Investimento pauta visita de José Eduardo dos Santos
O tema das relações económicas e do investimento dominou as primeiras horas da quinta visita do Presidente Angolano a Portugal. José Eduardo dos Santos admitiu que "há muito a fazer" para fomentar o "investimento público e privado entre os dois países" e recebeu do homólogo português o apoio a uma "verdadeira parceria estratégica".
No primeiro dos dois dias da quinta visita oficial a Lisboa, o Presidente de Angola marcou o tom de uma missão dominada pelo primado das relações económicas e comerciais entre os dois países. Combinar as participações de entidades empresariais portuguesas e angolanas em novos projectos de investimento é o desígnio perseguido por Luanda.
Depois de sublinhar a necessidade de "estabelecer um quadro financeiro que permita a expansão do investimento público e privado entre os dois países", José Eduardo dos Santos garantiu que o regime está "muito interessado em defender parcerias que sejam criativas, produzam resultados e sirvam para resolver os problemas" de ambos os povos.
O Chefe de Estado admitiu, no entanto, que os investimentos de Angola em território português são "tímidos, por enquanto", embora a petrolífera Sonangol esteja a ganhar cada vez mais terreno nos negócios entre os dois países.
"Há um vasto leque de oportunidades que Angola oferece. Estaremos sempre abertos para receber pessoal qualificado português, empresários que confiem no Governo de Angola, acreditam no nosso sucesso futuro", assinalou Eduardo dos Santos, para de imediato sustentar que o seu país oferece, hoje, um quadro de "paz e estabilidade".
"Relacionamento maduro"
Na primeira intervenção pública após o encontro com José Eduardo dos Santos, Cavaco Silva tratou de resumir o conceito de relacionamento "maduro" e "adulto" a privilegiar de ora em diante, descrevendo o homólogo angolano como um agente de "estabilidade".
Definitivamente afastado dos discursos oficiais está o passado angolano de guerra civil. A "posição estratégica" de Angola e a "consolidação da democracia", à sombra da hegemonia do MPLA, formam agora os alicerces da "verdadeira parceria estratégica" que Lisboa quer construir.
"Angola vive em paz, em estabilidade. Deu não há muito tempo um passo da maior importância na consolidação da democracia, tal como foi sublinhado pela comunidade internacional", afirmou o Presidente português, numa alusão às legislativas angolanas de Setembro de 2008.
"Podemos olhar para o futuro com confiança e ambição. Para construir um futuro de melhor relacionamento entre os dois países, devemos pensar numa verdadeira parceria estratégica", propugnou Cavaco Silva.
Portugal e Angola, advogou o Presidente da República, "têm um relacionamento maduro, um relacionamento adulto".
José Eduardo dos Santos aproveitou a ocasião para convidar o homólogo português a visitar Angola, pedindo a Cavaco Silva que encoraje a "aproximação cada vez maior entre operadores económicos angolanos e portugueses".
Banco de investimento
A "aproximação cada vez maior" citada pelo Presidente angolano vai ter tradução prática já esta quarta-feira com a assinatura de um memorando para a criação de um novo banco de investimento.
Caixa Geral de Depósitos (CGD) e Sonangol assumem um projecto que terá um capital inicial de mil milhões de dólares. Com sede em Luanda e uma filial em território português, a nova instituição nasce de um protocolo a assinar em São Bento pelo primeiro-ministro José Sócrates e por José Eduardo dos Santos.
O memorando descreve a futura instituição como "um banco universal, com especial enfoque na actividade da banca de investimentos".
"O objectivo é apoiar projectos viáveis, de implementação no curto prazo, promotores do desenvolvimento económico e social de Angola", estabelece o documento.
Guiné-Bissau na agenda
Na sequência da reunião com Cavaco Silva, o Presidente angolano abordou também a situação política na Guiné-Bissau, afirmando que Lisboa e Luanda estão preparadas para "conjugar esforços" no sentido de promover a estabilidade naquele país.
"A situação é muito grave, são precisas iniciativas para que tão rápido quanto possível possam funcionar as instituições democráticas", frisou José Eduardo dos Santos, que voltou a defender a necessidade de pôr em marcha um inquérito destinado a apurar responsabilidades nos assassínios do Presidente Nino Vieira e do Chefe do Estado-Maior General das Forças Armadas, Tagmé Na Waié.
A investigação, defendeu o Presidente de Angola, deve ter "acompanhamento da comunidade internacional", de forma a que "todos os actores políticos possam sentir-se seguros e contribuir para o processo de estabilização e desenvolvimento e consolidação da democracia".
Encontro com deputados sem o Bloco de Esquerda
Cerca das 16h00, Eduardo dos Santos rumou a São Bento, onde foi recebido pelo presidente da Assembleia da República, Jaime Gama. Todos os partidos com assento parlamentar foram convidados para o encontro com o Presidente de Angola. Apenas o Bloco de Esquerda decidiu ficar à margem, alegando "divergências com o Governo angolano".
Em declarações citadas pela agência Lusa, o deputado Fernando Rosas afirmou mesmo que José Eduardo dos Santos "não é bem-vindo a Portugal". O Chefe de Estado angolano, sustentou o historiador, encabeça "um regime oligárquico, assente na corrupção e com chocantes desigualdades sociais".
"O Estado português deve ter relações com Angola, mas não pode desconhecer o que se passa neste país, nem muito menos aproveitar-se dele, assumindo uma visão exclusivamente pragmática com ausência de valores", concluiu Fernando Rosas.