Sobre o disco Portuguesa, escreve Carminho: "Um fascínio permanente pelo fado, pelos seus inesgotáveis caminhos e possibilidades "
MAIS INFOO disco Portuguesa começou a tomar forma em 2019 e a sua génese tem a mesma base de todos os anteriores: Um fascínio permanente pelo fado, pelos seus inesgotáveis caminhos e possibilidades dentro da mesma matriz, e o reconhecer nele a linguagem mais natural para me expressar. É o fado para mim uma língua mais que uma mensagem, um caminho mais que um destino.
Mas se no disco anterior explorei a experiência mais pessoal e intuitiva que vivi com a minha família, a ouvir a minha mãe cantar, pelas casas de fado, cruzando-me e aprendendo com os melhores interpretes, já neste último dediquei-me à pesquisa da composição e da poesia, atrevendo-me a compor fados tradicionais originais e a debruçar-me sobre questões técnicas e históricas da construção de um repertório.
Em estúdio decidi reunir a banda para 10 sessões continuas de criação que resultaram no disco.
Ao assumir a produção, optei por dar espaço à experimentação, permitindo-me explorar várias combinações dentro dos cânones, repensando a forma e encontrando assim novas texturas dentro de uma imagem clássica e maturada.
Procuro sempre a orientação da raiz mas quero deixar livre o espaço para a contaminação natural das minhas influencias.
Do ponto de vista instrumental, o fado, e os seus elementos tradicionais (guitarra portuguesa, viola e baixo), são o epicentro de toda a narrativa.
Já introduzido no álbum “Maria”, a lapsteel e a guitarra eléctrica estão integrados no combo, expressando uma sensação de familiaridade como que se já existissem desde sempre. O mellotron é um novo elemento que juntei a este combo e o pensamento foi o mesmo: integrar as características de câmara deste instrumento, adicionando outras texturas ao serviço da base fundamental do fado.
O repertório é em parte de minha autoria. Algumas canções de letra e música, algumas letras que escrevi para fados antigos e poemas que de outros autores que musiquei.
Tenho a alegria de cantar vários contemporâneos meus a começar por um dos maiores poetas portugueses entre nós: Manuel Alegre, que me cedeu um poema que musiquei; o compositor brasileiro Marcelo Camelo, Luisa Sobral, Joana Espadinha e Rita Vian
Tive também a felicidade de me cruzar com poemas de dois dos maiores poetas da língua portuguesa do sec xx. Musiquei então os poemas “As fontes” de Sophia de Mello Breyner Andresen e “Palma” de David Mourão-Ferreira
Sigo na pesquisa e prática deste género que, de tão rico e vivo, permite ser instrumento e linguagem de um pensamento contemporâneo, agora e sempre.
Carminho em Fevereiro de 2023
