Portugal reage sem surpresa à derrota da candidatura do Porto à Agência Europeia do Medicamento

por RTP
Adriano Machado - Reuters

A cidade do Porto não vai receber a Agência Europeia do Medicamento. A candidatura portuguesa caiu logo na primeira de três rondas que coroaram a cidade holandesa de Amesterdão. A derrota é desvalorizada pelos líderes portugueses. O Presidente da República afirma que não ficou surpreendido e que o resultado teria sido o mesmo se Lisboa fosse candidata. Rui Moreira fala de uma “batalha muito difícil” e Costa elogia a candidatura. “Claramente uma das melhores”, classifica.

Para Marcelo Rebelo de Sousa, as hipóteses de o Porto acolher a sede da Agência Europeia do Medicamento sempre foram “muito limitadas”. O Presidente da República considera que o Governo “fez o que podia e devia ter feito no quadro existente, mas sabendo que havia grandes limitações”.

"Mas, fez-se o que se devia fazer. Não deu, não deu. Não é uma desilusão porque também nunca tive expectativas excessivas", sublinhou. O chefe de Estado considera que “havia equilíbrios e que se tornaram mais evidentes pela saída de outras candidaturas que podiam ter feito uma dispersão de votos".

A candidatura do Porto à nova sede da Agência Europeia do Medicamento esteve envolta em polémica, depois de o Governo ter primeiro indicado Lisboa. O Executivo acabou por voltar atrás e propor a Invicta.

Agora que o Porto foi eliminado, Marcelo Rebelo de Sousa diz acreditar que o desfecho não seria outro caso Lisboa tivesse sido a opção portuguesa. "Havia equilíbrios no quadro europeu em relação às várias agências que tornavam muitíssimo difícil à partida, quer para Lisboa quer para o Porto, a vitória”, justifica.

A candidatura do Porto não passou da primeira votação. Nesta primeira ronda, a Invicta ficou em sétimo lugar com dez pontos. As cidades de Copenhaga, Milão e Amesterdão passaram para a segunda ronda.

Copenhaga perdeu nesta segunda votação. Na última ronda, Milão e Amesterdão ficaram empatadas. Um sorteio ditou que a cidade holandesa de Amesterdão vai acolher a futura sede da Agência Europeia do Medicamento (EMA).
Candidatura era "claramente das melhores"
O primeiro-ministro considera que a candidatura do Porto à Agência Europeia do Medicamento era "claramente uma das melhores". Conhecida a derrota da candidatura portuguesa, o chefe do Governo deixou "uma mensagem de parabéns" à cidade e ao presidente da autarquia através do Twitter.
"Deixo ao Rui Moreira e ao Porto uma mensagem de parabéns pela candidatura à EMA, claramente das melhores. O resultado confirma o Porto como uma grande cidade europeia e o seu extraordinário potencial. Continuaremos a trabalhar", lê-se na mensagem publicada na rede social.

Em Bruxelas, o Governo português esteve representado pela secretária de Estado dos Assuntos Europeus. Ana Paula Zacarias considera que Portugal conseguiu um "resultado honroso" que mostra que foi apresentada uma candidatura "equilibrada e sólida".

Era uma "batalha muito difícil"
O presidente da Câmara do Porto assinala que a cidade entrou "na corrida" para acolher a sede da Agência Europeia do Medicamento (EMA) para ganhar, mas sempre soube que era uma "batalha muito difícil".

"Queríamos ganhar e entramos nesta corrida para ganhar. Mas sempre percebemos que a batalha era muito difícil. Apesar de geograficamente periférico, o país mostrou que tinha capacidade e que cumpria todos os critérios e que o Porto podia receber uma agência desta natureza e dimensão", afirma o autarca.

A mobilização nacional pela candidatura à EMA marcou um ciclo "sem precedente", em que o Governo, o corpo diplomático, o setor da saúde e do turismo, a Câmara Municipal do Porto e a sociedade civil se uniram em torno de uma candidatura que afirmou o Porto como uma cidade "ímpar" no contexto europeu, sustenta.

"A convergência entre todas as forças políticas da cidade e a articulação com o Governo que foi incansável na promoção da candidatura de Portugal. Creio que tudo foi feito para ganharmos e que o país saiu valorizado deste processo", realça o autarca.

Felicitando Amesterdão pela vitória, a Câmara do Porto lembra que ficou à frente de cidades como Bruxelas e Lille, terminando em sétimo lugar entre as 19 candidaturas apresentadas pelos 27 estados-membros.

