"Guerra em várias frentes". Israel alerta para mais operações militares na Cisjordânia

por Mariana Ribeiro Soares - RTP
Raneen Sawafta - Reuters

Israel alertou que vai realizar mais operações militares no campo de refugiados de Jenin, onde dezenas de pessoas foram mortas desde terça-feira. O serviço militar e de inteligência israelita avisou que uma "série de operações" serão realizadas em Jenin enquanto Israel enfrenta uma "guerra em várias frentes" que agora se deslocou para a Cisjordânia ocupada. Na quinta-feira, milhares de famílias foram obrigadas a abandonar o campo de refugiados de Jenin, numa altura em que a Cisjordânia está paralisada por bloqueios de estradas.

As forças israelitas reforçaram, nos últimos dias, a operação "muro de ferro" na Cisjordânia.

A operação, que envolve grandes colunas de veículos apoiados por helicópteros e drones, foi lançada durante primeira semana de cessar-fogo em Gaza, que teve início do domingo passado.

Autoridades israelitas afirmam que a operação no campo de refugiados em Jenin tem como alvo o que os militares afirmam ser grupos militantes apoiados pelo Irão naquela cidade, que é conhecida como a capital da resistência palestiniana.

"Precisamos de estar preparados para continuar no campo de Jenin, o que o levará a um lugar diferente", disse o tenente-general Herzi Halevi, chefe do exército israelita, em comunicado.

Pelo menos 12 pessoas morreram e 40 ficaram feridas desde o início da operação militar israelita em Jenin.
Para além disso, pelo menos 16 palestinianos foram detidos pelas forças israelitas na Cisjordânia esta sexta-feira, de acordo com a agência de notícias palestiniana Wafa.

Na quinta-feira, perto de duas mil famílias foram obrigadas a abandonar o campo de refugiados de Jenin, com drones equipados com altifalantes a sobrevoaram a cidade e a pedirem a evacuação.

O exército israelita negou ter dito aos moradores para deixarem as suas casas, afirmando que estava a "permitir que qualquer morador que escolhesse sair da área o fizesse por rotas seguras e organizadas com a proteção das forças de segurança israelitas".
Cisjordânia paralisada por bloqueios de estradas
No entanto, os relatos que chegam da Cisjordânia descrevem uma cidade paralisada por bloqueios de estradas. Só as ambulâncias podem circular para prestar auxílio aos feridos da intervenção militar e mesmo assim correm grande risco.

"Tudo começou na noite de domingo para segunda-feira, acordamos e descobrimos que havia barreiras de metal nas estradas que levam a Jericó, Jerusalém e Nablus", disse à AFP Bashar Basiel, um padre da vila de Taybeh, a nordeste de Ramallah.

"Na segunda-feira à noite, as pessoas estavam a regressar de Ramallah" depois do trabalho "e ficaram presas nos seus carros das 16h00 às 2h00", explica, especificando que cada veículo é revistado pelo exército israelita.

"Já nos sentíamos como se estivéssemos na prisão, mas agora é como se estivéssemos em confinamento solitário", disse um residente de Ramallah à AFP, explicando que uma viagem que normalmente levava vinte minutos levou duas horas na quarta-feira.A Cisjordânia é um território palestiniano ocupado por Israel desde 1967 e dividido pela colonização israelita, considerada ilegal pelo direito internacional.

"Talvez este seja o início da anexação total da Cisjordânia?", questionou.

"Não vivíamos uma situação tão difícil desde a segunda Intifada", disse o padre Basiel, referindo-se à revolta palestiniana entre 2000 e 2005.

"Não nos sentimos seguros e não podemos viver assim", acrescenta Basiel. "Não sabemos exatamente qual é o plano dos israelitas, mas eles querem que deixemos o país", afirma.

c/agências
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