Memória, Auschwitz e os mur(r)os de Trump

Haja memória, pelos nossos filhos. Pela nossa sanidade mental, apelo à memória, neste 28 de janeiro, que as Nações Unidas instituíram como “Dia da Libertação de Auschwitz”, uma data para recordar milhões de vítimas do Holocausto. 72 anos depois, do outro lado do mundo desses mundos de horror de Auschwitz, Birkenau, Dachau, há um homem, com letra pequena, muito pequenina, que sonha com outros extermínios: da liberdade, da democracia, da dignidade, do respeito pelo outro. E o pior está para vir porque infelizmente, muitos, em silêncio, aplaudem as primeiras medidas de Mr. President.

A construção de um muro entre os EUA e o México é, acima de tudo, uma humilhação e uma falta de respeito para com os mexicanos, mas também para todos os seres humanos que defendem o direito à liberdade e à dignidade do seu semelhante. 


Deixemo-nos de pruridos. Existem muitos muros por este nosso mundo fora. A 675 km, seis horas de carro, de Madrid, está um, o de Melilla. Os muros de Calais ou da Turquia, junto à Síria, não são mais do que murros no estômago num mundo que se diz global e globalizado, numa Europa que se diz solidária e fraterna, numa humanidade que é tudo menos Humana. 

A indignação que percorre as ruas das principais cidades dos EUA, ganha força porque é alimentada por aqueles que se sentem ameaçados, que poderão sofrer na pele o apetite xenófobo, racista do novo Presidente norte-americano. Se não estivessem na mira do excêntrico Donald Trump, a revisão do ObamaCare, o fim das preocupações e medidas contra as alterações climáticas ou o muro no México passariam, lamentavelmente, com pezinhos de lã, sobre a consciência de uma Humanidade demasiado preocupada consigo própria. 

A mesma Humanidade que fecha os olhos a Melilla e aos milhares de mortos nas águas do Mediterrâneo; às barreiras de Calais e da Turquia; às crianças que sucumbem ao frio, à fome e ao desespero nos campos de refugiados; que vira o olhar, porque assim é mais fácil adormecer quando se cai na cama. Há exceções, sim há, mas não são a maioria. Trump não ganhou por magia. O Brexit não venceu por engano. Marine Le Pen diz que “a Europa vai despertar em 2017”. Temo que tenha razão.

Não aprecio as comparações entre Trump e Hitler. Julgo que a História fará o seu papel e as devidas comparações, sendo que cada figura é única, de acordo com a época, contexto, em que está inserida. Contudo, tal como Adolf Hitler definiu os grupo indesejados a exterminar, Trump também já os sublinhou.

Desta vez, não vão estar fechados em campos desconhecidos ou inacessíveis. A História está a acontecer debaixo dos nossos olhos e, desta vez, todos, sem exceção, seremos responsáveis por ela.

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