EUA reveem estratégia para com a China. Encontro marcado para o Alasca ao mais alto nível na próxima semana

por Graça Andrade Ramos - RTP
Bandeiras dos Estados Unidos da América e da China, à porta do edifício sede de uma multinacional norte-americana em Pequim, em fevereiro de 2021 Reuters

O secretário de Estado norte-americano, Anthony Blinken vai reunir-se dia 18 de março com Yang Jiechi, diretor do Gabinete da Comissão Central dos Negócios Estrangeiros da China e com Wang Yi, conselheiro de Estado, em Anchorage, Alasca, anunciou o Departamento de Estado esta quarta-feira.

O encontro diplomático ao mais alto nível entre as duas maiores potências do planeta é o primeiro contacto do género sob a Administração Biden e conclui uma semana de diversas iniciativas norte-americanas destinadas a rever e a formatar a estratégia do novo Presidente para a Ásia e especificamente para a China. Biden aproveitou a primeira visita do seu mandato ao Pentágono, esta quarta-feira, para anunciar que os EUA vão mudar a agulha face à China.

Segunda-feira, a porta-voz da Casa Branca, Jen Psaki, afirmou à imprensa que Biden está ciente de que os EUA estão numa competição séria com a China e que pretende ter "paciência" nas relações com Pequim.

"Estamos a partir de uma base de paciência quanto às nossas relações com a China", disse Psaki aos jornalistas.

"Isso significa que vamos ter consultas com os nossos aliados. Vamos ter consultas com democratas e com republicanos e vamos deixar os processos entre agências desenvolverem-se para rever e avaliar como iremos prosseguir na nossa relação" com Pequim, precisou a porta-voz.

No seu discurso no Pentágono, Biden ecoou esta estratégia revelada há dois dias, afirmando que tanto o apoio bipartidário norte-americano como as alianças internacionais são necessárias para uma aproximação bem sucedida à China.

"É dessa forma que iremos enfrentar o desafio da China e garantir que o povo americano vence a competição no futuro", afirmou Biden.
Pentágono avalia respostas militares
Em contraste com a frontalidade da política comercial agressiva e anti-chinesa seguida pelo seu antecessor Donald Trump, o novo Presidente optou pela prudência, sem contudo descurar uma eventual resposta militar.

No seu discurso, Biden anunciou que recebeu do secretário da Defesa, Lloyd Austin, informações sobre um novo grupo de trabalho do Pentágono, de 15 membros, cuja missão será estudar as atividades chinesas e apresentar recomendações dentro de quatro meses quanto à estratégia a seguir. "Necessitamos de enfrentar as ameaças crescentes da China, para manter a paz e defender os nossos interesses na região do Indo-Pacífico e globalmente", justificou Joe Biden, a partir do Pentágono.


Para já, as forças militares norte-americanas investem em demonstrações de capacidade e de presença.

No início da semana, dois grupos de vasos de guerra norte-americanos realizaram exercícios no Mar do Sul da China, com Pequim a acusar Washington de ameaçar a paz e a estabilidade.

A atividade militar dos Estados Unidos foi uma resposta às pretensões territoriais e à militarização chinesas quanto ao Mar do Sul da China, numa estratégia de intimidação das vizinhas Malásia e Filipinas e do Vietname, que reclamam para si áreas da mesma zona.

Os Estados Unidos querem que Pequim esteja consciente de que não sairá impunede qualquer ação mais musculada.
Uma semana de iniciativas
Na próxima sexta-feira, os norte-americanos deverão liderar a primeira reunião do Quad, que agrupa os Estados Unidos, a Índia, o Japão e a Austrália e visa contrariar a influência crescente da China na Ásia.

E nos dias seguintes, Anthony Blinken e Lloyd Austin irão reunir-se com os seus homólogos aliados da Ásia, no Japão e em Seul. Só depois se dará a reunião no Alasca, onde as duas partes irão "debater uma série de questões", conforme revelou o Departamento no seu comunicado, sem mais detalhes.

"A reunião terá lugar após as reuniões do secretário Anthony Blinken com os seus aliados regionais mais próximos, em Tóquio e Seul", especificou o Departamento de Estado, acrescentando que a conselheira para a Segurança Nacional, Jake Sullivan, irá igualmente estar presente no encontro do Alasca.

O Departamento de Estado confirmou ainda que Anthony Blinken deverá regressar à capital a 19 de março, sem mencionar a agenda de Sullivan.
Confronto seria "desastroso" adverte Pequim
No início de fevereiro, Blinken avisou Yang que os Estados Unidos continuarão a defender o respeito pelos direitos humanos em Xinjiang, no Tibete e em Hong Kong. O secretário de Estado também pressionou Pequim a condenar o golpe militar em Myanmar, de 1 de fevereiro, que depôs o governo eleito da líder pró-democracia Aung San Suu Kyi.

Na mesma ocasião, Blinken reafirmou o propósito de Washington em colaborar com os seus aliados na região, de forma a responsabilizar a China pela estratégia de desestabilização do indo-Pacífico, incluindo manobras militares recentes no estreito de Taiwan.

No mês passado, no seu primeiro telefonema oficial, os Presidentes chinês e norte-americano trocaram as primeiras impressões e concordaram em continuar a discordar em múltiplas questões, com Xi Jin Ping a avisar Joe Biden que um confronto será "desastroso" para ambas as nações.

Neste clima de tensão, ignora-se se será possível sair fumo branco do encontro entre os responsáveis pela diplomacia de Washington e de Pequim no Alasca, até porque os Estados Unidos estão a guardar o jogo quanto à agenda.
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