Apenas três países da UE vacinaram mais de 75% da população. ECDC alerta para aumento de casos no outono

por Mariana Ribeiro Soares - RTP
Leonhard Foeger - Reuters

Apenas três países da União Europeia vacinaram mais de 75 por cento da população contra a Covid-19 e Portugal está no segundo lugar do pódio, segundo dados do Centro Europeu de Prevenção e Controlo das Doenças (ECDC). O ECDC alerta que os países com baixa cobertura vacinal correm o risco de um ressurgimento da Covid-19 no outono.

Segundo o relatório do ECDC, apenas 61 por cento da população europeia está totalmente vacinada. Portugal, Malta e Islândia são os únicos três países que já vacinaram mais de 75 por cento da população contra a Covid-19.

À data de 19 de setembro, Portugal tinha 78,1 por cento da população vacinada, sendo apenas ultrapassado por Malta, com 79,4 por cento.

Isto significa que existem "grandes proporções da população da UE/EEE ainda suscetíveis à infeção" e o ECDC alerta que os países com uma baixa cobertura vacinal que estão a planear um alívio das restrições correm o risco de sofrer um “aumento significativo” de casos, hospitalizações e mortes por Covid-19 nos próximos dois meses.

O centro europeu alerta que o risco de um aumento significativo de casos, mortes e hospitalizações nos próximos dois meses permanece elevado devido à alta circulação do vírus, o que coloca as pessoas vulneráveis, mesmo totalmente vacinadas, em maior risco.

“As previsões mostram que a combinação de uma alta cobertura vacinal e a redução efetiva do contacto é crucial para reduzir o risco de uma sobrecarga nos sistemas de saúde neste outono”
, diz Andrea Ammon, diretora do ECDC.

“Os países devem esforçar-se para aumentar a taxa de vacinação em todas as faixas etárias elegíveis, independentemente dos níveis de cobertura de vacinação atuais, para limitar a carga de infeções pela variante Delta”, adverte Ammon, que sugere a manutenção de algumas restrições até ao final de novembro.
Países com maior cobertura vacinal correm um “menor risco”
Por sua vez, o ECDC explica que os países que têm uma maior cobertura vacinal contra a Covid-19, como Portugal, correm menos risco de ter um pico de casos, internamentos e mortes nos próximos dois meses.
Isto, "a menos que se verifique um declínio rápido da eficácia da vacina devido ao declínio da imunidade", ressalva o centro europeu.

O ECDC prevê ainda, no relatório, um maior número de infeções pelo SARS-CoV-2 entre crianças nos próximos meses. “A adotação de medidas como distanciamento físico que evitam aglomerações, bem como higiene e melhor ventilação, continuarão a ser essenciais para prevenir a transmissão em ambientes escolares”, exorta o centro europeu.

Para a restante população, em particular os mais vulneráveis e profissionais de saúde, o ECDC explica que a vacinação contra a gripe sazonal será “essencial para mitigar o impacto nos indivíduos e nos sistemas de saúde nos próximos meses da potencial circulação dos dois vírus”.
Confiança nas vacinas divide a UE
Se olharmos para a tabela do ECDC da taxa de vacinação em cada país da UE, é possível fazer-se uma clara divisão entre a europa ocidental e europa de leste. Dos 27 Estados-membros do bloco europeu, os 15 países com melhor cobertura vacinal pertencem à europa ocidental, enquanto os dez últimos fazem parte da europa de leste.

A divisão não se resume à escassez de vacinas, mas sim à desconfiança da população relativamente às mesmas. Enquanto na europa ocidental a maioria da população confiou na ciência, na europa de leste luta-se contra uma profunda desconfiança perante as vacinas, alimentada por notícias falsas e teorias de conspiração.

Essa é a realidade em países como a Bulgária e a Roménia, os dois países no fim da lista do ECDC, com menos de um terço da população vacinada.

"Há um elevado nível de desconfiança, e isso vale tanto para a Bulgária quanto para a Roménia. Mesmo entre a comunidade científica, médicos, enfermeiros, muitos estão hesitantes em se vacinar, então não é uma surpresa que a sociedade como um todo também esteja”, disse à CNN Ivan Krastev, cientista político búlgaro e membro fundador do Conselho Europeu de Relações Internacionais (ECFR, na sigla inglesa).

Krastev considera que outro fator explicativo para as disparidades de vacinação consiste na forma como a pandemia se desenrolou nos vários países. “Os países que foram mais atingidos pela primeira vaga, em 2020, quando o choque foi mais forte, como Itália ou Espanha, têm um maior sucesso na vacinação em geral do que os países que foram atingidos pela segunda vaga”, explica.

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