Plano vacinação. Filipe Froes defende "maior fundamentação" dos grupos prioritários

por RTP
Uma das críticas do médico pneumologista prende-se com o desfasamento que existe entre os números reais e as doses previstas para grupos prioritários. Reuters

O médico pneumologista considera que deve haver uma clarificação quanto aos grupos prioritários que constam no plano de vacinação contra a Covid-19, apresentado na quinta-feira. "Os grupos anunciados são superiores ao número de pessoas que estão previstas para receber a vacina. Tem de haver uma maior fundamentação", aponta.

Para o médico Filipe Froes este plano de vacinação é um teste ao Governo em termos de "organização, planeamento e comunicação", mas também um teste ao Serviço Nacional de Saúde, dada a enorme pressão nos serviços e a situação dos doentes não-Covid, uma vez que os profissionais de saúde foram retirados das atividades normais.

Entrevistado no Bom Dia Portugal da RTP sobre o plano de vacinação, o médico pneumologista considera que o pior cenário possível seria "não existir um plano". No entanto, olhando para o documento apresentado na quinta-feira, considera que o plano delineado define os grupos prioritários de forma incompleta.

"Os grupos prioritários estão definidos mas é preciso operacionalizar e conhecer melhor alguns fundamentos", sublinha.
Um dos aspectos prende-se com o desfasamento que existe entre os números reais e as doses previstas para grupos prioritários. Por exemplo, no grupo prioritário de pessoas com mais de 50 anos que têm insuficiência cardíaca, doença coronária, doença renal ou doença respiratória crónica sob ventilação, prevê-se a vacinação de 400 mil pessoas.

"Aqui é necessário clarificar que se calhar vai ter de se operacionalizar estes critérios porque pessoas só com DPOC (Doença Pulmonar Obstrutiva Crónica) são 800 mil. Nas pessoas com insuficiência cardíaca temos de saber como é que se operacionaliza o conceito de insuficiência cardíaca", exemplifica.

O médico pneumologista considera que "deve haver uma clarificação". "Os grupos anunciados são superiores ao número de pessoas que estão previstas para receber a vacina. Tem de haver uma maior fundamentação", acrescenta.

Filipe Froes considera que há ainda outro aspeto que "necessita de um melhor aprofundamento", e que tem que ver com o facto de se terem usado as comorbilidades dos primeiros 20 mil doentes com Covid-19 em Portugal, registados até 28 de abril, para justificar a primeira fase de vacinação.

"O que sabemos é que neste momento temos 307 mil casos e estamos a fundamentar comorbilidades com base nos primeiros 20 mil doentes até 28 de abril. Valeria a pena ter sido feito um esforço maior de caracterizar até mais tarde", sublinha.

Sobre as dúvidas que têm sido levantadas quanto à segurança das vacinas, Filipe Froes diz ter "total confiança" nas vacinas que forem aprovadas ao nível europeu e nacional.

O médico pneumologista refere que haverá, na sequência da vacina, efeitos adversos como dor local ou febre, mas que "o efeito mais grave é não fazermos a vacina".

"Se não fizermos a vacina esse é o efeito mais grave. Continuarmos à mercê do vírus. É fundamental fazermos a vacina", considerou.
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