Figo volta a negar pagamento para apoio a Sócrates
Luís Figo voltou esta quinta-feira a considerar “falsas” as notícias de que teria recebido 750 mil euros para participar na campanha do PS. O antigo futebolista internacional confirma que tem um contrato de publicidade com o Taguspark, mas garante que o vínculo “não tem nada a ver” com o “apoio pessoal” manifestado a José Sócrates nas últimas eleições legislativas.
No início da semana, o gabinete de Rui Pedro Soares, um dos administradores que entraram para a Comissão Executiva da PT com o apoio do Governo, ao abrigo da golden-share do Estado, foi alvo de buscas por parte da Polícia Judiciária. Em causa estariam as suspeitas sobre os contornos de relações financeiras com o Taguspark e o antigo internacional português. As diligências da polícia de investigação criminal ter-se-ão estendido aos gabinetes de Américo Thomati e de João Carlos Silva, administradores do Taguspark.
A notícia do Correio da Manhã foi desmentida quer por Rui Pedro Soares, que decidiu processar o jornal, quer por Luís Figo, que no sábado dizia estar "tranquilo" com a sua "consciência" e lembrava que tem um processo-crime em curso contra o diário. O antigo jogador volta agora a reagir com "um pouco de revolta" às notícias que o apontam como destinatário de contrapartidas para participar num pequeno-almoço com José Sócrates.
"Só posso afirmar que são notícias falsas e que o tempo dirá, realmente, a verdade, que é a única coisa pela qual posso lutar neste momento, já que não posso controlar a comunicação social", declarou esta quinta-feira Luís Figo.
Figo confirma que tem "um contrato pessoal, a nível de imagem, com o Taguspark", à semelhança de "outros contratos de publicidade com outras empresas": "Uma coisa é o meu apoio pessoal, enquanto cidadão, a uma campanha e outra é a minha vertente profissional em que tenho diversos contratos não só com o Taguspark, como sempre tive ao longo dos últimos dez anos. Não sei o porquê de tentarem envolver as duas situações".
Auditoria interna na Portugal Telecom
A Portugal Telecom desencadeou, entretanto, uma auditoria interna para apurar "factos relevantes" relacionados com as escutas do processo Face Oculta. Numa nota citada pela agência Lusa, o presidente, Zeinal Bava, e o presidente executivo da PT, Henrique Granadeiro, indicaram na noite de quarta-feira que, "face às normas aplicáveis na empresa", entenderam "ser de desencadear os mecanismos internos destinados a apurar os factos relevantes e o cumprimento das disposições legais regulamentares e estatutárias aplicáveis". Os responsáveis pediram "à Comissão de Auditoria - que é o órgão estatutariamente competente para o fazer - que, em função do que for apurado, tome as decisões que tenha por adequadas no quadro das suas competências".
Zeinal Bava e Henrique Granadeiro asseguraram, por outro lado, que a renúncia de Rui Pedro Soares não teve por base o negócio frustrado de aquisição de "uma participação relevante na Media Capital" e na TVI. Rui Pedro Soares, afirmaram, "renunciou ao cargo de administrador executivo da empresa para poder preparar a sua defesa sem quaisquer constrangimentos e para que a sua presença nos órgãos sociais da PT não pudesse servir para lesar a imagem e a reputação do grupo PT".
A renúncia do administrador executivo terá sido motivada pelas buscas que uma equipa de magistrados do Departamento de Investigação e Acção Penal de Lisboa e da Polícia Judiciária de Aveiro conduziu no seu gabinete. Na sequência das diligências, terão também sido apreendidos documentos no escritório de Paulo Penedos, assessor de Rui Pedro Soares na Portugal Telecom e arguido no processo Face Oculta.
Em comunicado difundido na quarta-feira, Ricardo Sá Fernandes, advogado de Paulo Penedos, negou que as buscas nas instalações da PT estivessem ligadas ao alegado pagamento de contrapartidas a Luís Figo: "Não faz qualquer espécie de sentido a referência a que tenham sido apreendidos naquele gabinete documentos relativos ao caso, relacionando-os com o doutor Paulo Penedos, porque pura e simplesmente isso não pode ser verdade, já que o doutor Paulo Penedos nunca lá teve ou guardou documentos relacionados com esse assunto".
A renúncia de Rui Pedro Soares foi comunicada à Comissão de Mercado de Valores Mobiliários numa nota de três linhas. Na carta de renúncia, o quadro demissionário de 36 anos reafirma que "nenhum comportamento indevido" lhe "pode ser imputado".
Comissão de Trabalhadores da PT defende saída de Soares Carneiro
A última edição do semanário Sol publicou extractos do despacho em que Marques Vidal, procurador responsável pelo processo Face Oculta, sustenta haver "indícios muito fortes" do envolvimento do Governo socialista, "nomeadamente o primeiro-ministro, num projecto para controlar diferentes órgãos de comunicação social, a somar à TVI. O despacho inclui transcrições de escutas que envolvem Armando Vara, então administrador do BCP e arguido no processo, Paulo Penedos, Rui Pedro Soares, o administrador executivo da PT Fernando Soares Carneiro - também nomeado com o apoio do Governo - e Joaquim Oliveira, patrão da Controlinveste.
Conhecida a renúncia de Rui Pedro Soares, a Comissão de Trabalhadores da Portugal Telecom vem agora defender a demissão de Soares Carneiro, caso o administrador não venha a público para "desmentir as notícias" sobre o seu envolvimento no alegado plano do Governo de José Sócrates.
"Estamos a acompanhar com todo o interesse o que se está a passar sobre o eventual envolvimento de dois administradores da Portugal Telecom no alegado plano para controlar a comunicação social", afirmou o coordenador da estrutura, em declarações à agência Lusa.
Para Francisco Gonçalves, Fernando Soares Carneiro "não tem outra alternativa que não seja apresentar a sua renúncia e, se não o fizer, então devem ser os accionistas que o indicaram para o Conselho de Administração a tomar essa decisão".
"A não serem desmentidas as notícias que vieram na comunicação social, os administradores visados não têm outra alternativa que não seja a renúncia aos seus cargos. Não é só a renúncia que resolve a situação por si, embora seja um passo. Nós achamos que a PT deve dar uma explicação sobre aquilo que se passou", insistiu.