Plano de Vacinação será mais rápido e conta com a vacina da Janssen

por Inês Moreira Santos - RTP
Rodrigo Antunes - Lusa

Quase 120 dias depois de se ter iniciado o processo de vacinação em Portugal, começa uma nova fase "com maior disponibilidade de vacinas". Num balanço sobre o Plano de Vacinação contra a Covid-19, o Ministério da Saúde e a Direção-Geral da Saúde anunciaram que a vacina da Johnson & Johnson "é segura" e vai ser utilizada em Portugal. A Task Force assumiu que pretende ainda acelerar o processo até 100 mil inoculações por dia.

Começando por afirmar que, nesta altura, é importante não só fazer um balanço do processo de vacinação como abordar os próximos passos, Marta Temido anunciou que estão a ser preparadas alterações ao Plano de Vacinação contra a Covid-19.

Segundo ministra da Saúde foram entregues no país, até agora, 2,9 milhões de doses de vacinas das "companhias farmacêuticas que têm vacinas aprovadas pela Agência Europeia do Medicamento", acrescentando que foram já administradas cerca de 2,7 milhões de doses em Portugal.

Isto significa que cerca de dois milhões de pessoas já foram vacinadas com, pelo menos, uma dose de uma vacina no nosso país, ou seja 20 por cento da população portuguesa "possui já algum grau de imunidade". Além disso, cerca de 690 mil pessoas já tomaram a segunda dose de uma vacina contra o coronavírus.

Mas a novidade é a aprovação do uso da vacina da Janssen no processo de vacinação.

"A esses 2,9 milhões acrescentam-se cerca de 31.200 doses da vacina da Janssen", declarou.

Outra boa notícia, frisou a ministra, é que do universo de população já vacinada com, pelo menos, uma dose, a faixa etária acima dos 80 anos é o grupo com maior percentagem de pessoas vacinadas.

Segundo a ministra, cerca de 91 por cento das pessoas deste grupo já tomaram a primeira dose de uma vacina e cerca de 58 por cento já foi inoculada com as duas doses.

Nesta nova fase do processo de vacinação, prevê-se ainda que as pessoas com mais de 60 anos sejam vacinadas até ao final de maio, uma vez que depois de uma fase de escassez, Portugal vai entrar numa fase de "maior disponibilidade de vacinas".

"Em termos de balanço, estimamos que (…) até ao final de maio, ou mesmo até à terceira semana de maio, todas as pessoas com mais e 60 anos estejam vacinadas com pelo menos uma dose de vacina contra a Covid-19", declarou ainda Marta Temido.

"Vamos agora entrar numa fase de maior disponibilidade de vacinas", continuou. "O principal desafio que agora se nos depara é o da solidez, o da celeridade do processo de administração de vacinas".

Por isso, "será determinante para o seu sucesso o processo de agendamento, (…) e a capacidade dos centros de vacinação realizarem aquilo que é a função para a qual tem de estar preparados".

A ministra da Saúde anunciou ainda que o portal para o auto-agendamento da vacinação contra a covid-19 estará a funcionar na próxima semana.

"Pensávamos que [o portal] pudesse estar já a funcionar, mas houve necessidade de readaptar a agenda de trabalho em função do que foi a alocação de recurso ao processo de vacinação em massa de docentes e não docentes", afirmou, lembrando que o portal do Serviço Nacional de Saúde, no espaço para a vacinação covid-19, "tem vindo a progredir", permitindo o uso de um simulador para os utentes verificarem se estão na lista das inscrições para cada uma das fases de vacinação.

Além disso, permite ainda a quem é seguido no setor privado inscrever-se para vacinação, através do médico que o segue.
Plano de Vacinação adaptado para "vacinação rápida"
Abordando as próximas etapas do Plano de Vacinação, Graça Freitas começou por corroborar o anúncio da ministra e afirmou que entramos "agora na fase da abundância".

"O sistema está a permitir o fornecimento de vacinas em quantidade muito maior do que aquela que existia (…) e isso permite-nos alterar o Plano de Vacinação".

Segundo a diretora-geral da Saúde, um dos primeiros objetivos destas alterações no processo é a "vacinação rápida por faixas etárias decrescentes".

"Neste momento, estamos a iniciar a vacinação dos 70 aos 79 anos", afirmou a diretora-geral. "Esta faixa etária é muito importante não só pela idade, mas também porque muitas das patologias das doenças associadas a um pior prognóstico de Covid-19 também estão nesta faixa etária".

Outra das alterações do Plano é a prioridade de vacinação de pessoas com determinadas doenças, independentemente da sua faixa etária.

Recordando que há doenças de risco que não são características de apenas uma faixa etária, Graça Freitas esclareceu que o Plano de Vacinação vai sofrer alterações de forma a priorizar, de igual forma, pessoas de determinada faixa etária e pessoas com determinadas doenças consideradas de risco.

"São pessoas com doença oncológica ativa", explicou, referindo-se a pessoas a realizar tratamentos. São também pessoas "em situação de transplantação", pessoas "com imunossupressão", pessoas com doenças neurológicas, pessoas com doença mental grave, pessoas com casos graves de obesidade e diabéticos.
Mais de 100 mil vacinas por dia

Começando por dizer que o Plano de Vacinação está numa fase de transição, Henrique de Gouveia e Melo afirmou que se pode agora "acelerar a vacinação" em Portugal.

