Impeachment. Donald Trump lança dúvidas sobre acusações no caso Zelensky

por Graça Andrade Ramos - RTP
Donald Trump, no relvado da Casa Branca, a 27 de setembro de 2019. Reuters

Numa série de tweets, o Presidente norte-americano lançou esta sexta-feira uma série de dúvidas sobre todas as acusações democratas, quanto à gravidade da sua conversa telefónica com o recém-eleito Presidente ucraniano, Volodymyr Zelensky.

Donald Trump tem mantido que esta conversa, ao contrário do que tem sido denunciado, foi absolutamente "apropriada" e "perfeita".


"Se essa conversa perfeita com o Presidente da Ucrânia for considerada inapropriada, então nenhum futuro Presidente poderá JAMAIS falar com um líder estrangeiro!", escreveu Trump.

Antes disso, o Presidente norte-americano tinha já acusado o presidente do Comité de Inteligência da Câmara dos Representantes, o democrata Adam Schiff, de mentir ao Congresso, esta quinta-feira.
Paródia?
No início da audiência ao diretor interino da Agência Nacional de Informação, Joseph Mcguire, Schiff referiu excertos da conversa de Trump com Zelensky.

De acordo com Schiff, o Presidente norte-americano teria avisado o ucraniano de que iria dizer "sete vezes" a Zelensky para "encontrar porcaria sobre o meu opositor político".

Soube-se depois que Schiff pretendia fazer uma "paródia" com a conversa de Trump. Só que não disse nada sobre isso quando a leu, deixando no ar que essas tinham sido as palavras reais do Presidente.

Trump não deixou passar essa falha em branco.


"O Representante Adam Schiff inventou completamente a minha conversa com o Presidente da Ucrânia e leu-a ao Congresso e a Milhões. Deve demitir-se e ser investigado. Tem feito isto durante dois anos. É um homem doente"", escreveu Donald Trump.
Dúvidas sobre o denunciante
Schiff, um dos maiores opositores de Trump na Câmara dos Representantes, foi um dos principais intervenientes nas acusações a Trump no caso da intervenção russa nas últimas eleições presidenciais norte-americanas.

Donald Trump poderá vir a insinuar que o próprio Schiff, enquanto presidente do Comité de Inteligência, estará profundamente envolvido na forma como se desenvolveu este mais recente escândalo, o qual poderá desembocar num processo de destituição.

Um dos tweets do Presidente, esta sexta-feira, parece implicar isso mesmo, ao pôr em dúvida a existência do "delator" anónimo que denunciou todo o caso, identificado nas últimas horas como agente da CIA.


"Parece cada vez mais provável que o alegado Delator não é sequer nenhum denunciante. E ainda, toda a informação de segunda mão que se provou ser tão imprecisa que se calhar nem sequer houve mais ninguém, um informador ou um espião, a passar-lha? Um operador sectário?"
A estratégia democrata
Trump está a ser acusado de, no telefonema com Zelensky a 25 de julho, ter pressionado o Presidente ucraniano para investigar o comportamente de Hunter Biden, filho do principal candidato presidencial democrata, Joe Biden, enquanto membro da administração de uma empresa ucraniana.



Os democratas consideram prova dessa pressão a suspensão inexplicada do envio de fundos de auxílio à Ucrânia, sob ordens da própria Sala Oval, o gabinete do Presidente.

Para os democratas é igualmente significativo que a Casa Branca tenha enviado a conversa de Trump com Zelensky para um arquivo de alta segurança.

Joseph Mcguire e o Procurador-geral dos Estados Unidos, William Barr, são ainda suspeitos de terem tentado impedir que a denúncia sobre a alegada pressão de Trump a Zelensky fosse investigada pela Câmara dos Representantes.

Ambos poderão vir a ser intimados a depor no processo de destituição de Donald Trump anunciado pelos democratas.
Apoios à investigação
Pelo menos um republicano apoiou já o inquérito para a destituição de Trump.

Trata-se de Phill Scott, represente de Vermont, que diz querer esclarecer a fundo toda a questão. Scott já alinhou com a agenda democrata noutras ocasiões.

Contudo, há ainda 12 representes democratas relutantes em apoiar o processo iniciado pela Presidente da Câmara dos Representantes, a democrata Nancy Pelosi.

Adam Schiff afirmou esta sexta-feira à CNN, que prevê uma próxima semana atarefada na preparação do processo, admitindo que poderá ter tudo pronto no próximo feriado do Dia de Ação de Graças, a 28 de novembro de 2019.
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