PIB regista queda de 2,4% em termos homólogos e 3,9 em cadeia no primeiro trimestre de 2020

por RTP
José Coelho - Lusa

O Instituto Nacional de Estatística divulgou esta sexta-feira as contas relativas ao Produto Interno Bruto no primeiro trimestre deste ano, o primeiro que inclui já o impacto do início do confinamento, em março. É a maior queda do PIB desde 2013.

O Produto Interno Bruto (PIB) diminuiu 2,4 por cento em volume no primeiro trimestre de 2020, quando comparado com o mesmo período do ano passado, após o aumento de 2,2 no trimestre anterior.

“A contração da atividade económica reflete o impacto da pandemia COVID-19 que já se fez sentir significativamente no último mês do trimestre”, alerta o INE.

Esta queda do primeiro trimestre do ano é a maior desde os primeiros três meses de 2013, altura da troika.


O primeiro trimestre registou uma diminuição mais intensa das exportações (-5,1 por cento), mais do que a diminuição das importações (-1,8). Esta diferença deriva da contração da atividade turística na evolução das exportações de serviços.

Feitas as contas, o contributo da procura externa líquida para a variação homóloga do PIB foi negativo no primeiro trimestre (-1,4 pontos percentuais), após ter sido positivo no trimestre anterior.

A procura interna registou um contributo negativo (-1,0 pontos percentuais), pela primeira vez desde o terceiro trimestre de 2013, associada à diminuição do consumo privado e do investimento.

Comparativamente com o último trimestre de 2019, o PIB diminuiu 3,9 por cento em termos reais. A variação em cadeia no trimestre anterior (quarto trimestre de 2019) tinha sido um aumento de 0,7 por cento.

 
“Este resultado é explicado por contributos negativos da procura externa líquida para a variação em cadeia do PIB (-2,0 pontos percentuais, após ter sido positivo no trimestre anterior) e da procura interna (-1,9 pontos percentuais), que foi mais negativo que no trimestre anterior (-0,7 pontos percentuais)”, refere o documento.

Comparativamente com o trimestre anterior, as exportações totais diminuíram 7,3 por cento em termos reais (taxa de 4,1 por cento no trimestre anterior), enquanto a variação em cadeia das importações totais foi -2,9 por cento em volume no primeiro trimestre (taxa de 0,7 por cento no quarto trimestre).

A estimativa rápida do INE reflete já as medidas tomadas em Portugal para conter a propagação da Covid-19: o encerramento das escolas e universidades no dia 11 de março (com efeitos a partir do dia 16 de março), o estado de emergência que foi decretado no dia 18 de março e que ditou o encerramento temporário de várias atividades económicas e restrições à livre circulação de pessoas.

O Instituto realça que os números mostram que já antes destas medidas “existiam já perturbações no funcionamento normal de algumas atividades e na procura dirigida aos seus produtos, nomeadamente na restauração e hotelaria, afetando a atividade económica desde praticamente o início do mês”.

O INE avisa que esta estimativa rápida incorpora revisões na informação de base utilizada nas estimativas trimestrais anteriores, mas que não implicaram revisões nas taxas de variação homóloga e em cadeia do PIB em volume.
Números definitivos no final de maio
O INE divulga os números definitivos do PIB do primeiro trimestre dia 29 de maio, e alerta que "é possível que ocorram revisões de magnitude superior ao habitual em divulgações futuras atendendo a perturbações no processo de obtenção dos dados", devido à pandemia de Covid-19.

Também atendendo ao contexto pandémico, segundo o INE "foram utilizadas novas fontes de informação complementar", como "a informação no âmbito do sistema eletrónico de emissão de faturas e comunicação à Autoridade Tributária (e-fatura)" e ainda "operações na rede multibanco".

O "Grande Confinamento" levou o Fundo Monetário Internacional (FMI) a fazer previsões sem precedentes nos seus quase 75 anos: a economia mundial poderá cair três por cento em 2020, arrastada por uma contração de 5,9 por cento nos Estados Unidos, de 7,5 por cento na Zona Euro e de 5,2 no Japão.

Para Portugal, o FMI prevê uma recessão de oito por cento e uma taxa de desemprego de 13,9 em 2020.

Já a Comissão Europeia estima que a economia da Zona Euro conheça este ano uma contração recorde de 7,7 por cento do PIB, como resultado da pandemia da Covid-19, recuperando apenas parcialmente em 2021, com um crescimento de 6,3 por cento.

Para Portugal, Bruxelas estima uma contração da economia de 6,8 por cento, menos grave do que a média europeia, mas projeta uma retoma em 2021 de 5,8 por cento do PIB, abaixo da média da UE (6,1 por cento) e da Zona Euro (6,3).

c/ Lusa
pub