Fiel a Xi Jinping. Li Qiang, de dirigente em Xangai a expectável primeiro-ministro da China

por Carlos Santos Neves - RTP
Foi no domingo que o chefe do Partido Comunista em Xangai, de 63 anos, entrou no Grande Salão do Povo, em Pequim, a seguir os passos de Xi Jinping Tingshu Wang - Reuters

Catapultado no culminar do 20.º Congresso do Partido Comunista da China para número dois do Comité Permanente do Politburo, Li Qiang posiciona-se agora como o mais do que provável futuro primeiro-ministro do colosso asiático. Qiang, até agora líder da estrutura partidária em Xangai, sai ileso do caos do confinamento pandémico da última primavera no coração financeiro do país. Porque tem sido um dos homens do aparelho mais fiéis a Xi Jinping, o critério dos critérios no regime do presidente.

Foi no domingo que o chefe do Partido Comunista em Xangai, de 63 anos, entrou no Grande Salão do Povo, em Pequim, a seguir os passos de Xi Jinping. Estava carimbado o passaporte de Li Qiang para a ascensão a primeiro-ministro – o que deverá concretizar-se em março, quando se realizar a sessão legislativa anual; espera-se que Li Keqiang deixe então o cargo, ao cabo de dois anos em funções.

Qiang é uma surpresa para boa parte da comunidade internacional. Todavia, num congresso em que os fiéis foram premiados e os críticos arredados, o dirigente do PCC em Xangai teria sempre de se notabilizar.

A lealdade a Xi Jinping foi suficientemente sólida para que até os evidentes problemas na gestão da pandemia no centro financeiro da China pudessem ser esquecidos, tal como o facto de o potencial primeiro-ministro não ter acumulado experiência como vice-primeiro-ministro, tão-pouco como responsável pela administração de qualquer província menos próspera, até recentemente requisitos para quem aspirasse a ascender na hierarquia.Como observa o jornal britânico The Guardian, chegou a especular-se que pudesse ser Wang Yang, antigo vice-primeiro-ministro, o potencial número dois do regime. Contudo, como figura de proa da Liga da Juventude Comunista da China, fação na qual Xi Jinping vê uma ameaça ao seu poder, as suas reais hipóteses estariam à partida diminuídas.


“Ele é alguém próximo a Xi e tem a sua confiança. Xi está agora rodeado de yes men e não há espaço para outros rivais”, refere, citado no Guardian, o professor Jean-Pierre Cabestan, investigador do Asia Centre, grupo de reflexão com sede em Paris.

A ideia de um PCC cada vez mais centrado em Xi Jinping, sem espaço para dissensões ou protagonismos alheios, parece ter ficado patente, por exemplo, na forma como o quase octogenário Hu Jintao, antigo presidente, foi retirado do palco do Grande Salão do Povo.


A agência Nova China limitou-se a reportar que Hu Jintao "não estava a sentir-se bem".

A ligação entre Li e Xi data de há duas décadas, quando o segundo liderava a estrutura do PCC na província de Zhejiang e o primeiro era o seu chefe de gabinete. De 2004 a 2007 serviu Xi Jinping como principal assessor. Este último tornar-se-ia, subsequentemente, líder partidário em Xangai e, adiante, presidente da China. Li Qiang foi então promovido ao cargo de governador de Zhejiang. Mais tarde, tornar-se-ia secretário do partido na província de Jiangsu.Li Qiang, Cai Qi e Li Xi, que entraram também para o poderoso Comité Permanente do Politburo, são figuras do denominado Novo Exército Zhijiang. Trabalharam sob o comando de Xi Jinping na província de Zhejiang.

Caso se confirme a sua entronização como primeiro-ministro, Li Qiang terá sobre a secretária um pesado mandato: reabilitar a segunda maior economia do mundo, enfraquecida por quase três anos da restritiva política de zero covid no país de origem da pandemia; gerir o contexto de degradação acelerada das relações com os Estados Unidos, com Taiwan por pano de fundo.
“O mundo precisa da China”
Reconduzido no domingo – como líder do PCC e das Forças Armadas -, Xi Jinping mostra-se agora como o mais poderoso líder da China moderna. Diante da imprensa, o presidente quis deixar desde logo uma epígrafe para o arranque do terceiro mandato de cinco anos: “A China não pode desenvolver-se sem o mundo e o mundo também precisa da China”.

“Criámos dois milagres: um rápido desenvolvimento económico e uma estabilidade social a longo-prazo”, clamou, num balanço de uma década de poder, para depois agradecer “ao conjunto do partido pela confiança” e prometer trabalhar para “a irreversibilidade e a vitalidade do socialismo a nível mundial”.Ao fim de uma semana de deliberações à porta fechada, o Comité Central do PCC sofreu uma renovação de 65 por cento dos seus membros. Pela primeira vez em 25 anos, o núcleo de decisão política do partido, formado por 24 representantes, não inclui qualquer mulher.

Na sequência da recondução de Xi, o presidente russo e o líder da Coreia do Norte remeteram-lhe “calorosas felicitações”. Vladimir Putin disse-se mesmo “encantado” por poder prosseguir um “diálogo construtivo e um estreito trabalho comum”. Kim Jong-un anteviu “um futuro mais belo” para as relações bilaterais.

c/ agências
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