Força Aérea da Alemanha chamada a transferir doentes Covid entre hospitais

por RTP
Um avião da Luftwaffe recebe doentes Covid-19 em Memmingen, no sul da Alemanha, para os transportar para a Renânia do Norte-Vestefália, devido à pressão pandémica nos hospitais do sul Reuters

É a primeira vez que os aviões especiais para transporte de pacientes em cuidados intensivos das Forças Armadas do país, as Bunderwehr, são usados para doentes com Covid-19 dentro da Alemanha.

O agravamento da pandemia está a levar os hospitais do sul do leste do país a emitir alertas por falta de camas nas suas UCI, devido ao grande aumento de doentes graves. A agência de notícias alemã, dpa, adiantou de manhã que um avião A310 medevac da Luftwaffe, equipado com seis camas de cuidados intensivos, seria utilizado para transferir doentes de Memmingen, no sul, para o estado da Renânia do Norte-Vestefália durante a tarde de sexta-feira.

O ministro da Saúde da Alemanha, Jens Spahn, anunciou a necessidade de transferência de doentes entre os estados, sublinhando que pela primeira vez se fez apelo ao serviço da Força Aérea devido ao enorme número de pacientes a transportar.

O governador da Saxónia, o estado com a maior taxa de infeção per capita no país, apelou à antecipação de uma reunião entre responsáveis federais e estatais, planeada para 9 de dezembro.

Necessitamos de reduzir a vida pública e económica ao máximo e providenciar auxílio financeiro às empresas afetadas” disse Michael Kretschmer ao grupo de notícias alemão RND. “A hesitação será castigada”, acrescentou.

O ministro-presidente da Baviera, Markus Soeder, apelou por seu lado em conferência de imprensa à vacinação obrigatória em todo o país. “Necessitamos de uma estratégia nacional eficaz de contenção”, considerou, defendendo um “mandato de vacinação o mais rapidamente possível”, admitindo a sua implementação a partir de 1 de janeiro.

Soeder exigiu uma “travagem de emergência” nacional e ainda ação contra uma nova variante recentemente descoberta na África do Sul. Um primeiro caso desta variante, considerada "preocupante" pela OMS, foi detetado esta sexta-feira na Bélgica.
Mais de 100 mil mortos
A agência de controlo sanitário da Alemanha reportou 76.414 novos casos confirmados de infeção com o SARS-CoV-2 só nas últimas 24h. O Instituto Robert Koch registou ainda mais 357 óbitos com Covid-19, o que fez o total de mortos desde o início da pandemia superar a barreira dos 100 mil (100,476) na Alemanha.

A chanceler Angela Merkel lamentou os números e apelou a maiores restrições em resposta ao aumento de casos.

“É muito triste naturalmente termos de lamentar 100 mil vítimas do coronavírus”, afirmou em conferência de imprensa quinta-feira em Berlim. “E infelizmente, neste momento, mais de 300 mortes são somadas a cada dia”, acrescentou, avisando que deverão morrer várias centenas de pessoas nos próximos dias.

As mortes “correlacionam-se de forma clara com o número de infeções que estão a ocorrer”, lembrou. “Sabemos quantas pessoas em média não sobrevivem a esta doença”. “A situação é grave porque estamos ainda em crescimento exponencial e porque os casos que estamos a detetar atualmente são basicamente os que estarão em cuidados intensivos dentro de 10 a 14 dias”, referiu a chanceler, que cumpre os últimos dias de mandato, antes de ser substituída pelo novo Governo.

O jornal Bild refere que Angela Merkel pretendia impor um novo confinamento em toda a Alemanha mas foi vetada pelo novo executivo que se apresta a tomar posse nos primeiros dias de dezembro.

O impasse governamental tem sido aliás apontado como fator agravante da pandemia, a par da reticência dos alemães em vacinar-se e dos protestos contra as restrições.
Situação mais grave de sempre
O ministro alemão da Saúde anunciou entretanto que os voos provenientes da África do Sul só poderão transportar cidadãos alemães e que os viajantes terão de se submeter a uma quarentena de 14 dias, estejam ou não vacinados.

“A última coisa de que precisamos é de uma nova variante que cause ainda mais problemas”, desabafou Spahn, numa altura em que a União Europeia suspendeu os voos de sete países da África Austral.A nova variante do SARS-CoV-2, inicialmente designada B.1.1.529 e agora batizada como Omicron pela Organização Mundial de Saúde, apresenta um total de 32 mutações incomuns na proteína spike, a parte do vírus que a maioria das vacinas usa para preparar o sistema imunitário contra a Covid-19, ou seja, cerca do dobro das mutações encontradas na variante Delta, altamente transmissível.

O responsável afirmou que os contactos entre as pessoas necessitam de ser reduzidos ao máximo, referindo que “a situação é extremamente grave, mais grave do que em qualquer outra altura da pandemia”.

Spahn não se comprometeu contudo com a defesa de restrições semelhantes às impostas noutras vagas de Covid-19, quando escolas, lojas de serviços não essenciais e outras áreas da vida pública foram encerradas.

A Áustria, face a números da mesma ordem, impôs esta semana o confinamento geral de 10 dias, renovável por idêntico período.
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