Iémen. Agrava-se rotura da aliança militar entre Arábia Saudita e Emirados

por Graça Andrade Ramos - RTP
A cidade de Ataq, no sul do Iémen, foi bombardeada pelos Estados Unidos em 2013, no combate contra a al Qaeda Reuters

Após dois dias de combates com antigos aliados, e dias após perderem a capital do sul do Iémen, Aden, as forças governamentais, apoiadas pela Arábia Saudita, garantiram nas últimas horas o controlo de Ataq, principal cidade da região sul de Shabwa, rica em recursos petrolíferos.

A informação foi avançada na rede Twitter na quinta-feira, pelo ministro dos Transportes do Iémen, Saleh al-Gabwani, que citou "fontes directas" para garantir que as forças governamentais "controlam a situação" em Ataq.




O ministro negou ainda que os combatentes separatistas estivessem a ocupar ruas e edifícios.

Os confrontos foram o mais recente episódio de violência entre as forças leais ao Presidente Abd-Rabbu Mansour Hadi, exilado na Arábia Saudita, e milícias do sul, armadas e treinadas pelos Emirados Árabes Unidos.

Quinta-feira, Rajeh Badi, porta-voz do Governo de Hadi, acusou Abu Dabi de ser responsável pela tentativa dos separatistas tomarem Ataq, num sinal de rotura com os EUA.
O fim da coligação
Os combates por Ataq tornam ainda mais evidente a clivagem na aliança formada em 2015 pela Arábia Saudita e pelo Emirados Árabes Unidos, para suster o avanço sobre todo o Iémen por parte da guerrilha Houthi, apoiada pelo Irão. A aliança sunita procurava salvaguardar para si o controlo da navegação no Golfo de Aden, situado no extremo leste do Mar Vermelho, evitando que este caísse na esfera de influência do Islão xiita liderado pelo Irão.

Anos de impasse levaram Abu Dabi a retirar-se do terreno em junho passado, continuando a apoiar os milhares de combatentes do sul que escoram o STC, o Conselho Transitório do Sul do Iémen, que exige, pelo menos, autonomia para o sul poder gerir os próprios recursos.

Estas milícias do sul, conhecidas pela designação Cinto de Segurança, assumiram há dias o controlo da província de Abyan, depois de ganharam dia 14 de agosto passado o domínio absoluto de Aden.
Cimeira ou não?
O controlo de Ataq por parte das forças governamentais - que, depois de perderem a capital do Iémen, Sanaa, para os Houthi, perderam há 10 dias para os separatistas Aden, a segunda maior cidade do país,  - pode implicar um revés pretensões do STC, de hegemonia e recuperação de independência territorial.

O Conselho sulista contesta o domínio do Governo de Hadi por parte do partido Islah, apoiante do Presidente, a quem consideram próximo da Irmandade Muçulmana oriunda do Egito.

Acusa mesmo o Islah de se ter coligado à guerrilha Houthi para um ataque que vitimou um dos comandantes do Cinto de Segurança, em finais de julho.

A Arábia Saudita apelou a uma cimeira sob os auspícios da ONU, para por fim ao impasse nos combates e à rotura na coligação.

O Governo de Hadi respondeu que só se senta à mesa das negociações quando os separatistas recuarem e lhe cederem o controlo do terreno conquistado nas últimas três semanas.
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