O doce virtual e a dura realidade

Nestas manhãs, ainda com sol, duas horas e tal são reservadas para uma pedalada ao longo da costa. Dia sem bicicleta será certamente mais difícil e sou daqueles que precisa de estar bem com o físico para conseguir pensar.

Ontem rumei a sul, atravessando Espinho junto ao mar, para depois entrar na mata em Esmoriz. A ciclovia tem subidas e descidas suaves, uma bela paisagem e é um local perfeito para deixar umas calorias e ganhar ritmo para mais um desafio. 


A meio da viagem cruzo-me quase sempre com duas mulheres sentadas à beira da estrada, esperando por alguém que esteja disposto a pagar por alguns momentos de prazer. Uma delas lê revistas cor-de-rosa, mas a outra dedilha um tablet e olha para quem passa com um rosto bem marcado pela vergonha de estar ali, naquele papel.

Fiquei a pensar que estará ela a colocar no Facebook? Terá fotos de belas praias e viagens para traçar uma outra realidade que a embale nos sonhos para longe daquele local onde tem que vender o corpo? Será ela imensamente feliz nesse perfil onde os amigos virtuais a imaginam cheia de sorrisos, deliciada com uma vida de sonho?

Naquela paisagem, num sítio onde nos perdemos ao ritmo do pedal de uma simples bicicleta, aquela mulher espera pelo próximo cliente, da mais velha profissão do mundo, de olhos tristes colados numa janela para uma outra ilusão, onde tudo deve ser bem mais fácil.

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