Com 68 "likes" no Facebook é possível prever a sua orientação sexual

Provavelmente nunca ouviu falar da Cambridge Analytica. Confesso que também eu não conhecia a empresa até ter lido um artigo na Vice. E apesar de ter uma ligeira consciência do que está a acontecer, nunca pensei - ingénuo, talvez - que a informação que estamos a partilhar, a dar, esteja a ser utilizada desta forma. Digo-lhe desde já que a Cambridge Analytica é em boa parte responsável pela eleição de Donald Trump. E pelo Brexit.

A empresa é a evolução de um trabalho de Michal Kosinski, um investigador de 34 anos que desenvolveu um sistema de recolha e análise de informação com base no que fazemos nas redes sociais. Em 2012, Kosinski provou que com base numa média de 68 "likes" no Facebook era possível prever com 95 por cento de certeza a cor da pele de uma pessoa. Ou, com 88 por cento de certeza, a orientação sexual. Também a ligação a um partido, a uma religião, ou até mesmo o consumo de drogas.

O modelo por ele desenvolvido tornou-se de tal forma potente que conseguia avaliar uma pessoa melhor do que o colega de trabalho com base em apenas dez "likes" no Facebook. Com 70 "likes" já sabia mais do que o amigo. Cento e cinquenta e saberia mais sobre uma pessoa do que os seus próprios pais. Trezentos para saber mais do que o/a companheira/o.

Escreve a Vice que o impacto deste estudo foi tal que, quando o publicou, recebeu dois telefonemas. Uma ameaça de um processo em tribunal e uma oferta de trabalho. Do Facebook, nos dois casos.

Em 2015, a campanha "Leave.EU", apoiada por Nigel Farage, anunciou a contratação de uma empresa para o trabalho digital. Qual? Cambrigde Analytica, que aplicou o sistema criado por Michal Kosinski. A mesma empresa que Trump contratou para a corrida presidencial.

Praticamente todas as mensagens de Trump durante a campanha foram orientadas pela Cambridge Analytica. Mensagens que iam ao encontro da análise de dados que a empresa fazia dos norte-americanos. Mensagens personalizadas, individuais, adaptadas à pessoa. 


O resultado é o conhecido.

Não será por acaso que o presidente dos Estados Unidos assinou recentemente uma lei que permite às operadoras vender o registo de navegação online a outras empresas sem autorização dos utilizadores.

Nos dias de hoje, quem tem acesso a essa informação e sabe usá-la tem um poder incomensurável. 

Vale a pena ficarmos atentos.

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