EUA acusam Irão de "chantagem nuclear" e apelam a ação mundial concertada

por Graça Andrade Ramos - RTP
O secretário de Estado dos EUA, Mike Pompeo, na reunião da Cimeira contra o Nuclear Iraniano, à margem da Assembleia Geral da ONU, a 20 de setembro de 2019 Reuters

O Irão vai tornar-se uma potência nuclear muito mais rapidamente do que o esperado, alertou esta quinta-feira a Administração Trump. O secretário de Estado norte-americano, Mike Pompeo, deixou um apelo à comunidade internacional, para forçar Teerão a recuar.

O responsável pela diplomacia dos Estados Unidos deixou o alerta depois de o Irão ter anunciado que injetou gás de urânio nas centrifugadoras da central atómica subterrânea de Fordo, retomando a produção e recolha de urânio enriquecido.

"O alargamento das ações sensíveis de proliferação iranianas levanta inquietações de que o Irão se prepara para ter como opção lançar-se rapidamente no nuclear", afirmou Pompeo, numa declaração publicada ao início da tarde.

"Chegou a hora de todas as nações rejeitarem a chantagem nuclear deste regime e de darem passos substanciais para aumentar a pressão. As constantes e inúmeras provocações nucleares do Irão exigem essas medidas", recomendou o norte-americano.

As centrifugadoras de Fordo irão aumentar o enriquecimento de urânio até 4.5 por cento, no limite do mínimo imposto no Acordo de 2015 e muito longe dos níveis de 90 por cento necessários para produzir armas nucleares.

O regresso ao funcionamento da central de Fordo foi anunciado terça-feira pelo Presidente do Irão, Hassan Rohani, levando Paris, Londres, Berlim e a União Europeia a apelarem a Teerão para rever a decisão.
Pedidos ignorados
Esta manhã, a Organização Iraniana para a Energia Atómica, OIEA, anunciou que, "nos primeiros minutos do dia de quinta-feira", foram iniciadas "a produção e recolha de urânio enriquecido nas instalações de Fordo", a cerca de 180 quilómetros a sul da capital iraniana, Teerão.

"Todas estas atividades decorreram sob a supervisão da Agência Internacional de Energia Atómica", a AIEA, acrescentou a mesma fonte.

A informação foi confirmada à Agência France Presse por uma fonte próxima daquele organismo da ONU, que controla as atividades nucleares no mundo.

A atividade da central atómica de Fordo estava congelada desde a assinatura, em 2015, de um acordo firmado entre Teerão e seis das principais potências mundiais, para forçar o Irão a desistir do seu programa nuclear em troca do levantamento de sanções e do regresso aos mercados internacionais.

Em 2018, sob a presidência de Donald Trump, um dos países signatários, os Estados Unidos, retiraram-se do acordo, alegando que Teerão estava a violar as condições impostas pela comunidade internacional.

Washington voltou então a sancionar o regime iraniano
e a impor algumas regras ao comércio de petróleo do Irão, sucessivamente mais graves ao longo dos meses, cujo impacto levou a economia iraniana a uma grave recessão.
Avisos de Macron
O Irão exigiu aos restantes países signatários do acordo - China, França, Reino Unido, Rússia e Alemanha - medidas para contrariar os efeitos da saída e interferência norte-americanas.

O prazo para essas ações expirou segunda-feira dia quatro de novembro.

A injeção esta quinta-feira de gás de urânio nas centrifugadoras de Fordo, foi o quarto passo, e o mais importante, do plano de redução dos compromissos iranianos quanto ao seu programa nuclear, lançado em maio em resposta à saída efetiva do pacto por parte dos Estados Unidos.

A AIEA ainda não reagiu. O Presidente francês, Emmanuel Macron, de visita a Pequim, lamentou a decisão iraniana. O Irão, afirmou, "decidiu sair do âmbito" do acordo de Viena, "pela primeira vez de forma explícita e não limitada".

"É uma alteração profunda", acrescentou. "Vou ter deliberações nos próximos dias, igualmente com os iranianos, e devemos coletivamente retirar consequências".

O regime de Teerão tem repetido que está disposto a regressar às condições impostas pelo texto de Viena, desde que os restantes países façam cumprir a sua parte do acordo, contra a pressão norte-americana.
O estranho caso da inspetora
O nível de tensão internacional com Teerão agravou-se também depois de se saber que, pela primeira vez, o país impediu uma inspetora da AIEA de entrar nas suas instalações nucleares, invocando razões de segurança.

O embaixador iraniano junto da AIEA, Gharib Abadi, acusou a inspetora de ter tentado entrar nas instalações com uma substância explosiva.

"O Irão espera que a Agência coopere de forma apropriada e tanto quanto necessário" para esclarecer o sucedido, declarou, acrescentando que a inspetora "não foi detida" e que o pais facilitou mesmo a sua partida.

O incidente ocorreu em Natanz, na semana passada e, juntamente com o recomeço das operações em Fordo, levou a União Europeia a expressar "extrema preocupação".

O bloco europeu apelou "ao Irão para garantir que os inspetores da AIEA possam cumprir a sua missão", mas considerou também o caso encerrado.
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