Uma campanha suja

A corrida à Casa Branca já viveu momentos maus, mas agora estão criadas as condições para que se entre no nível de discurso mais rasteiro e mais baixo de sempre, muito à conta de Donald Trump que não se poupa a esforços sempre que a questão é descer mais um nível na qualidade dos argumentos.

Não acredito que depois de tudo o que ouvimos até agora Trump se transforme numa versão mais suave dele próprio na tentativa de caçar votos e cativar a simpatia do americano médio e por isso mais moderado.

Trump já abriu de resto as hostilidades, quando acusou Bill Clinton de ser um violador e Hillary Clinton de ter sido uma ajuda preciosa no encobrimento dos abusos sexuais do marido tendo mesmo ajudado a silenciar as vítimas. É um discurso radical, insultuoso, difamatório e calunioso que não é suportado por nenhum facto concreto a não ser o polémico caso de Mónica Lewinski ainda hoje não totalmente esclarecido.

Trump é o homem que ataca imigrantes e muçulmanos como se todos fossem perniciosos para a sociedade e terroristas, que menoriza as mulheres com piadas de mau gosto ao nível dos piropos do andaime.

É com isto que vamos viver nos próximos tempos, com um pateta radical a vomitar insultos e calúnias contra a primeira mulher a ser nomeada para a corrida à Casa Branca. É também uma forma de Trump se esquivar a falar de coisas de que pouco conhece e onde teria uma clara desvantagem para Hillary no debate, como são os casos dos grandes dossiês da política externa americana onde não se lhe conhece uma ideia estruturada ou uma opinião fundamentada. É o rei das declarações polémicas mas básicas e primárias, sem que se note qualquer existência de inteligência ou de cultura geral.

Infelizmente a América já assistiu a coisas feias deste género mas não desta amplitude. Thomas Jefferson acusou John Adams de ser "hermafrodita" e Stephen Douglas chamou bêbado a Abraham Lincoln. São apenas dois dos casos mais graves mas que não indicavam um padrão preocupante.

Outros casos graves se vão seguir pela voz de Trump que encontrou no modelo dos Reality Shows uma forma de fazer política. Vem aí uma campanha suja e espero que venha a dar uma vitória limpa para o lado certo. Ou pelo menos para o lado menos mau. Porque Trump não ameaça apenas a estabilidade da nação mais poderosa do mundo, ameaça a estabilidade mundial.

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