Alimentação. Quarenta por cento do solo terrestre está degradado

por RTP
Mais de 70% da área terrestre foi transformada, o que tem impactos significativos no ambiente e contribui para o aquecimento global Reuters

As Nações Unidas alertam que os danos causados ao planeta estão a aumentar e que a capacidade de produzir alimentos para uma população em crescimento está em risco. Metade da população mundial está a sofrer o impacto dos danos causados, refere um relatório recentemente publicado pela organização internacional.

A ação do homem sobre o planeta está a danificar a superfície terrestre. “Como a agricultura agora ocupa mais de 40 por cento da área terrestre global, restaurar a saúde a longo prazo e a produtividade nas nossas paisagens alimentares é fundamental para garantir a sustentabilidade futura”, lê-se no segundo relatório da Convenção das Nações Unidas para o Combate à Desertificação. Os autores pretendem que este documento seja a mais completa fonte de informação sobre o solo terrestre. Foi realizado ao longo de cinco anos e contou com a participação de 21 entidades parceiras.

A capacidade do planeta para alimentar uma população em cada vez maior número também está em risco devido aos danos causados pela produção de alimentos. As mulheres são um grupo particularmente afetado, principalmente nos países em vias de desenvolvimento, devido ao facto de raramente serem proprietárias de terrenos.

Os países em desenvolvimento são os que apresentam marcas mais visíveis da degradação dos solos - com a consequente redução dos recursos naturais, água, biodiversidade, árvores ou vegetação -, mas este problema verifica-se em todo o planeta, alerta a organização. Contudo, o principal fator está no consumo excessivo, característico dos países ricos, de produtos como carne ou produtos de moda.

Apesar de a produção de alimentos causar a maior parte dos danos, o consumo de bens como vestuário também tem impacto significativo na degradação do solo.

“Em nenhum outro momento da história moderna, a humanidade enfrentou idêntico conjunto de riscos e perigos, conhecidos e desconhecidos, interagindo num mundo hiperconectado e em rápida mudança. Não podemos dar-nos ao luxo de subestimar a escala e o impacto destas ameaças existenciais”, escrevem os autores do estudo.

O estudo contempla três cenários de abordagem do problema até 2050, um dos quais é a recuperação de 50 milhões de quilómetros quadrados de terra. Entre as técnicas de recuperação de terras degradadas contam-se medidas como uma alteração dos métodos de cultivo, deixar a terra em pousio, recolher e armazenar água da chuva ou replantar árvores para evitar a erosão do solo.

O outro cenário é o aumento das medidas de conservação de áreas naturais importantes para funções específicas do ecossistema.

Por fim, se não forem tomadas medidas para proteção dos recursos terrestres, uma área de quase do tamanho da América do Sul vai juntar-se ao território já degradado, calculam os autores.

De acordo com Ibrahim Thiaw, secretário-executivo da convenção da ONU para combater a desertificação, “a agricultura moderna alterou a face do planeta, mais do que qualquer outra atividade humana. Precisamos repensar urgentemente os nossos sistemas alimentares globais, que são responsáveis por 80% do desmatamento, 70% do uso de água doce e a maior causa da perda de biodiversidade terrestre.

No preâmbulo do documento, Thiaw defende o investimento em restauro dos solos em larga escala para combater a desertificação e a erosão. Thiaw deverá aproveitar a 15ª conferência da Convenção das Nações Unidas para o Combate à Desertificação vai decorrer em Maio, em Abidjan, para apelar aos políticos para agirem de modo a evitar a contínua degradação dos solos.

Esta degradação põe em risco metade da produção anual de alimentos, o que representa cerca de 44 biliões de dólares por ano, refere ainda o documento. No entanto, os benefícios de recuperar terra degradada podem ascender a 125 e 140 biliões de dólares, o que seria um aumento de 50 por cento em relação ao PIB global em 2021 (93 biliões de dólares).
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