Marcelo inquieto com populismo, xenofobia e unilateralismo

por Carlos Santos Neves - RTP
“O que é mais preocupante é, em democracias, esta nova moda das democracias iliberais, que não são democracias” Manuel Fernando Araújo - Lusa

Sem designar um exemplo em particular, o Presidente da República manifestou na última noite preocupação com o que descreveu como “democracias iliberais que não são democracias”. Marcelo Rebelo de Sousa, que interveio num jantar do Congresso da Associação Mundial de Jornais, em Lisboa, enumerou como “problemas vivos, prementes e inesperados” o populismo, a xenofobia, as “exclusões” e o unilateralismo.

Acompanhado pela agência Lusa, o discurso de Marcelo – em inglês - não isolou casos concretos. Mas aconteceu no culminar do dia em que o Senado italiano deu um voto de confiança ao novo Governo de Giuseppe Conte, um advogado de 53 anos, recém-chegado aos corredores cimeiros da política transalpina e tido, precisamente, como “populista e antissistema” – classificações que o próprio não enjeitou no discurso que ontem proferiu diante da câmara alta.

Outra nota sobre a oportunidade do discurso do Presidente da República no Palácio Foz prende-se com a mensagem que enunciou na véspera sobre o atual estado das relações entre Europa e Estados Unidos, na sequência das políticas protecionistas da Administração Trump.

À saída de uma conferência na Fundação Calouste Gulbenkian com o tema Os Estados Unidos e Portugal: Uma Parceria para a Prosperidade, na tarde de segunda-feira, o Chefe de Estado sustentava que a América não teria alternativa à concertação com a União Europeia.

“O que é mais preocupante”, afirmou na noite de terça-feira o Presidente, “é, em democracias, esta nova moda das democracias iliberais, que não são democracias”.

“Os populismos, as xenofobias, as exclusões, o unilateralismo, o ataque às organizações internacionais, estes movimentos e estes partidos que surgem”, enumerou Marcelo Rebelo de Sousa, para quem estes constituem “problemas vivos, prementes e inesperados”.

Algo que, disse Marcelo, é reconhecido pela comunicação social internacional, que “não esperava, em democracias mais ou menos antigas, assistir a este fenómeno”.
“Pior em democracias conhecidas”
Na perspetiva do Chefe de Estado, o fenómeno de degradação das liberdades e do pluralismo “é ainda pior em democracias bem conhecidas” do que em países ditos subdesenvolvidos e com regimes de democracia frágil ou mesmo inexistente.

“É ainda pior em democracias bem conhecidas, onde vemos agora populismo, xenofobia, exclusão, unilateralismo, e isso não são boas notícias. Levou-nos tanto tempo para construir organizações internacionais, criar condições para o diálogo em todo o mundo e, de repente, não apenas num único caso, mas em muitos casos”, advertiu.

“É preocupante ver como estes movimentos e partidos se tornam tão poderosos, tão importantes, que a certo ponto discutem a própria ideia da União Europeia, da integração europeia que foi o resultado de 60 anos”, concretizou.
“Um problema económico e financeiro”
Quanto a Portugal, Marcelo considerou que o país está “bem” no que diz respeito à liberdade de imprensa. “Mas há um problema económico e financeiro – eu não entrei em pormenores -, que é o problema da sustentabilidade dos órgãos de comunicação social”, contrapôs.

Segundo o Presidente da República, o sector tem-se debatido “durante muitos anos” com “a dificuldade de o consumidor substituir a falta de receitas de publicidade”, o que se traduz em “meios de comunicação social que passam a ter uma base muito mais frágil do ponto de vista económico e financeiro”.

Ainda relativamente ao caso português, Marcelo apresentou o quadro de “uma verdadeira democracia, que ama todas as liberdades” e respeita a liberdade de imprensa, “sabendo como é duro sobreviver, em muitos casos”.

“Nós realmente lutamos por democracia, pela liberdade de imprensa, pela inclusão, pelo multilateralismo, que já não estão na moda, como sabem, especialmente nas democracias”, insistiu.
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