Não será uma novidade, mas às vezes parece necessário dizê-lo: não há coisas que nos façam gente melhor ou pior. Não é assim tão fácil, lamento. É verdade que o fato nos pode melhorar o ar, mas de facto não nos melhora a alma.

O smartphone pode dar-nos um certo estilo, mas é errado pensar que nos fará mais espertos. O veículo em que andamos pode evidenciar-nos… mas é evidente que não nos atribui créditos em civismo.

Ou seja, o meu estado cívico não melhora ou piora caso eu ande de carro, mota ou bicicleta. O meu estilo mais ou menos selvagem ou competitivo, mais ou menos respeitador, complacente ou displicente, revelar-se-á em toda a sua grandeza ou pequenez, independentemente dos cavalos potência que eu comprar ou debitar com as próprias pernas… Sou o mesmo na minha bicicleta ou no meu carro, não me define melhor ou pior qual o suporte que escolhi, esta manhã, quando saí da garagem.

Dito isto – por mais que doa – a imutável Lei da Física é que explica que tem mais consequências para os outros quando eu cometo um erro sentado num carro que num selim. Mas o problema de base é o mesmo: Civismo. Educação. Sentido de cidadania.

Do mesmo modo que o veículo não nos dá créditos neste capítulo, a lei também nada pode contra as enfermidades do Eu. Foi por isso que as leis nunca mudaram o destino do combate viário entre automobilistas e motociclistas. É por isso que ter agora uma legislação que confere aos ciclistas o direito a existir no asfalto não lhes traz mais segurança. Acreditar cegamente no oposto pode até definir mais finais trágicos, por mais que pareça agora defendido um bom princípio. 

Aconselho-vos portanto mais prudência que nunca. Morrer dói o mesmo, esteja a Lei do lado que estiver. Enquanto, nos nossos actos, teimarmos em fazer vingar a lei do mais forte.

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