Pedrógão Grande: PSD insiste na publicação da lista de vítimas mortais

por Andreia Martins - RTP
Rafael Marchante - Reuters

O líder parlamentar do PSD, Hugo Soares, acusa o Governo de "escapar às suas obrigações" e questiona se a lista nominal de mortes está efetivamente sob segredo de justiça. Ana Catarina Mendes, secretária-geral adjunta do PS, exige a apresentação provas que sustentem insinuações e aponta o dedo à oposição por "aproveitamento político" da tragédia.

Vinte e quatro horas depois do ultimato, o PSD insiste nas exigências. Hugo Soares, líder parlamentar do partido, voltou a instar o Governo para a publicação da lista nominal de vítimas na sequência do incêndio de Pedrógão Grande.

O líder parlamentar sublinhou esta terça-feira no Parlamento que a publicação da lista de vítimas mortais do incêndio de Pedrógão Grande "é da responsabilidade do Governo", uma vez que este tutela os serviços da Administração Interna.

Na segunda-feira, o mesmo responsável exigia ao Governo que a lista de vítimas mortais fosse publicada num prazo máximo de 24 horas. "Para acabar de vez com toda e qualquer especulação", sublinhou Hugo Soares.

"Hoje, mais de um mês depois da tragédia de Pedrógão Grande, não somos capazes de dizer com clareza quantas pessoas perderam a vida naquela tragédia, e isso tem implicações graves", reiterou.

Hugo Soares considera que a situação "não é digna de um Estado de Direito democrático" e fala mesmo de uma questão "no domínio do surreal".

"O país não pode ter um chefe de Governo que se demite das suas obrigações e não pode ter um primeiro-ministro que demite o Governo das suas funções últimas", sublinhou o líder parlamentar, acusando ainda António Costa de estar a "sacudir da água do capote".
Segredo de justiça?
Hugo Soares questionou na mesma declaração que a lista nominal de vítimas mortais esteja efetivamente em segredo de justiça e sublinha que, caso esteja, o Executivo tem poderá pedir a alteração da situação. 

"O PSD não sabe se a lista está em segredo de justiça. Se estiver, tem de ser dada uma explicação de por que é que está. Agora, deixe-me dizer, o Governo pode pedir o levantamento desse segredo. Compete ao Governo exercer as suas funções", afirmou. Na sequência deste requerimento do PSD, Ferro Rodrigues convocou uma conferência de líderes parlamentares para quarta-feira, às 16h00.

Para o líder parlamentar, a publicação da lista “é essencial” e por isso o PSD irá requerer esta terça-feira uma reunião de caráter de urgência da comissão permanente da Assembleia da República, para que a matéria seja debatida.

“Os mortos de Pedrógão Grande não são estatística, são pessoas a quem o Estado falhou”, frisou o líder parlamentar do PSD.

Outra exigência do PSD prende-se com a divulgação dos critérios para a elaboração da lista de vítimas mortais. “O PSD não aceita que haja critérios subjetivos, que afastem ou coloquem pessoas na lista”, sublinhou.

Em causa as notícias recentes que dão conta de pelo menos uma morte por atropelamento na sequência do incêndio de 17 de junho, onde morreram 64 pessoas, um número que o Governo mantém apesar das informações contraditórias que têm chegado à imprensa nos últimos dias.
PS exige apresentação de "provas"
A resposta do Partido Socialista a Hugo Soares. Minutos depois das declarações do líder parlamentar do PSD, a secretária-geral ajunta do PS acusava a oposição de populismo e de usarem a tragédia de Pedrógão Grande numa “desesperada tentativa de conquistar votos ou de fazer aproveitamento político”.

Numa declaração aos jornalistas a partir do Largo do Rato, na sede do PS, a representante do partido considerou que a insinuação de que o Governo estará a esconder o verdadeiro número de vítimas deve ser completada com a apresentação de provas “pública e rapidamente” pelo PSD e CDS-PP.

"Caso contrário, não é admissível dar azo à especulação e à insegurança, que é afinal o único objetivo de toda esta lamentável encenação pública. Não vale tudo, não pode valer tudo, em política", reiterou a responsável do PS.

A responsável garantiu também que a Justiça "está a fazer o seu trabalho" e que agora "é tempo de deixar trabalhar as autoridades competentes".

Ana Catarina Mendes denota ainda “surrealismo” na atuação do PSD, ao fazer um ultimato a um Governo “para que violasse o segredo de justiça”, ou seja, exigindo a publicação da lista nominal de vítimas mortais. "Esta tragédia não pode ser palco para querelas político-partidárias", sublinhou.

Já esta terça-feira, a líder do CDS-PP, Assunção Cristas não excluiu a hipótese de votar uma moção de censura ao Governo devido à polémica da lista de vítimas de Pedrógão Grande.
"Instrumentalização" das vítimas
Também em reação às mais recentes declarações do líder parlamentar do PSD, Catarina Martins, do Bloco de Esquerda, considerou esta terça-feira que a atitude dos partidos da oposição é "lamentável".

A coordenadora do BE sublinho também que as reuniões da comissão permanente da Assembleia da República são frequentes no verão e costumam servir ao acompanhamento de situações de incêndios, mas que o PSD deverá saber o que pretende com este pedido urgente de reunião, a ser entregue ainda esta tarde ao presidente da Assembleia da República.

Catarina Martins avisa, no entanto, que não irá compactuar com lutas partidárias no âmbito desta discussão e que não pretende "instrumentalizar" as vítimas dos incêndios.

Também o PCP não deixou de reagir às afirmações de Hugo Soares. António Filipe, deputado pelos comunistas, estranha o momento que o PSD escolheu para exigir uma reunião de emergência da comissão permanente, uma vez que irá realizar-se já na próxima quinta-feira uma reunião com a ministra da Administração Interna, onde poderão ser exigidas explicações.

"Não se compreende que o PSD já esteja a querer exigir a convocação de uma comissão permanente", referiu o deputado.

Em linha com as palavras de PS e BE, António Filipe acusa os sociais-democratas de fazerem uso das vítimas de Pedrógão "para fazer chicana política". "O PSD está a usar lamentavelmente a questão das vítimas e do número de vítimas", acrescentou.

O deputado comunista ressalvou que "é legítimo pretender obter esclarecimentos cabais acerca de tudo o que rodeou o incêndio de Pedrógão Grande", mas que já está em curso na Assembleia da República "um processo precisamente de obtenção de esclarecimentos".
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