Hamas desmente Blinken e nega alterações ao acordo de cessar-fogo com Israel
O secretário de Estado norte-americano afirmou esta quarta-feira no Catar que o grupo palestiniano propôs diversas alterações à mais recente proposta, apoiada pelos EUA e votada favoravelmente pelo Conselho de Segurança da ONU, para um cessar-fogo com Israel em Gaza.
Israel já veio dizer, oficiosamente, que o Hamas rejeitou o acordo. Izzat al-Rishq, do gabinete político do Hamas, afirmou entretanto que a resposta formal do grupo à proposta norte-americana e israelita foi "responsável, série e positiva", abrindo um "caminho abrangente" para um acordo.
Na terça-feira, o secretário de Estado afirmou que o destino da proposta cabia somente ao Hamas.
"Israel aceitou a proposta como estava", sublinhou Blinken, apesar do primeiro-ministro Benjamim Netanyahu ter expressado publicamente dúvidas. "O Hamas podia ter respondido com uma única palavra: sim".
"Chega-se a um ponto numa negociação, e isto arrasta-se há muito tempo, chega-se a um ponto em que, se um lado continua a alterar as suas exigências, incluindo fazer exigências e insistindo em alterações a coisas que já tinha aceite, tem de se questionar se está ou não de boa fé", disse Blinken.
"É tempo de parar de regatear e de inciar o cessar-fogo. É tão simples como isso" , afirmou.
O Hamas tem insistido em garantias escritas sobre o plano de cessar-fogo avançado esta semana, revelaram fontes egipcias envolvidas nas negociações.
Negociações demoradas
A resolução aprovada pelo Conselho de Segurança da ONU na segunda-feira prevê três fases para um cessar-fogo e a libertação de reféns israelitas raptados no ataque do Hamas a 7 de outubro, que desencadeou a resposta em força de Israel.
A primeira fase haveria um "cessar-fogo imediato, total e completo" com a libertação de alguns reféns e "retirada de forças israelitas das áreas populosas de Gaza". Na segunda fase, "por acordo de ambas as partes", haveria um cessar das hostilidades, em troca dos reféns remanescentes e a retirada total das forças israelitas do enclave.
A terceira fase seria o "início de um plano de vários anos de reconstrução de Gaza e a devolução às famílias dos restos mortais dos reféns ainda na posse do Hamas".
Os Estados Unidos procuram pressionar o Hamas, não só prometendo ajudas extra avaliadas em 404 milhões de dólares para ajuda humanitária a Gaza, mas colocando o foco na futura reconstrução da Faixa de Gaza junto de países da região, incluindo o Egito, a Jordânia e o aliado dos palestinianos, o Catar.
É "crucial" caminhar para um "cessar fogo imediato" em Gaza para "um fim duradouro" da guerra, disse Blinken esta quarta-feira. "Nas próximas semanas, iremos apresentar propostas para elementos-chave para o plano do 'dia seguinte', incluindo ideias concretas sobre a administração, a segurança, a resconstrução" do enclave, acrescentou, sem mais detalhes.
Os Estados Unidos consideram o Hamas, que conta com o apoio armado do Irão e cujo grande objetivo é destruir Israel, um grupo terrorista. Os islamitas ficaram isolados na administração da Faixa de Gaza em 2007, após ter vencido no enclave as eleições palestinianas e de ter assassinado ali os concorrentes da Fatah, que havia vencido as eleições na Cisjordânia.
De então para cá, foram múltiplos os ciclos de ataques e contra-ataques entre Gaza e Israel, intervalados de tréguas frágeis. É pouco plausível que os Estados Unidos e Israel aceitem que Gaza continue a ser administrada somente ou prioritariamente pelo Hamas, após um eventual fim total das hostilidades.