Caso Khashoggi. Da negação ao reconhecimento de uma morte premeditada
A Arábia Saudita já admitiu que Jamal Khashoggi morreu, efetivamente, dentro do seu consulado, na Turquia. Depois de várias semanas a negar qualquer envolvimento no desaparecimento do jornalista, Riade reconheceu que a sua morte foi premeditada. O reino promete levar os responsáveis à justiça.
A estação televisiva do Qatar Al Jazeera publicou esta sexta-feira um extenso artigo com os últimos desenvolvimentos sobre o caso.
Depois de ter reconhecido que a morte do jornalista fora planeada, Riade sugeriu que o cadáver pode ter sido entregue, mais tarde, a um cidadão turco para que este o fizesse desaparecer. As buscas para encontrar o corpo de Khashoggi continuam.
Entretanto, o Presidente turco reagiu a esta nova versão. Durante um longo discurso partidário que ficou marcado pelo tema Khashoggi, Recep Tayyip Erdogan disse, antes de ter-se queixado das recorrentes mudanças nas versões dos acontecimentos pelos sauditas, que “enquanto a Arábia Saudita não clarificar isto – a alegada participação de um cidadão turco – não poderá livrar-se das suspeitas”.
O líder turco revelou que o seu Governo partilhou várias provas com a Arábia Saudita sobre os acontecimentos do dia 2 de outubro. “Quando as viram ficaram surpreendidos”, assegurou, antes de afirmar que “o autor efetivo do crime é evidente”. Ainda assim, Erdogan questionou-se sobre quem deu as ordens ao(s) assassino(s) e exigiu respostas às autoridades sauditas.
Até agora, foram detidos 18 cidadãos sauditas, entre
os quais estão 14 dos 15 membros da equipa saudita enviada ao
consulado, em Istambul, alegadamente para assassinar o jornalista.
A Arábia Saudita já anunciou o despedimento de todos os suspeitos dos seus cargos governamentais – o único que não se encontra detido morreu na semana passada num acidente rodoviário.
Erdogan mencionou, no mesmo discurso, que o assassino – presumindo que é apenas um – encontra-se entre estes 18 detidos. “Se não estiver, então a Arábia Saudita terá de explicar, pelo menos, quem é o alegado cúmplice turco”, acrescentou o Presidente que, de seguida, pediu a Riade que entregasse os suspeitos às autoridades turcas.
O jornalista Alan Fisher, citado pelo Al Jazeera, classificou o discurso de Erdogan como “prova de que a Turquia continua empenhada em desvendar as circunstâncias do caso”. As buscas, por parte das autoridades turcas, de um poço no consulado e de uma floresta perto de Istambul, “podem sugerir que os restos mortais de Khashoggi foram despejados em mais do que uma localização”, acrescenta Fisher.Comunidade internacional atenta
O Presidente russo, Vladimir Putin, revelou ter discutido o caso com o rei Salman e afirmou que, apesar da premeditação na morte de Khashoggi, a Rússia acredita que a família real saudita não está envolvida no assassinato.
“Aquilo que sabemos é suficiente para sugerir, convincentemente, que o senhor Khashoggi foi vítima de uma execução extrajudicial e que o governo da Arábia Saudita está implicado, de uma forma ou de outra”, afirmou à Al Jazeera Agnes Callamard, relatora especial sobre execuções extrajudiciais, sumárias ou arbitrárias no Alto Comissariado das Nações Unidas para os Direitos Humanos.
O ministro alemão da Economia, Peter Altmaier, aplaudiu a proposta da Áustria de formar uma posição europeia comum sobre a exportação de armas à Arábia Saudita, que tem sido o maior cliente da Europa e dos EUA neste setor. Ainda não é certo, no entanto, se esta “posição comum” irá pender para o cancelamento dos contratos de venda. Apesar de o ministro alemão ter revelado, em entrevista, que a Alemanha não iria “entregar armas ao reino neste momento”, a adesão por parte de outros países não está garantida.
O Departamento de Estado dos EUA, citado pelo Washington Post, anunciou que a diretora da Agência Central de Inteligência (CIA), Gina Haspel, regressou da Turquia e informou o Presidente Donald Trump sobre as suas investigações relativas à morte de Khashoggi.
O jornal refere que a diretora da CIA “ouviu gravações áudio convincentes” na posse do Governo turco, que pareciam comprovar o homicídio do jornalista. Mike Hanna, jornalista da Al Jazeera, referiu que a esta notícia é “fulcral”, já que o Presidente norte-americano disse precisar de todas as provas disponíveis antes de decidir sobre as medidas a tomar contra a Arábia Saudita.
O Governo saudita foi fortemente criticado, esta semana, depois de ter sido divulgada uma fotografia oficial da reunião entre Salah Khashoggi e MBS. Nesta reunião, o herdeiro ao trono apresentou as suas condolências à família de e garantiu que os responsáveis serão julgados, de acordo com fontes oficiais sauditas.
A fotografia está a ser, no entanto, catalogada de encenação pela imprensa internacional. Nela pode ver-se Salah e MBS a cumprimentarem-se, mas a desconforto entre ambos é evidente. O príncipe é, até à data, um dos principais suspeitos de ter orquestrado o assassinato.
Ninguém foi oficialmente responsabilizado
A imagem mais marcante destes protestos vai para um homem mascarado de príncipe Mohammed bin Salman, com sangue falso nas mãos. A fotografia foi tirada em frente ao consulado saudita, em Istambul, onde o jornalista foi assassinado.
A Associação de Amigos de Khashoggi promete não descansar enquanto não for feita justiça.