Cimeira do Clima. Iniciativa de Biden soma promessas sem metas universais

por Inês Geraldo - RTP
Joe Biden presidiu à Cimeira do Clima Tom Brenner - Reuters

Joe Biden deu esta quinta-feira início a uma Cimeira do Clima que contou com mais de 40 líderes mundiais. Com o combate às alterações climáticas na agenda, vários países mostraram-se disponíveis para tentar reduzir emissões de gases de efeito de estufa, implementando vários objetivos até 2030. Os Estados Unidos, por exemplo, prometeram cortar em metade as emissões de carbono nos próximos dez anos. Mas nem todos quantificaram metas.

Nesta cimeira que acontece em formato digital até sexta-feira, as maiores potências mundiais prometeram já tentar a neutralidade carbónica, com a tónica a cair numa ação concertada para lidar de forma eficiente com o problema.

O Presidente dos Estados Unidos, Joe Biden, disse querer colocar o país no centro da luta contra as alterações climáticas, depois de o antecessor, Donald Trump, o ter retirado do Acordo de Paris.
No discurso de abertura, Joe Biden falou de uma economia mais verde em que a mudança do clima tem de ser levada a sério. Todos os setores da sociedade têm de ser incluídos e mais empregos têm de ser criados para alcançar o objetivo de zero emissões de carbono até 2050.

“Este é o caminho que temos de percorrer enquanto nação e é isso é que podemos fazer para construir uma economia que não só é próspera mas também saudável, mais justa e limpa para o resto do planeta. Estes passos que vamos implementar vão levar a economia americana a zero emissões de carbono até 2050”.

Para alcançar o objetivo que se mostra hercúleo para o mundo, Biden pediu a ajuda de vários líderes mundiais, especialmente aqueles que lideram as grandes economias mundiais: “Nenhum país consegue resolver esta crise sozinho. Temos de nos chegar à frente”.

A vice-presidente, Kamala Harris, relembrou os efeitos das alterações climáticas nos Estados Unidos, falando dos incêndios que devastaram o Estado da Califórnia. “Como uma comunidade global, é imperativo agir depressa e juntos para enfrentar esta crise que vai requerer inovação e colaboração por todo o mundo”, fez notar.A Administração Biden estabeleceu um número para cortar emissões de carbono depois de consultas exaustivas com agências governamentais, cientistas, representantes das indústrias norte-americanas, governadores, presidentes de câmara e investigadores ambientais.


O que o Presidente dos Estados Unidos ainda não explicou é qual vai ser o plano que vai ser implementado para atingir os objetivos da neutralidade carbónica.

Responsáveis da Administração democrata falam de vários caminhos a serem tomados, indicando que a equipa criada por Joe Biden vai anunciar recomendações até ao fim deste ano para conseguir os cortes necessários.

“Quando se fala de clima, eu penso em emprego. Dentro da resposta que vamos ter às alterações climáticas está uma máquina extraordinária de criação de emprego e uma oportunidade económica pronta a ser explorada. Os países que tomem a decisão de criar agora mesmo as indústrias do futuro vão ser aqueles que vão retirar benefícios económicos do ‘boom’ de energia limpa que está a chegar”, clamou o Presidente.
Greta Thunberg e o julgamento das ações políticas
Rosto de um movimento jovem pela luta contra as alterações climáticas, Greta Thunberg testemunhou esta quinta-feira perante o Congresso norte-americano, avisando que os líderes mundiais não podem sair impunes das decisões que levem a um possível desastre climático.

“As alterações climáticas estão fora do debate público. E como o debate não existe e o nível de sensibilização é baixo, vocês contribuem impunemente para a destruição do ambiente presente e futuro”.

Em tom acusatório, a ativista sueca avisou que serão os jovens de hoje que vão relembrar nos livros a ação políticos destes líderes e que ainda estão a tempo de agir e tomar a decisão certa para atingir zero emissões de carbono.

“Nós, os jovens, somos aqueles que falarão de vós nos livros de história. Seremos nós que decidiremos como serão lembrados. Escolham bem”.

