sociais na sexta-feira.
Wreszcie przełom. Jest decyzja o pierwszych ekshumacjach polskich ofiar UPA. Dziękuję ministrom kultury Polski i Ukrainy za dobrą współpracę. Czekamy na kolejne decyzje.
— Donald Tusk (@donaldtusk) January 10, 2025
“Agradeço aos ministros da Cultura da Polónia e da Ucrânia pela sua boa cooperação. Estamos à espera de novas decisões”, acrescentou.
Apesar de a Polónia ser um dos mais fortes apoiantes da Ucrânia desde a invasão russa em fevereiro de 2022, os laços entre os vizinhos têm sido tensos durante gerações devido aos assassinatos de Volhynia que ocorreram de 1943 a 1945. Aldeias inteiras foram incendiadas e os habitantes mortos pelos nacionalistas que procuravam criar um Estado independente na Ucrânia.
Segundo os meios de comunicação polacos, as conversações de Zelensky em Varsóvia vão centrar-se na resolução de uma disputa de décadas sobre os massacres de polacos durante a II Guerra Mundial em Volhynia, atualmente no oeste da Ucrânia.
“Há muitos tópicos (para discutir), incluindo, claro, as exumações”, afirmou um funcionário do Governo polaco à agência Reuters. “O que nos interessa é a forma como estas decisões (sobre as exumações) são levadas a cabo”.
O diário polaco Rzeczpospolita informou que o início dos trabalhos de exumação estava previsto para abril.
A zona onde ocorreram os massacres, habitada por polacos e ucranianos, fazia parte da Polónia antes da II Guerra Mundial e foi ocupada pela União Soviética.
Em 2013, o Parlamento polaco reconheceu o massacre perpetrado pelo Exército Insurgente Ucraniano (UPA) durante a II Guerra Mundial como “limpeza étnica com caraterísticas de genocídio”.
A Ucrânia não aceitou esta afirmação e refere-se frequentemente aos acontecimentos de Volhynia como parte de um conflito entre a Polónia e a Ucrânia que afetou ambas as nações.
As autoridades de Kiev têm afirmado repetidamente que a Ucrânia está pronta para um “diálogo construtivo” com Varsóvia, dizendo que o passado dos países não deve pôr em perigo a sua cooperação.
A questão é difícil para a Ucrânia porque alguns dos nacionalistas ucranianos do tempo da Segunda Guerra Mundial são considerados heróis nacionais devido à luta pela criação do Estado ucraniano.
Tusk, cuja aliança governamental pró-União Europeia enfrenta eleições presidenciais em maio, está sob pressão dos nacionalistas para exumar as vítimas dos massacres.
A Polónia diz que mais de 100 mil polacos foram mortos nesses massacres por nacionalistas ucranianos. Estima-se que 15 mil ucranianos tenham sido mortos em retaliação.
A Polónia há muito que exige o livre acesso dos seus especialistas aos locais onde se crê estarem enterrados os restos mortais dos mortos, para que possam ser exumados para funerais adequados.O vice-primeiro-ministro polaco Wladyslaw Kosiniak-Kamysz afirmou, em outubro, que a Ucrânia teria de resolver a questão para poder aderir à União Europeia.
Enquanto as duas partes tentavam resolver a questão, o presidente do parlamento ucraniano proferiu em maio de 2023 palavras de reconciliação no parlamento polaco.
“A vida humana tem o mesmo valor, independentemente da nacionalidade, raça, sexo ou religião”, disse Ruslan Stefanchuk aos deputados polacos na altura.
“Com esta consciência, cooperaremos convosco, caros amigos polacos, e aceitaremos a verdade, por mais intransigente que seja”, acrescentou.
Os assassinatos assumiram um significado político adicional este ano, uma vez que o principal candidato da oposição nas eleições presidenciais polacas é o conservador Karol Nawrocki, diretor do Instituto da Memória Nacional (IPN), que tem colocado as questões históricas na linha da frente da sua campanha.A Polónia assumiu a presidência rotativa do Conselho da União Europeia este mês, com o reforço da segurança do bloco e o compromisso com a Ucrânia no topo da agenda.
O ministro ucraniano dos Negócios Estrangeiros, Andrii Sybiha, disse este mês que Kiev espera novas iniciativas para ajudar a sua luta contra a Rússia durante a presidência.
As conversações entre Tusk e Zelensky ocorrem numa altura em que o mundo se prepara para a tomada de posse do Presidente eleito dos EUA, Donald Trump, na próxima semana.
Trump prometeu resolver o conflito na Ucrânia em “24 horas” após a sua entrada em funções, o que suscita receios de que Kiev seja forçada a fazer grandes concessões em troca da paz.
c/ agências