António Costa: "Se houve alguém que ultrapassou linhas vermelhas foi claramente a Bielorrússia"

por Andreia Martins - RTP
António Cotrim - Lusa

O primeiro-ministro António Costa esteve reunido esta quarta-feira com o secretário-geral da NATO, Jens Stoltenberg. Ambos condenaram as recentes ações do regime bielorrusso e exigiram a libertação imediata de todos os presos políticos. O chefe do Governo português reagiu ainda às declarações de Alexander Lukashenko esta manhã, considerando que foi o líder bielorrusso quem "ultrapassou todas as linhas vermelhas".

Na conferência de imprensa conjunta após a reunião desta manhã, o secretário-geral da NATO e o primeiro-ministro português estiveram alinhados na condenação do regime de Lukashenko pelo desvio de um avião civil da União Europeia para deter um jornalista crítico do Governo e a namorada, de nacionalidade russa. No passado domingo, os dois seguiam a bordo num voo da Ryanair que fazia a ligação entre Atenas e Vilnius e que foi intercetado quando sobrevoava o espaço aéreo bielorrusso.

Questionado sobre as acusações do Presidente bielorrusso, que esta quarta-feira apontou críticas a adversários internos e externos, Costa responde que foi o regime bielorrusso quem ultrapassou todos os limites.

"Claramente acho que quem ultrapassou todas as linhas vermelhas possíveis e imagináveis foi a Bielorrússia e o Presidente Lukashenko. É preciso sentir-se muito ameaçado pelas forças democráticas internas para desencadear um ato absolutamente inimaginável, ao permitir-se proceder a um desvio de um avião civil, que se desloca entre duas capitais europeias - duas capitais da NATO - com o exclusivo objetivo de deter um jornalista e a sua companheira" , afirmou o primeiro-ministro português.
Nas primeiras declarações desde o desvio do avião, o Presidente bielorrusso acusou os adversários "do estrangeiro e no interior do país" de terem mudado de métodos para atacar o regime e de terem ultrapassado "uma infinidade de linhas vermelhas". Garantiu ainda que a Bielorrússia agiu em conformidade com a lei após uma ameaça de bomba a bordo.

Portugal, país que preside até junho ao Conselho da União Europeia, tem sido veemente nas críticas apontadas a Minsk. Ao lado de Jens Stoltenberg, os dois responsáveis exigiram a libertação imediata de todos os presos políticos.

"É absolutamente inaceitável aquilo que foi feito do ponto de vista da lei internacional e da proteção dos Direitos Humanos. Por isso, a União Europeia tomou uma posição muito clara", disse ainda António Costa, referindo-se às sanções recentemente anunciadas e à interdição do espaço aéreo europeu a aeronaves da Bielorrússia.

Para além destas sanções, anunciadas após o último Conselho Europeu, Bruxelas desaconselha "vivamente todas as companhias aéreas europeias de se aproximarem do espaço aéreo da Bielorrússia" e continua a exigir "a imediata libertação não só dos dois detidos, como também de todos os presos políticos", destacou o primeiro-ministro português.

O secretário-geral da NATO esteve esta manhã reunido em São Bento com o chefe de Governo português, num breve encontro em que também participaram o ministro dos Negócios Estrangeiros, Augusto Santos Silva, e o ministro da Defesa, João Gomes Cravinho.

Ao lado de António Costa, Jens Stoltenberg destacou que um dos tópicos centrais da reunião foi precisamente a Bielorrússia. "Foi um ato de sequestro. (...) Acolho com agrado as sanções impostas pela União Europeia e exijo a libertação imediata do jornalista detido, bem como os outros prisioneiros políticos do regime de Lukashenko", sublinhou, considerando que se tratou de um "incidente ultrajante".

Questionado pelos jornalistas sobre qual vai ser a resposta concreta da NATO, Stoltenberg sublinha que este episódio vem revelar "quão longe o regime de Lukashenko está disposto a ir no confronto com as forças democráticas do Ocidente", mas acrescenta apenas que a Aliança Atlântica "apoia as sanções decretadas pela União Europeia" e continua a exigir uma investigação internacional ao sucedido.

Na declaração inicial após a reunião desta manhã, António Costa sublinhou a importância da cooperação entre a NATO e a União Europeia perante "a diversidade de ameaças que persistem", dando desde logo o exemplo do avião civil intercetado pela Bielorrússia no início da semana. 

"Não obstante o espírito construtivo que temos de manter, de diálogo com todos os nossos vizinhos, de procurar construir um clima de paz global, não podemos ignorar que as ameaças existem e que elas se materializam da forma mais diversa", alertou o primeiro-ministro.

O secretário-geral da NATO está em Portugal para inaugurar a Academia de Cibersegurança, em Oeiras, e estará também esta tarde no Palácio da Cidadela, em Cascais, onde vai participar numa reunião presencial do Conselho de Estado como convidado.
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