Conservador Nawrocki venceu presidenciais na Polónia

O conservador Karol Nawrocki venceu a segunda volta das eleições presidenciais na Polónia com 50,89 por cento dos votos, informou a comissão eleitoral na madrugada desta segunda-feira.

Cristina Sambado - RTP /
Aleksandra Szmigiel - Reuters

No total, Nawrocki, apoiado pelo principal partido da oposição, o ultraconservador Lei e Justiça (PiS), obteve 10.606.682 votos, enquanto Trzaskowski, presidente da Câmara de Varsóvia e apoiado pelo Governo de coligação do primeiro-ministro Donald Tusk, obteve 10.237.177 votos.

A diferença, 1,78 por cento, é mínima e representa o segundo golpe numa eleição presidencial para o candidato liberal e pró-europeu, que perdeu em 2020 com uma diferença de 2,06 por cento contra o atual presidente da Polónia, Andrzej Duda, que conclui em agosto o seu segundo mandato consecutivo como chefe de Estado do país no flanco oriental a NATO e da União Europeia.
Quem é Karol Nawrocki?Orgulhoso das suas raízes humildes em Gdansk, onde nasceu há 42 anos, Karol Nawroki é casado e pai de dois filhos, foi diretor do Museu da Segunda Guerra Mundial na sua cidade natal, de 2017 a 2021, e mais tarde presidiu ao Instituto da Memória Nacional (IPN), tendo ganho notoriedade por liderar a remoção de monumentos associados ao período soviético, sob uma "lei de desrrussificação" dos espaços públicos.

Ao contrário de outros líderes europeus de extrema-direita ou que pactuaram com ela, Nawrocki tem má opinião da Rússia, que considera um “estado bárbaro, cruel e que devia ser isolado”.


A sua campanha, desenvolvida sob o lema "Polónia primeiro, polacos primeiro", foi marcada por várias polémicas, como o escândalo que envolveu um apartamento comprado em circunstâncias duvidosas a um idoso em troca de cuidados e assistência e que se descobriu que afinal vive num lar financiado pelo Estado.A imagem de "duro" e de ex-pugilista semiprofissional valeu-lhe a alcunha de “Now Rocky”, em alusão ao “garanhão italiano” representado pelo ator Sylvester Stallone, e são-lhe associadas ligações a grupos criminosos, bandidos de discotecas e adeptos violentos de futebol, o que sempre negou.

Ao mesmo tempo, é visto como alguém alinhado com o "polaco comum” e totalmente afastado do meio elitista, urbano e cosmopolita que muitos cidadãos associam ao seu adversário nas presidenciais.

Apaixonado pelo submundo do crime, Karol Nawrocki é autor de vários livros, incluindo o que foi escrito em 2018, com o pseudónimo de Tadeusz Batyr, sobre um gangster da era comunista e que causou outra polémica.

No mesmo ano, ao aparecer na televisão estatal como Batyr, com o rosto embaciado e a voz alterada, disse que a obra foi inspirada por Nawrocki, que, por sua vez, confirmou ter sido consultado para dar conselhos e recomendou a sua leitura.

Os meios de comunicação social descobriram que Batyr e Nawrocki eram na verdade a mesma pessoa, o que provocou uma onda de comentários jocosos sobre a autopromoção do livroAs propostas de Karol Nawrocki
Apesar de independente, Karol Nawrocki foi apoiado pelo partido conservador nacionalista Lei e Justiça (PiS), que esteve oito anos no poder até ser afastado em outubro de 2023 pela atual coligação governamental, sendo também a cor política do presidente cessante, Andrzej Duda.

Tido como mais conservador e nacionalista do que Duda, assinou, após a primeira volta realizada em 18 de maio, um compromisso de oito pontos com o candidato radical da Confederação (extrema-direita), Sławomir Mentzen, a fim de cativar o seu peso de 14,8 por cento na votação e que o tornou num potencial influenciador decisivo das presidenciais.

Os pontos incluíam o endurecimento das posições de Varsóvia em relação à União Europeia, na linha do que o PiS vinha fazendo quando estava no Governo, a defesa da moeda nacional (zloty), a recusa da subida de impostos, bem como da integração da Ucrânia na NATO ou da presença de militares polacos no país vizinho.O apoio a Kiev contra a invasão russa, iniciada em fevereiro de 2022, não deverá estar em causa, apesar de considerar o presidente da Ucrânia, Volodymyr Zelensky, insolente e mal-agradecido, sendo também defensor da restrição de benefícios sociais aos cerca de um milhão de refugiados ucranianos no país e da prioridade aos polacos "nas filas de espera dos consultórios médicos e dos hospitais”.

No plano interno, prevê-se uma convivência acidentada com o executivo de Donald Tusk e a utilização do seu poder de veto para travar a reversão da polémica reforma judicial encetada pelo anterior executivo, a revisão da lei do aborto ou os direitos das minorias sexuais.

A agenda de Karol Nawrocki inclui propostas económicas como cortes de impostos para as famílias numerosas, oposição à adoção do euro e um ceticismo muito explícito em relação a políticas da União Europeia como o Acordo Verde e o Pacto para as Migrações, além de defender uma relação de proximidade com os Estados Unidos.

c/ Agências
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