Das lideranças e seus fracassos

As lideranças são como os chapéus. Há muitas, das mais diversas formas e feitios. Mas, tal como os chapéus, há preceitos básicos que não podem ser descurados para não haver o risco de um fracasso total no resultado. Por exemplo, no caso dos chapéus, o tamanho. Deve ser o número correcto para que assente que nem uma luva ao seu proprietário. Querer usar um chapéu que não nos fica bem só nos expõe ao ridículo, mas se estivermos a falar de uma liderança errada isso expõe uma organização inteira a vários perigos.

O líder pode ter um dom natural, carisma, ou ter de construir a sua liderança à base de provas dadas, diária e permanentemente, que incutam nos seus seguidores uma atitude de respeito e de confiança. É o saber fazer, ou pelo menos o saber como se faz, e o explicar como deve ser feito da melhor forma, ou pelo menos da forma mais eficaz. Mas há uma coisa que um líder nunca pode fazer em nenhuma circunstância: entregar a sua equipa, ou algum elemento da equipa em particular, rejeitando as responsabilidades que tem como líder e minando a confiança dentro do grupo. De um líder espera-se precisamente o contrário, que defenda publicamente todos os elementos da sua equipa, contra tudo e contra todos, que dê o corpo às balas e se sacrifique em nome do colectivo, e que depois, internamente, faça as análises que têm de ser feitas, com a dureza que se impõe e atribuindo a cada um as suas responsabilidades por incumprimento do que foi pedido. O contrário não é liderança, é chefia, da pior qualidade, que como sabemos tem sempre resultados desastrosos. Um líder puxa, não empurra os outros e não se esconde nos momentos mais complicados.

Um líder avança e orienta, não espalha a confusão e o ressentimento, e acima de tudo nunca perde a cabeça em situações extremas e difíceis, que é precisamente a característica mais apreciada numa liderança: que alguém saiba conduzir os seus com coragem, bravura e galhardia e saiba encontrar um caminho seguro para fugir à borrasca. Par isso devem ser dadas ordens claras e concretas e explicado o objectivo que se pretende atingir. Um líder também tem de ter a coragem de assumir as decisões que deve tomar, não se esconde por trás de outras pessoas nem permite que aqueles que escolheu para lhe dar apoio nessa função de liderar percam a noção do seu espaço concreto e se movam com à vontade em competências que não lhes pertencem. Um líder é o primeiro a decidir e a recuar e deve saber ouvir os seus mais próximos, mas não pode fazer uma coisa nem outra debaixo de pressão, de ameaça ou, pior ainda, movido pela cobardia de não querer decidir contra a vontade dos seus. Mas também não pode tocar o outro extremo, ser egoísta, vaidoso, egocêntrico, colérico e teimoso, achando que pode vencer o mundo sozinho e que tem um dom divino que obriga todos a segui-lo cegamente.

Liderar é difícil, de forma natural e genuína ainda mais, porque se fosse fácil estaria ao alcance de qualquer um. Pode não se ter carisma, que muitas vezes existe mas acabar por revelar-se de plástico e fabricado a martelo, mas tem de se ter qualidades especiais que permita conduzir pessoas com uma certeza absoluta: mesmo nas piores circunstâncias o destino não será o abismo. Caso contrário, o líder torna-se, até ao momento da queda, numa mera Rainha de Inglaterra, com a ilusão de que tem muito poder efectivo mas na verdade só lhe sobram os salamaleques dos que se curvam por cortesia ou por mero tacticismo e ambição, deixando que a equipa ande a deriva, sem rumo, em choques permanentes como carrinhos de choque desgovernados numa pista de feira.

Cada um vai ler este texto à sua maneira e encaixá-lo na realidade que mais lhe agradar ou que identifica com estas linhas, mas a todos deixo uma certeza, não há liderança sem qualidade, sem coragem, sem experiência, sem noção de bem comum e de que o colectivo é sempre mais importante do que as suas partes, mesmo as mais vaidosas ou alegadamente mais influentes, ou mesmo as mais decisivas. Um líder que vive na ilusão de que lidera não liderando é um líder a prazo, mesmo quando parece que está de pedra e cal. Uma certeza fica: a organização demora sempre a recuperar de lideranças desastrosas, mesmo que não seja no topo. Basta que seja num sector vital para essa mesma organização.

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