Entrevista à RTP. António Costa convicto de que vai "cumprir a legislatura"

por RTP

Foto: José Coelho - Lusa

António Costa afirmou, em entrevista à RTP, que "a oposição critica o Governo quando este faz e quando este não faz". "É uma oposição que exerce mal o seu papel, mas é a que temos", lamentou, desafiando o líder social-democrata, Luís Montenegro, a apresentar alternativas "concretas" às que têm sido apresentadas pelo Executivo.

O primeiro-ministro considerou ainda "normal" em democracia o "descontentamento social" instalado na sociedade portuguesa.

Garantiu a esse propósito que o aumento intercalar das pensões marcado para junho não é uma "medida eleitoralista", mas a "medida certa no momento certo", decidida "com segurança", tal como a "descida do IRS" que estará igualmente a ser considerada pelo Executivo.A convicção do chefe do Governo é de que irá completar os quatro anos do seu mandato.

 
O primeiro-ministro já afastara durante a tarde de domingo, na festa dos 50 anos do Partido Socialista, um cenário de eleições antecipadas e repetiu a ideia na entrevista à estação pública.

"Comemorámos estes 50 anos com os olhos postos no futuro", afirmou, lembrando que "eleições antecipadas tivemos há um ano e três meses" e que os portugueses "escolheram a estabilidade de quatro anos". O Executivo continua "focado naquilo que foi o objetivo dos portugueses", acrescentou.

Sublinhando que o seu Governo trabalha para "modernizar o país", António Costa referiu também que "agora com a guerra, com a inflação e a crise energética, o mais importante é focar-nos nos problemas reais".
"Portugueses não querem dissolução do Parlamento"
O primeiro-ministro sublinhou também que é preciso "respeitar a vontade dos cidadãos". "Há aqui uma distinção entre aquilo que é o debate da bolha mediática e do incerto do mundo político e o que é a vida do dia a dia dos cidadãos".

"Os portugueses não estão nem aí e manifestamente não querem dissolução nenhuma", afiançou, mantendo que a economia "vai continuar a crescer". "São debates artificiais", desvalorizou.

Já sobre a oposição, o primeiro-ministro afirmou que "o problema dos partidos populistas não é o seu peso eleitoral". Especificamente sobre o Chega, o problema é a forma como este "condiciona e determina a ação política da direita democrática".

António Costa aproveitou o momento para lançar farpas ao principal partido da oposição, algo que faria por diversas vezes durante a entrevista.
"Montenegro não diz que não faz acordo com o Chega"

"O PSD distingue-se pouco do Chega", afirmou o secretário-geral do PS, e "não diz que não faz acordo com o Chega", ao passo que os socialistas nem necessitam afirmar que não fazem acordo com partidos populistas

Também o líder social-democrata, "Luís Montenegro, manteve o equívoco" com o partido de André Ventura, acrescentou.

Por seu lado, António Costa "não se arrepende" das relações com o Partido Comunista e com o Bloco de Esquerda "com quem acordou o que tinha a acordar, sem alterar a sua identidade", durante a chamada geringonça.

"O PSD não se deve deixar confundir com o Chega", aconselhou o líder socialista.
As críticas no dossier da TAP
Sobre um dossier particularmente espinhoso para o Governo e que tem sido instado a comentar publicamente, a TAP, o chefe do Executivo escudou-se no papel institucional que lhe cabe.Sobre a demissão da presidente executiva da TAP, o primeiro-ministro repetiu que o Governo seria criticado se não o fizesse e é criticado por o ter feito.


"O que é importante" disse, é afirmar que "primeiro a TAP é uma empresa estratégica para o país", pedindo ao PSD para dar alternativas
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Segundo, importa "iniciar um processo de privatização da TAP", solicitando aos social-democratas que se posicionem perante esta medida. "O PSD está de acordo com o processo de privatização ou não, quer criar condições para que o processo corra bem ou quer complicar a situação da empresa", questionou.

"O PSD diz mal de tudo, mas o que tem a dizer de concreto, qual é a alternativa efetiva de diferente", questionou o chefe de Governo, "para resolver o problema da inflação, o problema da TAP, o problema da habitação".

O primeiro-ministro não quis também falar sobre o parecer jurídico para a demissão da CEO da TAP, que o Governo deu a entender que existia e que afinal não existe.

"Não vou falar sobre a comissão de inquérito à TAP", afirmou. "Nós respondemos politicamente perante a Assembleia da República", que "fiscaliza" o Governo, acrescentou, lembrando que o Partido Socialista viabilizou a comissão de inquérito para "apurar a verdade doa a quem doer".

Apesar disso "o Governo não deve estar a comentar cada pessoa que é ouvida na comissão de inquérito ou cada documento que é entregue", defendeu. "Esse é um debate que é feito na Assembleia da República".

"Depois, se o Governo tiver de tomar alguma medida, tomará consoante as conclusões a que chegar a comissão", garantiu, considerando "irresponsável interferir nos trabalhos da comissão de inquérito" num novo ataque a Luís Montenegro, a quem acusou de aproveitar as audições para criar "o episódio da semana".

"As comissões de inquérito não são uma arma de arremesso político", afirmou, sob pena de perderem a sua "credibilidade".
PNS mantém capital político
Sobre as polémicas que envolveram Pedro Nuno Santos sobre a TAP, o secretário-geral do PS considerou que o ex-ministro das Infraestruturas permanece um dos "grandes quadros do partido". "É um dado objetivo".

A eventual candidatura de Augusto Santos Silva, atual presidente da Assembleia da República, à Presidência é, por seu lado "prematura". "Há-de chegar o momento para discutir os candidatos".

Por seu lado, afirmou-se confiante de que vai "cumprir a legislatura", "como manda a legislação" e "os portugueses quiseram", recusando discutir se virá a ocupar eventuais cargos internacionais e criar "crises artificiais".
Lula da Silva e a guerra

A visita do presidente Lula da Silva e as polémicas que a rodearam foram consideradas resolvidas pelo chefe do Executivo.

"A declaração conjunta que assinamos é inequívoca", "no que é essencial" referiu, sobre a posição de Portugal e do Brasil quanto à guerra na Ucrânia e à condenação da invasão russa e no respeito pela lei internacional. "Devemos respeitar-nos mutuamente", lembrou.

O primeiro-ministro considerou ainda que Portugal é "uma democracia madura" e que "faz parte da democracia a liberdade sindical", considerando "natural" o "descontentamento social" vigente. "Seria estranho se não houvesse", afirmou.

A festa dos socialistas no Porto foi ensombrada por milhares de manifestantes, da área da educação e do setor do alojamento local, que protestaram contra as políticas do Executivo e a falta de resposta às suas reivindicações.

À chegada ao Pavilhão Rosa Mota, o primeiro-ministro foi interpelado por algumas manifestantes, que ignorou.
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