"O facto de o Porto se ter posicionado entre as cidades favoritas para acolher uma das maiores agências europeias fez com que a cidade atingisse níveis de notoriedade, prestígio e reconhecimento nunca antes alcançados. Agora estamos ainda mais na mira dos investidores internacionais, para além de sermos um polo turístico de grande importância, hoje somos uma cidade para investir e para viver como há poucas na Europa", frisa Rui Moreira.

Em Bruxelas, o vereador Ricardo Valente defende que a candidatura da Invicta era "tecnicamente" das mais fortes. Ricardo Valente admite que há pontos fracos devido à localização geográfica, notando que os países melhor classificados encontram-se mais a norte.

Porto perdeu mas conquistou "reputação"

A Associação Comercial do Porto considera que apesar de a cidade não ter sido a escolhida para acolher a Agência Europeia do Medicamento ganhou "imensa reputação e prestígio" e beneficiou de "grande" promoção internacional.

"Neste desafio competimos lado a lado com mais 18 grandes cidades europeias. Foi um trabalho árduo e muito intenso. Mostramos as nossas forças, as nossas características únicas e a nossa capacidade de unir o país pelo êxito comum", entende o presidente da associação, Nuno Botelho, citado num comunicado enviado à Lusa.

Destacando o "intenso" envolvimento da cidade e do país neste processo, o responsável frisou que o Porto mostrou ser uma "cidade única, cosmopolita, equilibrada, enérgica e com muito charme histórico".

Apesar de sair derrotada, a cidade ganhou "posicionamento e reputação" e mais visibilidade e capacidade para captar investimento, disse, acrescentando que o sucesso da candidatura é "inquestionável".

Os ganhos para o Porto e para o país nos próximos tempos serão "imensos", não apenas em termos institucionais e políticos, mas também turísticos e económicos, entendeu. O Porto conquistou a vitória da descentralização, da afirmação, da projeção e do trabalho em rede, realça Nuno Botelho.
Porto “não pode sentir-se diminuído”
Numa reação à derrota da candidatura do Porto à sede da Agência Europeia do Medicamento, o vereador socialista Manuel Pizarro defendeu que a cidade "não pode sentir-se diminuída".

"Eu estava mais contente se a decisão tivesse sido a seleção do Porto para o grupo final de votação, mas ainda assim quero valorizar que é a primeira vez na história que o Porto é apresentado pelo país como uma solução viável para a localização de uma agência internacional", afirmou o vereador da autarquia portuense.

Pizarro sublinha que “as três cidades mais votadas -- Milão, Copenhaga, Amesterdão -- são três grandes cidades europeias” pelo que o Porto "não se pode sentir diminuído por ter ficado atrás de cidades desta dimensão e com este valor histórico".

Para o autarca, "esta campanha pelo Porto, que foi desenvolvida pelo estado português à escala europeia vai deixar uma marca para o futuro" e "de agora em diante nunca mais poderá ser ignorada a possibilidade de instalar uma grande instituição internacional" na cidade.

O socialista considera ainda que a “turbulência” que marcou o início do processo até “beneficiou o país porque se não tivesse sido o Porto o candidato, o resultado teria sido previsivelmente pior.”
Porto com resultado “honroso”
O eurodeputado do PSD Paulo Rangel considera que Portugal teve um resultado "honroso" com a candidatura do Porto à Agência Europeia do Medicamento, cuja experiência deve ser aproveitada para voltar a candidatar esta cidade numa próxima oportunidade.

"O Porto ficou em sétimo lugar o que, em 18 ou 19 candidaturas, é francamente bom. Cumpria todos os critérios técnicos, tinha competidores muito fortes e foi, infelizmente, escolhido à última da hora, se tivesse sido escolhido mais cedo com certeza que teria mais possibilidades", afirmou Paulo Rangel, em declarações à Lusa a partir de Bruxelas.

O eurodeputado foi um dos defensores da candidatura do Porto à sede da EMA, contrariando a posição do Governo em avançar com Lisboa. Agora que é conhecido o resultado, Rangel considera que o que mais desvalorizou a candidatura foi o facto de Lisboa albergar já duas agências. "Mostra que, desde o início, foi um erro crasso do Governo português ter escolhido primeiro Lisboa. Lisboa não tinha hipótese nenhuma", ataca.

Rangel lamenta ainda que o ministro dos Negócios Estrangeiros não tenha participado esta segunda-feira na reunião que elegeu Amesterdão como nova sede da EMA. "Outros países fizeram-se representar, dando peso institucional à candidatura. Não vou ser demagógico e dizer que muda a votação, mas é uma questão de simbolismo", explica Rangel.

Santos Silva integra a comitiva do Governo português na 4.ª Cimeira Luso-Tunisina, que decorre esta segunda e terça-feira em Tunes, liderada pelo primeiro-ministro, António Costa.

c/ Lusa
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