"O Plano está a adaptar-se em função da realidade", acrescentando que a Task Force está a preparar-se para "vacinar a população portuguesa a um ritmo muito elevado", superior a 100 mil vacinas por dia.

"Toda a nossa preparação indica que vamos ter sucesso nesse desígnio que ter a vacinação muito rápida a partir de agora", disse o coordenador da Task Force.

Também na conferência de imprensa, o presidente do Infarmed, corroborando com as informações anunciadas pelo Governo e a DGS, anunciou que estão em fase final de avaliação mais duas vacinas para uso na União Europeia, e em Portugal: a CureVac e a Novavax.

Além disso, Rui Ivo afirmou que o Infarmed continua a avaliar os níveis de riscos da vacinação com a vacina da AstraZeneca e a formação de coágulos.

"Esta semana iremos ter uma análise mais detalhada sobre os dados da vacina da AstraZeneca que, no fundo, nos ajudem a perceber ainda em mais detalhe a utilização nas diferentes faixas etárias".
Vacina da Johnson & Johnson usada sem restrição
Da mesma forma, a vacina da Janssen está a ser avaliada detalhadamente pela Agência Europeia do Medicamento, para poder posteriormente ser aprovada na UE.

Comparando a vacina da Johnson & Johnson com a da AstraZeneca, o presidente do Infarmed garante que o "benefício continua a superar o risco".

Ainda sobre a vacina da Janssen, a ministra da Saúde disse que não há qualquer restrição à utilização e que as autoridades nacionais seguirão as recomendações da Agência Europeia de Medicamentos e vão aguardar a análise da comissão técnica de vacinação.

"O Plano de vacinação é focado nos mais de 70 anos. Neste momento não há qualquer restrição desta vacina neste grupo etário"
, disse Marta Temido em conferência de imprensa.

Em resposta aos jornalistas, a ministra disse que "a comissão técnica de vacinação contra a covid-19 está ainda a analisar e a rever as decisões da EMA para verificar se há ajustamentos a fazer na aplicação da vacina" em Portugal.

Marta Temido insiste que a EMA voltou a dizer que apesar das reações conhecidas, a relação risco-beneficio é vantajosa, acrescentando que os oito casos raros aconteceram nos Estados Unidos maioritariamente em mulheres com menos de 60 anos.

A ministra adiantou que foi pedida uma avaliação mais apurada relativamente aos grupos etários e também para decidir a propósito da segunda toma dos que levaram a primeira dose da Astrazeneca e têm menos de 60 anos. Esta informação pedida pelas autoridades portuguesas deverá ser conhecida até ao final da semana.

"Estamos dependentes destas decisões"
, frisou Marta Temido.
Recuperados há mais de seis meses serão vacinados a partir do fim de maio
Sobre a vacinação de pessoas que recuperaram da infeção da Covid-19, a diretora-geral da Saúde afirmou que quem recuperou da doença há mais de seis meses vai começar a ser vacinado no final de maio, assim que terminar a vacinação das pessoas com mais de 60 anos.

Graça Freitas sublinhou que as pessoas que recuperaram da doença "nunca foram esquecidas", acrescentando que a escassez de vacinas levou as autoridades a tomar a opção de não as vacinar ao início, até porque a infeção confere alguma imunidade.

"Foi uma opção, tendo em conta a escassez de vacinas, não administrar vacinas a pessoas já com alguma imunidade natural [da infeção] quando tínhamos população sem qualquer imunidade", afirmou.

Adiantou ainda que após estarem vacinadas as pessoas com mais de 60 anos, está previsto que sejam vacinados, então, os recuperados que tenham tido a doença há mais de seis meses.
Há "diferença entre vacinar e não vacinar" no número de mortos
Questionado sobre as restrições e os riscos de ocorrência de coágulos após a toma da vacina da Janssen, Gouveia e Melo quis esclarecer que a questão fundamental é "vacinar"

O coordenador da Task Force afirmou que podia ter havido menos mortos na população portuguesa se já tivesse sido aprovada para uso em Portugal.

"Se nós tivéssemos usado a vacina da Jassen, tivéssemos vacinado os sete milhões de pessoas que foram vacinadas nos Estados Unidos, nós teríamos tido, eventualmente, sete mortos", começou por responder Henrique de Gouveia e Melo. "Pelo facto de não termo vacinado a nossa população tivemos, nos últimos 365 dias, mais de 16 mil mortes".

"Esta é a diferença entre vacinar e não vacinar".

Já sobre o lote de vacinas que ficaram inutilizadas na sequência da falha energética que ocorreu na madrugada de hoje no centro de vacinação de Famalicão, o coordenador da Task Force lamentou o sucedido mas afirmou que problemas destes "vão sempre acontecer".

"Fazer um processo com esta dimensão sem um único erro é impossível", afirmou. "O que nós temos de fazer é limitar os erros a máximo, perceber as causas e corrigir essas causas".

No entanto, o coordenador da Task Force disse que o número de vacinas perdidas é muito inferior comparativamente ao número de vacinas inoculadas, o que é significativamente positivo.


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