China e Taiwan. Quão provável é uma guerra?

por Joana Raposo Santos - RTP
Na origem das tensões atuais está a ida da responsável norte-americana Nancy Pelosi a Taiwan. Thomas Peter - Reuters

Com a China a iniciar os maiores exercícios militares da história em redor de Taiwan, uma retaliação pela visita da congressista norte-americana Nancy Pelosi a Taipé, surgem agora receios de uma guerra na região. Mas quão provável é que tal crise venha realmente a brotar?

Apesar de a China reclamar a soberania sobre Taiwan desde 1949, a ilha nunca fez oficialmente parte da República Popular da China e classifica-se como nação soberana, sem necessidade de declarar independência.

Agora que Pequim lançou exercícios militares de peso junto à ilha, que incluíram o lançamento de mísseis balísticos e disparos nas água e no espaço aéreo, Taipé prometeu responder à “situação inimiga”. A região não pretende, porém, entrar em conflito, dizendo mesmo que “respeitará o princípio de se preparar para a guerra, sem procurar a guerra”.

Na origem das tensões atuais está a ida da responsável norte-americana Nancy Pelosi a Taiwan, naquela que foi a mais importante visita de uma personalidade dos Estados Unidos à ilha nos últimos 25 anos.
Quão preocupantes são os exercícios militares da China?
Especialistas em Relações Internacionais acreditam que nem os Estados Unidos nem a China pretendem que a atual escalada de tensões resulte numa guerra. Justin Bassi, diretor do Instituto de Política Estratégica na Austrália, explicou ao Guardian que os exercícios militares de Pequim em Taiwan vão provavelmente ser amenizados de modo a evitar mais confrontos com Washington.

Já Blake Herzinger, especialista em Política de Defesa do Indo-Pacífico, apontou que os Estados Unidos têm sido muito cuidadosos para não expressarem apoio à independência de Taiwan, tentando não pisar aquela que é uma “linha vermelha” para a China.

“No acordo dos EUA com o Taiwan, eles têm sempre cuidado para garantir que encontram o balanço certo entre apoiar Taiwan sem o encorajar a fazer algo que possa causar um conflito maior”, refere.

A organização International Crisis Group, que trabalha para resolver e prevenir conflitos armados internacionais, considera por sua vez que a escalada de ações militares pela China é preocupante, mas não inesperada.

“Pequim está claramente a tentar expressar as suas objeções à visita de [Nancy] Pelosi, e isso significa que a resposta militar que agora escolhe tem de ser visivelmente superior às atividades militares que já exerceu anteriormente ao redor de Taiwan”, elucidou ao Guardian Amanda Hsiao, analista da International Crisis Group.

“Acredito que a intenção dos exercícios militares é mais provavelmente a demonstração de força” e não um ataque ou escalada de tensões, defendeu.
A situação já tinha estado tão tensa como agora?
Foram já vários os períodos de crise no Estreito de Taiwan, tendo o mais recente ocorrido em 1995. O incidente, conhecido como a Terceira Crise do Estreito de Taiwan, aconteceu depois de a ilha ter anunciado que iria realizar as suas primeiras eleições presidenciais democráticas.

Na altura, as forças militares chinesas avançaram com meses de exercícios militares, incluindo o disparo de mísseis a 56 quilómetros dos portos de Taiwan.

A especialista Amanda Hsiao acredita que, desta vez, os testes com mísseis planeados pela China em resposta à visita de Nancy Pelosi chegarão mais perto das ilhas do que no episódio dos anos 1990.
O que está em causa para o presidente chinês?
Xi Jinping subiu ao poder em 2012 e, desde então, deixou claro que a sua agenda passa pela reunificação de Taiwan. No entanto, vários especialistas acreditam que a resposta atual de Pequim à visita de Pelosi tem como intuito não só a demonstração de poder, mas a distração dos assuntos domésticos da China.

Numa altura em que esse país asiático sofre uma crise imobiliária que provocou protestos e resultou numa enorme desaceleração económica, acentuada pela política de “zero covid”, a situação com Taiwan pode desviar as atenções desses problemas internos.

“A visita de Pelosi pode ser uma oportunidade para Xi Jinping desviar os olhares das questões domésticas, concentrando-se no exterior como método de distração”, elaborou Jennifer Hsu, investigadora do instituto australiano Lowy.

Para Jade Guan, especialista em política chinesa na Universidade de Deakin, as ações do presidente da China podem também estar a ser influenciadas pelo 20.º Congresso Nacional, reunião que acontece a cada cinco anos para anunciar mudanças no Partido Comunista, que rege o país.

“Xi Jinping apresenta-se como o protetor da soberania e integridade territorial da China, da qual Taiwan é considerada uma parte central. Por isso, a sua Administração não pode parecer fraca antes do Congresso Nacional”, explicou Guan.

c/ agências
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