Sócrates contrapõe optimismo ao chumbo na notação
O primeiro-ministro responde às avaliações negativas dos mercados com novo exercício de optimismo, reivindicando cinco anos de reformas para os governos que encabeçou, a começar pela flexibilização laboral. Em entrevista ao Financial Times, que hoje dedica um suplemento à crise portuguesa, José Sócrates reconhece que as medidas do Governo não vão “resolver todos os problemas”, mas torna a dizer-se “muito confiante”.
"Portugal está a fazer progressos. Estamos a enfrentar as dificuldades colocadas à nossa economia e tenho toda a confiança nas reformas que estamos a implementar", atalha Sócrates a dada altura da entrevista a Peter Wise. A ideia repete-se a cada citação.
Se o jornal britânico lembra que o produto interno bruto de Portugal é, desde 2000, o segundo mais baixo da Zona Euro, depois da Itália, ou que é o "efeito combinado" do aumento da despesa pública e da quebra nas receitas fiscais que está na base de uma escalada do défice orçamental, de 2,8 por cento em 2008 para 9,3 por cento no ano passado, José Sócrates desafia "qualquer pessoa a mostrar um país que tenha sido mais reformista nos últimos cinco anos". E reafirma que o défice cresceu em 2009 "porque respondemos à crise global", o que "teve um efeito positivo".
Flexibilidade laboral é bandeira do Governo
Foi por causa das medidas extraordinárias de resposta à crise, advoga Sócrates, que a economia portuguesa apresentou uma contracção menos pronunciada, quando comparada com outros países-membros da União Europeia. O primeiro-ministro apoia-se no crescimento de 1,1 por cento nos primeiros três meses deste ano. Em seguida, procura explicar o pacote de austeridade orçamental negociado com os sociais-democratas, com o agravamento da carga fiscal à cabeça: "A crise de confiança que começou com a Grécia forçou a Europa a mudar de direcção. Portugal, como outros países, foi obrigado a fazer um esforço adicional para reduzir o seu défice".
"A alternativa a não fazer cortes adicionais teria sido muito pior. As dificuldades financeiras que teríamos de enfrentar teriam um impacto muito mais negativo na economia do que as medidas de austeridade que implementámos", argumenta.
Na entrevista ao Financial Times, o primeiro-ministro não hesita em apontar os cortes na Administração Pública como exemplo do que diz ser o cunho reformador do seu Executivo, designadamente as reduções de 73 mil funcionários públicos, de 2005 a 2009, e da despesa com os vencimentos do sector, de 14,8 por cento para menos de 12 por cento do PIB. Adiante, socorre-se de dados da Organização para a Cooperação e Desenvolvimento Económico (OCDE) para dizer que o país tem hoje um mercado de trabalho "próximo da Alemanha e melhor do que a França". Ou seja, deixou de ter "um dos mercados de trabalho mais rígidos do mundo desenvolvido".
Progresso "absolutamente extraordinário" na Ciência
No domínio da Educação, Sócrates dá ênfase ao reforço da aprendizagem do Inglês no Ensino Básico, mas também ao programa de distribuição de computadores e à modernização da rede escolar. Quanto à Ciência, o primeiro-ministro fala de um progresso "absolutamente extraordinário", que se traduz num aumento do investimento público em investigação de 0,7 para 1,55 por cento do produto interno bruto entre 2005 e 2008.
José Sócrates refere ainda números relativos às energias renováveis, que garantiram, já este ano, 70 por cento da electricidade produzida. E insiste nas virtudes da "economia digital", que, em meia década, levou o país da 16ª para a primeira posição nos rankings do Banco Mundial.
A concluir a entrevista, o primeiro-ministro admite que as reformas já empreendidas, ou na calha, não resolvem "todos os problemas": "Estas reformas resolveram todos os problemas de Portugal? Claro que não. Mas eu respondo pelos últimos cinco anos. Estamos a lidar frontalmente com as dificuldades da economia e estou muito confiante quanto aos benefícios que estas reformas vão trazer".