Ataque na Síria. "Não o fizemos porque o Presidente Trump nos pediu", assegura May

por Andreia Martins - RTP
Andy Rain - EPA

A primeira-ministra britânica esteve esta segunda-feira no Parlamento britânico a explicar o envolvimento de Londres nos ataques a alvos sírios na madrugada de sábado passado, ao lado de Washington e de Paris. Theresa May garantiu na Câmara dos Comuns que a ação corresponde aos interesses estratégicos do Reino Unido e que a decisão não foi influenciada por qualquer pedido do Presidente norte-americano.

“Deixem-me ser absolutamente clara. Agimos segundo os nossos interesses nacionais. Não o fizemos porque o Presidente Trump nos pediu. Fizemo-lo porque acreditámos que era a ação certa a tomar e não estamos sozinhos”, defendeu a primeira-ministra britânica perante os deputados numa sessão parlamentar de urgência pedida pelo Governo.

Na explicação que deu sobre o envolvimento britânico no ataque aos locais estratégicos, alegadamente destinados à produção e armazenamento de armas químicas pelo regime sírio, Theresa May começou por recordar o ataque químico de 7 de abril em Douma, na Síria, em que 75 pessoas morreram e mais de 500 pessoas ficaram feridas.

Segundo a primeira-ministra britânica, todos os dados indicam que se tratou de um ataque “com armas químicas” e Damasco como o maior aliado, Moscovo, estão a tentar “esconder” o que aconteceu.

Theresa May disse ainda que todas as indicações apontam para a responsabilidade do regime sírio, até porque, recorda, já terá sido responsável por outros ataques da mesma natureza ao longo dos últimos anos. A primeira-ministra britânica refere, por exemplo, que as bombas de barril foram largadas por helicópteros, algo que os rebeldes sírios não têm à sua disposição.

Com base no “padrão de comportamentos” do regime de Bashar al-Assad, o Governo britânico considerou que seria “muito provável” a prossecução de novos ataques com armas químicas e por isso decidiu participar no ataque , em concertação com Washington e Paris.

A primeira-ministra britânica asseverou ainda que o "uso de armas químicas não pode ser normalizado, nem na Síria, nem ruas do Reino Unido", em referência ao caso do envenenamento do ex-espião russo Sergei Skripal no início de março em Salisbury.
"Veto à nossa política externa"
May recorda que o regime sírio garantiu depois do ataque de agosto de 2013, em Ghouta, que destruiria o arsenal de armas nucleares, uma promessa afiançada pela Rússia mas que não se cumpriu, segundo defende a primeira-ministra.

A governante recordou ainda que a Rússia impediu na semana passada a realização de uma investigação independente ao ataque de Douma, localizada em Ghouta Oriental.

Perante os deputados, Theresa May explicou ainda que não pôde esperar pelo aval das Nações Unidas ou do Parlamento britânico, uma vez que era necessário “agir depressa” de forma a garantir a segurança da operação bem como aliviar "o sofrimento humanitário".

“O Governo tem o direito a agir rapidamente em defesa dos interesses nacionais. Mas sei que é da responsabilidade do Parlamento de tomar conta de tais deciões. No entanto é da minha responsabilidade, como primeira-ministra, tomar estas decisões”, referiu.

Em resposta às críticas de Jeremy Corbyn, do Partido Trabalhista, que lidera a oposição ao Governo, a primeira-ministra argumentou que aguardar pelo mandado do Conselho das Nações Unidas para intervir na Síria significaria "um veto russo à nossa política externa", uma vez que Moscovo se mostraria contra qualquer tipo de intervenção contra Assad.

Theresa May argumentou ainda que o ataque militar perpetrado no último sábado tem “justificação legal” e está “em linha” com o tipo de intervenções ordenadas por outros governos britânicos nos últimos anos.

Garantiu ainda que os três países aliados conduziram uma operação "legal" nos termos da lei internacional, seguindo os mesmos critérios que levaram à intervenção no Kosovo, em 1991, também ao lado de Estados Unidos e França.
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