Covid-19. Resposta internacional teve "falhas massivas", acusam especialistas

por RTP
A covid-19 matou cerca de 6,5 milhões de pessoas e infetou 606 milhões desde que a pandemia foi detetada. Michele Tantussi - Reuters

A resposta internacional à pandemia de covid-19 teve "falhas massivas". Quem o diz é a comissão de especialistas no SARS-Cov-2 da revista científica Lancet, que num relatório lançado quarta-feira enumera as recomendações para que o mundo esteja melhor preparado para situações de emergência semelhantes no futuro. A OMS já reagiu às críticas apontadas pelo relatório, considerando que houve "más interpretações".

“Os governos falharam em aderir a normas básicas de racionalidade institucional e de transparência”, acusam os especialistas.

O relatório critica ainda as autoridades de saúde por falharem em notificar atempadamente o surto inicial de SARS-CoV-2 e por demorarem em reconhecer que o vírus se espalhava através do ar.

Segundo dados da Organização Mundial da Saúde (OMS), a covid-19 matou cerca de 6,5 milhões de pessoas e infetou 606 milhões desde que a pandemia foi detetada, no início de 2020.

“Este número impressionante de mortos é uma profunda tragédia e um massivo fracasso global a vários níveis”, refere o relatório de 57 páginas. A comissão de especialistas em covid-19 da revista The Lancet foi estabelecida em julho de 2020 e foca-se em “políticas baseadas na ciência, cooperação global e finanças internacionais”.


“Demasiados governos falharam e demasiadas pessoas – muitas vezes influenciadas pela desinformação – desrespeitaram e protestaram contra precauções básicas de saúde pública”, sublinham os especialistas, acusando ainda as maiores potências globais de “falharem em colaborar umas com as outras para controlarem a pandemia”.

A comissão frisa que houve falta de colaboração entre nações, assim como um fracasso dos governos em adotar melhores práticas. Terá havido ainda um défice no financiamento global a países de baixos e médios rendimentos e falta de redes de segurança globais e nacionais para proteger populações vulneráveis.

O relatório está endereçado aos Estados-membros das Nações Unidas, assim como a agências e instituições multilaterais globais, incluindo os grupos do G20 e do G7.

Há ainda críticas à Organização Mundial de Saúde, que, segundo os especialistas da Lancet, agiu “com demasiada precaução e foi demasiado lenta em vários tópicos importantes”, incluindo no aviso sobre a transmissibilidade do vírus e na declaração da covid-19 como uma emergência pública de interesse internacional.
OMS fala em “omissões e más interpretações”
Depois das críticas, as recomendações. A comissão propõe esforços coordenados para pôr fim à pandemia, entre os quais um aumento da vacinação, a intensificação das investigações sobre a origem do vírus e o fortalecimento dos serviços nacionais de saúde e da OMS.

É também sugerida a expansão do Conselho Científico da Organização Mundial de Saúde, com o intuito de “aplicar as evidências científicas urgentes na resposta às prioridades globais de saúde”.

A OMS já reagiu às recomendações, agradecendo-as, mas salientando as “omissões e más interpretações” do relatório no que diz respeito à resposta inicial à pandemia.


“A OMS agradece as recomendações abrangentes do relatório da Lancet, que se alinham com o nosso compromisso para com a prevenção, prontidão e respostas mais fortes contra a pandemia a nível global, regional e nacional”, começou por escrever a entidade no Twitter.

“Ao mesmo tempo, há várias e importantes omissões e más interpretações no relatório”, continuou, “principalmente em relação à emergência de saúde pública de interesse internacional e à velocidade e objetivos das ações da OMS”.

O relatório da Lancet chegou no mesmo dia em que o diretor-geral da Organização Mundial da Saúde, Tedros Adhanom Ghebreyesus, anunciou que o número de novas infeções por SARS-CoV-2 caiu drasticamente.

Nunca estivemos em melhor posição para pôr fim à pandemia. Ainda não chegámos lá, mas o fim está à vista”, afiançou.
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