Fumadores podem ter Covid-19 com mais gravidade, reforça a Sociedade Portuguesa de Pneumologia

por RTP

A Sociedade Portuguesa de Pneumologia alertou que "os fumadores podem sofrer condições mais graves" da doença Covid-19. Uma posição reforçada pela Sociedade, depois de notícias sobe um estudo que argumenta que a nicotina pode ter um efeito protetor para a infeção pelo novo coronavírus. A entidade alerta para o perigo da controvérsia causada pela indústria tabaqueira com a divulgação de informação imprecisa e não fundamentada.

Na semana passada, investigadores em França anunciaram que estavam a investigar a hipótese de a nicotina pode ter um efeito protetor contra a Covid-19, uma hipótese apoiada pelo baixo número de fumadores entre os doentes hospitalizados. Um dos investigadores é Jean-Pierre Changeaux, do Instituto Pasteur.

No comunicado da Sociedade Portuguesa de Pneumologia, diz-se que Jean-Pierre Changeaux teve no passado ligação à indústria tabaqueira e que o estudo que leva à defesa da nicotina como agente protetor da Covid-19 tem limitações científicas “que comprometem as conclusões retiradas”. E lembra que "ser fumador e efeito protetor de nicotina são conceitos diferentes".

“A nicotina é uma substância altamente aditiva que causa dependência nos seus utilizadores não existindo qualquer evidência sobre o seu efeito protetor”, defende a Sociedade.
Em Portugal, estima-se que haja dois milhões de fumadores.
A Sociedade Portuguesa de Pneumologia “alerta para o perigo da controvérsia causada pela indústria tabaqueira com a divulgação de informação imprecisa e não fundamentada sobre o efeito protetor da nicotina, e reafirma que os fumadores podem sofrer condições mais graves da doença COVID-19”.

De acordo com o comunicado, essa gravidade prende-se com vários fatores. Primeiro, porque o tabagismo está associado a várias patologias crónicas, como doenças respiratórias, cardiovasculares, diabetes e cancro, e que doentes com estes problemas têm maior risco de doença grave por Covid-19, segundo a Organização Mundial de Saúde e a Direção-Geral da Saúde.

"Além disso, o tabagismo tem um efeito nocivo para o sistema imunitário, tornando os fumadores mais vulneráveis às infeções, incluindo possivelmente o novo coronavírus", alerta o comunicado.

Por outro lado, o contacto mão-boca realizado repetidamente pelo fumador, é uma forma de infeção, tal como a partilha de tabaco e seus produtos.

"Apesar dos estudos serem escassos até à data, já há evidência científica que mostra que os fumadores têm maior risco de progressão para doença grave, maior risco de internamento em Unidade de Cuidados Intensivos com necessidade de ventilação mecânica e maior risco de morte, em comparação com os não fumadores", realça a SPP.

No comunicado, a SPP conclui que a recomendação que deixa é "a cessação tabágica imediata, sendo que esta recomendação abrange igualmente os utilizadores de cigarro eletrónico e tabaco aquecido".

Sobre este tema do impacto do tabagismo na gravidade e mortalidade por COVID-19, a Sociedade Portuguesa de Pneumologia elaborou um documento onde pode ser consultada a bibliografia, revisão teórica que modela as recomendações da sociedade.
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