António Guterres também participou no primeiro dia de Cimeira do Clima e pediu uma “coligação global” para alcançar o objetivo da neutralidade carbónica em 2050. O secretário-geral das Nações Unidos alertou para um mundo “à beira do abismo” que precisa da ação de países, regiões, cidades, empresas e indústrias.

“Os milhões de milhões de dólares necessários para a retoma da covid-19 são dinheiros que estamos a pedir emprestados às futuras gerações. Não podemos utilizar estes recursos para aplicar políticas que os sobrecarreguem com uma dívida astronómica num planeta falido”.

António Guterres sugeriu que possam ser aplicados impostos sobre emissões e que se terminem os subsídios para a exploração de combustíveis fósseis e que os países em desenvolvimento e mais vulneráveis às alterações climáticas tenham acesso a tecnologia que ajude à mudança para energias limpas.
Brasil pede verbas para travar desflorestação
Visto como crucial na luta contra o aquecimento global, o Brasil explicou como quer travar a desflorestação na Amazónia, pulmão verde do planeta terra. Ricardo Salles, ministro do Meio Ambiente, revelou que vão ser criadas mais ações de fiscalização e que serão necessárias avultadas quantidades de dinheiro externo para ajudar na missão.
Antena 1

No que diz respeito à fiscalização, o ministro brasileiro anunciou que a logística das Forças Armadas, polícias e agências ambientais ajudarão a partir de maio para tentar diminuir os níveis de desflorestação.

No entanto, a frente mais importante da luta prende-se com o investimento externo que será necessário para levar o Brasil a bom porto na luta contra as alterações climáticas.

“Por isto, abrimos esta possibilidade para que estrangeiros nos ajude com recursos vultosos de forma imediata para cuidar da parte económica e social da Amazónia”.

O ministro anunciou que foi criado um plano de ação de fiscalização contra a destruição da floresta amazónica aos Estados Unidos, para que no próximo ano, e havendo recursos económicos, possa haver uma reversão da tendência de desflorestação da Amazónia.
China, Rússia e Europa
Xi Jinping e Vladimir Putin também foram protagonistas no primeiro dia da Cimeira do Clima. O Presidente russo pediu cooperação entre nações e garantiu que a Rússia tem interesse genuíno no combate às alterações climáticas.

Uma ideia partilhada pelo homónimo chinês, que pediu respeito pelo Direito Internacional para atingir a neutralidade carbónica. Xi Jinping garantiu que a China está empenhada na questão e quer trabalhar em conjunto com comunidade internacional, especialmente os Estados Unidos.A China não quis quantificar metas, preferindo apontar para uma grande redução do consumo de carvão, mas apenas a partir de 2030 e até 2060. Índia e Rússia, dois grandes poluidores, também não indicaram metas.

Xi Jinping assinalou que terá de haver um princípio de “responsabilidade comum” e que os países em desenvolvimento têm de ser ajudados na tarefa de utilização de energias limpas.

O Presidente chinês garantiu também que a China quer alcançar a neutralidade carbónica antes de 2050, num espaço de tempo mais reduzido que os restantes países desenvolvidos.

Ursula von der Leyen foi a representante da União Europeia na Cimeira e garantiu a vontade de a Europa se tornar no primeiro continente a alcançar zero emissões de gases de efeito de estufa.

“A Europa quer ser o primeiro continente do mundo climaticamente neutral. Mas, para salvar o planeta, precisamos do mundo. Precisamos que todas as grandes economias assumam as suas responsabilidades”.

As palavras da presidente da Comissão Europeia vêm no seguimento do acordo entre legisladores da União Europeia para reduzir em pelo menos 55 por cento as emissões líquidas de carbono até 2030, com 2050 a ser o prazo para a neutralidade carbónica.

Von der Leyen pediu compromisso para as grandes potências para que o mundo assuma um caminho em direção a zero emissões de carbono.

Também o Papa Francisco deu a sua contribuição, exortando os líderes mundiais a “agirem com coragem” e que a natureza precisa de ser protegida de um problema que está nas mentes das gentes de todo o mundo.
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