E Trump tropeçou. Em si mesmo. Ele que sempre quis ser o que foi, genuíno, autêntico, numa mistura clara entre o arrivista e o carroceiro, foi apanhado por Trump, ele próprio. Foi sexo a mais na campanha...
O sucesso de Donald ao longo de muitos meses deveu-se a ele próprio, ao seu estilo de comunicação, à avidez informativa (sempre à procura da novidade, da pequena frase assassina, do pequeno escândalo, tudo aquilo que dá mais audiências e vendas), mas também, e não é um pormenor, ao cansaço de muitos norte-americanos com o sistema político e as suas elites.
No glossário do candidato houve sempre argumentos da cintura para baixo. Desde o "sound bite" insultando uma religião aos propósitos indecorosos sobre um grupo étnico.
Mas nada em Trump soa mais genuíno do que quando ele fala de sexo. Para gáudio daqueles que o apoiam (ele é um dos deles, o seu campeão). Chegou a fazer a alusão entre o tamanho das suas mãos e o do seu pénis; referiu a sua mulher como sendo uma brasa por comparação com a de outro candidato à então investidura republicana. O bom-gosto não é o seu forte, refira-se.
Só que um homem é também o seu passado, e alguns propósitos pouco cavalheirescos de Trump sobre as mulheres começaram a regressar à atualidade. Recorda-se agora que ele referiu há anos a então filha adolescente como sendo tão brasa que ele, se não fosse o pai, se atiraria a ela. Depois vão surgindo mais elementos de uma mente misógina, onde elas, as mulheres, podem ser mais vistas como uma espécie de mercadoria do que como... mulheres. Durante anos ele foi o organizador do concurso de "miss América". Hoje, algumas concorrentes resolveram contar como se comportava com elas o empreiteiro milionário. Não se pode dizer que fosse de forma muito respeitável. Pelo contrário.
A última pérola foi essa gravação antiga onde ele dá sinais das suas qualidades de sedutor, da sua falta de educação e daquilo que pensa das mulheres. O episódio é de muito mau gosto. Mas numa sociedade onde o escândalo tem asas - e Trump soube usá-los bem a seu favor - o assunto tornou-se "O" assunto. Na América conservadora e puritana, essa que é também a América republicana, foi uma espécie de clímax. Uma série de figuras de proa do partido estão agora a retirar-lhe apoio. Já para não falar no eleitorado feminino, que as sondagens indicam estar cada vez mais longe de Trump. Ele já disse que não vai desistir.