Figo volta a negar pagamento para apoio a Sócrates

Luís Figo voltou esta quinta-feira a considerar “falsas” as notícias de que teria recebido 750 mil euros para participar na campanha do PS. O antigo futebolista internacional confirma que tem um contrato de publicidade com o Taguspark, mas garante que o vínculo “não tem nada a ver” com o “apoio pessoal” manifestado a José Sócrates nas últimas eleições legislativas.

RTP /

Segundo a edição de sábado do Correio da Manhã, Luís Figo teria recebido um pagamento de 750 mil euros da Portugal Telecom depois de definir as condições da sua participação na campanha socialista para as eleições de 27 de Setembro. O jornal adiantou, ainda, que o intermediário da operação terá sido Rui Pedro Soares, cuja renúncia ao cargo de administrador da empresa de telecomunicações foi conhecida na quarta-feira.

No início da semana, o gabinete de Rui Pedro Soares, um dos administradores que entraram para a Comissão Executiva da PT com o apoio do Governo, ao abrigo da golden-share do Estado, foi alvo de buscas por parte da Polícia Judiciária. Em causa estariam as suspeitas sobre os contornos de relações financeiras com o Taguspark e o antigo internacional português. As diligências da polícia de investigação criminal ter-se-ão estendido aos gabinetes de Américo Thomati e de João Carlos Silva, administradores do Taguspark.

A notícia do Correio da Manhã foi desmentida quer por Rui Pedro Soares, que decidiu processar o jornal, quer por Luís Figo, que no sábado dizia estar "tranquilo" com a sua "consciência" e lembrava que tem um processo-crime em curso contra o diário. O antigo jogador volta agora a reagir com "um pouco de revolta" às notícias que o apontam como destinatário de contrapartidas para participar num pequeno-almoço com José Sócrates.

"Só posso afirmar que são notícias falsas e que o tempo dirá, realmente, a verdade, que é a única coisa pela qual posso lutar neste momento, já que não posso controlar a comunicação social", declarou esta quinta-feira Luís Figo.

Figo confirma que tem "um contrato pessoal, a nível de imagem, com o Taguspark", à semelhança de "outros contratos de publicidade com outras empresas": "Uma coisa é o meu apoio pessoal, enquanto cidadão, a uma campanha e outra é a minha vertente profissional em que tenho diversos contratos não só com o Taguspark, como sempre tive ao longo dos últimos dez anos. Não sei o porquê de tentarem envolver as duas situações".

Auditoria interna na Portugal Telecom

A Portugal Telecom desencadeou, entretanto, uma auditoria interna para apurar "factos relevantes" relacionados com as escutas do processo Face Oculta. Numa nota citada pela agência Lusa, o presidente, Zeinal Bava, e o presidente executivo da PT, Henrique Granadeiro, indicaram na noite de quarta-feira que, "face às normas aplicáveis na empresa", entenderam "ser de desencadear os mecanismos internos destinados a apurar os factos relevantes e o cumprimento das disposições legais regulamentares e estatutárias aplicáveis". Os responsáveis pediram "à Comissão de Auditoria - que é o órgão estatutariamente competente para o fazer - que, em função do que for apurado, tome as decisões que tenha por adequadas no quadro das suas competências".

Zeinal Bava e Henrique Granadeiro asseguraram, por outro lado, que a renúncia de Rui Pedro Soares não teve por base o negócio frustrado de aquisição de "uma participação relevante na Media Capital" e na TVI. Rui Pedro Soares, afirmaram, "renunciou ao cargo de administrador executivo da empresa para poder preparar a sua defesa sem quaisquer constrangimentos e para que a sua presença nos órgãos sociais da PT não pudesse servir para lesar a imagem e a reputação do grupo PT".

A renúncia do administrador executivo terá sido motivada pelas buscas que uma equipa de magistrados do Departamento de Investigação e Acção Penal de Lisboa e da Polícia Judiciária de Aveiro conduziu no seu gabinete. Na sequência das diligências, terão também sido apreendidos documentos no escritório de Paulo Penedos, assessor de Rui Pedro Soares na Portugal Telecom e arguido no processo Face Oculta.

Em comunicado difundido na quarta-feira, Ricardo Sá Fernandes, advogado de Paulo Penedos, negou que as buscas nas instalações da PT estivessem ligadas ao alegado pagamento de contrapartidas a Luís Figo: "Não faz qualquer espécie de sentido a referência a que tenham sido apreendidos naquele gabinete documentos relativos ao caso, relacionando-os com o doutor Paulo Penedos, porque pura e simplesmente isso não pode ser verdade, já que o doutor Paulo Penedos nunca lá teve ou guardou documentos relacionados com esse assunto".

A renúncia de Rui Pedro Soares foi comunicada à Comissão de Mercado de Valores Mobiliários numa nota de três linhas. Na carta de renúncia, o quadro demissionário de 36 anos reafirma que "nenhum comportamento indevido" lhe "pode ser imputado".

Comissão de Trabalhadores da PT defende saída de Soares Carneiro

A última edição do semanário Sol publicou extractos do despacho em que Marques Vidal, procurador responsável pelo processo Face Oculta, sustenta haver "indícios muito fortes" do envolvimento do Governo socialista, "nomeadamente o primeiro-ministro, num projecto para controlar diferentes órgãos de comunicação social, a somar à TVI. O despacho inclui transcrições de escutas que envolvem Armando Vara, então administrador do BCP e arguido no processo, Paulo Penedos, Rui Pedro Soares, o administrador executivo da PT Fernando Soares Carneiro - também nomeado com o apoio do Governo - e Joaquim Oliveira, patrão da Controlinveste.

Conhecida a renúncia de Rui Pedro Soares, a Comissão de Trabalhadores da Portugal Telecom vem agora defender a demissão de Soares Carneiro, caso o administrador não venha a público para "desmentir as notícias" sobre o seu envolvimento no alegado plano do Governo de José Sócrates.

"Estamos a acompanhar com todo o interesse o que se está a passar sobre o eventual envolvimento de dois administradores da Portugal Telecom no alegado plano para controlar a comunicação social", afirmou o coordenador da estrutura, em declarações à agência Lusa.

Para Francisco Gonçalves, Fernando Soares Carneiro "não tem outra alternativa que não seja apresentar a sua renúncia e, se não o fizer, então devem ser os accionistas que o indicaram para o Conselho de Administração a tomar essa decisão".

"A não serem desmentidas as notícias que vieram na comunicação social, os administradores visados não têm outra alternativa que não seja a renúncia aos seus cargos. Não é só a renúncia que resolve a situação por si, embora seja um passo. Nós achamos que a PT deve dar uma explicação sobre aquilo que se passou", insistiu.

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