Uma missão (quase) impossível

Os Comandos portugueses estão em ação na força das Nações Unidas que tenta devolver a paz à República Centro-Africana. Este país, onde o Estado não controla sequer a débil capital, tem fronteiras completamente permeáveis a realidades que nos devem preocupar. O crescimento de movimentos militares nesta zona de África que vivem das imensas riquezas de estados onde as pessoas sobrevivem em condições verdadeiramente dramáticas.

A França administrou esta zona, que depois consentiu que se tornasse um país de um déspota, que apenas viveu como imperador. Jean Bédel-Bokassa foi o homem escolhido pelo ocidente, pela França, para travar os avanços da Rússia e de Cuba nestas paragens, durante os anos da guerra fria. 


Bokassa, com uma vida faustosa e viagens de luxo pelo mundo, não investiu um só franco no desenvolvimento. A França acabou por lhe retirar o apoio e o “império” mergulhou no caos. Para ter uma ideia, a Republica Centro Africana é mais de seis vezes maior do que Portugal e tem apenas 450 quilómetros de estradas semi-alcatroadas.  

Bangui não tem luz em grande parte das casas, nem água, e a rede de esgotos ou recolha de lixo são coisas de outras realidades bem longe desta. São cerca de cinco milhões de almas que vivem aqui, com mais de novecentos mil deslocados. 

Não há um partido com dimensão nacional, nem nenhuma liderança que seja segura. A própria guarda presidencial é feita por militares da ONU. A polícia tem um papel residual e o exército foi desarmado para se travar a constante onda de golpes de estado. A ONU tem aqui um papel decisivo, com os portugueses a serem a tropa mais musculada, que já travou a conquista pelos rebeldes da segunda cidade do país, Bambari. 

Mas a solução não será militar, porque nenhum destes grupos tem sequer a identidade suficiente para assumir um desses passos. A ONU terá que fazer nascer aqui uma democracia, num processo onde já se envolveu o Secretário-geral, António Guterres. 

É um desafio tremendo, que só poderá ser alcançado com muito trabalho e negociação com as mil e uma lideranças locais. Os Comandos portugueses têm já um papel relevante, ganhando o respeito dos senhores da guerra que menos se têm atrevido a desafiar a autoridade da força internacional. 

Até à solução política, será a força mostrada pela ONU e pelos Comandos a ter que segurar uma situação tremendamente volátil e com fortes possibilidades de acabar mal.

É aqui que a RTP está agora, mostrando os dias de um país que colapsou e que tenta renascer com a ajuda de muitos, incluindo Portugal.

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