Cavaco quer "muito cuidado" na definição de prioridades

O Presidente da República encerrou a mais recente jornada do seu Roteiro das Comunidades Locais Inovadoras com a defesa de uma resposta prioritária às “situações de emergência social”, sublinhando que “as pessoas estão de facto primeiro”. A definição de prioridades no contexto da crise económica e financeira, vincou Cavaco Silva, impõe “muito cuidado” tanto a nível do poder político central como “a nível local”.

RTP /
O desemprego é "uma das questões mais dramáticas que o país enfrenta", repetiu o Presidente da República, Cavaco Silva José Sena Goulão, Lusa

"Neste tempo de crise que nós atravessamos, é preciso ter muito cuidado na definição das prioridades, quer a nível central, quer a nível local", afirmou ontem à noite o Presidente da República, na intervenção que culminou a IV Jornada do Roteiro das Comunidades Locais Inovadoras. Ao cabo de uma iniciativa de dois dias, que o levou a cinco concelhos da Área Metropolitana de Lisboa, Cavaco Silva aproveitou a cerimónia de encerramento no Palácio de Queluz para deixar um novo aviso à navegação em tempos de crise económica, alertando para "a emergência dos novos pobres".

"A crise fez emergir os novos riscos de pobreza em resultados dos milhares de desempregados, do endividamento excessivo das famílias e do enfraquecimento dos laços familiares", assinalou o Chefe de Estado, depois de evocar "aqueles que sofrem em silêncio, que até há pouco tempo não imaginavam poder, hoje, encontrar-se na situação em que se encontram, situação que, nalguns casos, é mesmo de carência alimentar".

Perante a marcha do desemprego, ou a prevalência das desigualdades na distribuição de rendimentos, Portugal apresenta-se hoje, segundo Cavaco Silva, como um país "a duas velocidades". A fórmula não é nova. Cavaco utilizara-a na sua primeira intervenção, enquanto Presidente da República, nas comemorações da Revolução de 25 de Abril.

"É possível"

Cavaco Silva descreveu também a hemorragia no mercado de trabalho como "uma das questões mais dramáticas que o país enfrenta". O número de pessoas desempregadas no termo do primeiro trimestre de 2010, lembrou, "atingia 590 mil portugueses, ou seja, 10,6 por cento da população activa". Entre os jovens, a taxa de desemprego é de 23 por cento, acrescentou o Presidente da República.

O Chefe de Estado deixou, em seguida, palavras de apreço pelo trabalho das instituições que "têm desempenhado um papel decisivo no amortecimento das consequências sociais da crise económica e social". Elogiou ainda o que disse ser a "nova atitude social" dos órgãos do poder autárquico.

O Presidente aplicou um ponto final ao seu discurso com a ideia de que "a pobreza e a exclusão social não são realidades sem remédio". "É possível. Não há razão para perdermos a esperança", concluiu.

O rating da dívida no caminho de Cavaco

As últimas horas do Roteiro de Cavaco Silva, antes da cerimónia no Palácio de Queluz, acabaram por ser ensombradas pela notícia de que a agência de notação financeira Moody's reviu em baixa, de Aa2 para A1, o rating da dívida portuguesa. À saída da Escola Básica do primeiro ciclo da Serra das Minas, em Sintra, o Presidente da República diria que "não vale a pena recriminar as agências de rating". O que o país deve fazer é, na óptica de Belém, trabalhar "para depender cada vez menos das necessidades de financiamento externo".

"Devemos, sim, fazer aquilo que nos compete fazer para que não sejam os outros vindos de fora a impor que façamos isto ou façamos aquilo", reagia Cavaco na tarde de terça-feira.

"Quando nós não precisamos de pedir dinheiro no estrangeiro, não temos que nos preocupar com as agências de rating ou até outras pressões que nos chegam do estrangeiro", prosseguiu o Presidente, assinalando que, "felizmente, agora há uma consciência em todos os agentes políticos de que é preciso tomar medidas para inverter uma situação que não podia continuar".

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