Israel diz estar preparado para atacar Irão mesmo com novo acordo nuclear

por Mariana Ribeiro Soares - RTP
Esta semana foram retomadas as conversações para reavivar o acordo nuclear de 2015, que se desmoronou após a saída dos EUA do mesmo, em 2018 Nir Elias - Reuters

Israel diz estar preparado para agir de forma independente, se necessário, contra o Irão mesmo se as potências mundiais chegarem a um acordo com Teerão, afirmou o primeiro-ministro Naftali Bennett esta terça-feira, um dia depois do recomeço das negociações sobre o acordo nuclear de 2015. Apesar das promessas, há quem duvide de um possível ataque israelita no caso de ser assinado esse acordo e alegam que Israel está apenas a fazer bluff.

Na segunda-feira foram retomadas as conversações para reavivar o acordo nuclear de 2015, que se desmoronou após a saída dos EUA do mesmo, em 2018. No entanto, Israel opôs-se ao retomar das negociações, alegando que “o Irão está a enganar o mundo”.

“Apresentámos aos nossos aliados algumas informações concretas que mostram que o Irão está a enganar o mundo de forma sistemática“, disse o ministro dos Negócios Estrangeiros israelita, Yair Lapid.

A única coisa que importa ao Irão é que as sanções sejam levantadas, e milhares de milhões de dólares sejam investidos no seu programa nuclear, e canalizar fundos para o Hezbollah [a milícia xiita que controla o sul do Líbano], Síria, Iraque e a rede terrorista que eles implantaram em todo o mundo”, acrescentou Lapid, que em 2023 assumirá a liderança rotativa do governo de coligação israelita.

Desta forma, Lapid e o primeiro-ministro israelita, Naftali Bennett, deixaram claro que, se necessário, Israel está preparado para agir de forma independente contra o Irão mesmo que as potências mundiais cheguem a um acordo com Teerão.

“Israel não fará parte de um acordo e manterá sempre o seu direito de agir e de se defender por conta própria”, disse Bennett à Rádio do Exército.

“Claro que preferimos agir em cooperação [com a comunidade internacional], mas, se necessário, agiremos sozinhos. Vamos defender-nos“, sublinhou Lapid numa audiência no Comité de Negócios Estrangeiros e Defesa do Knesset, o parlamento israelita.

“Israel não permitirá que o Irão se torne um Estado no limiar do nuclear”, insistiu Lapid, acrescentando que “o principal desafio da política externa de Israel é travar o programa nuclear iraniano“. As negociações, que ocorrem em Viena, visam, ao mesmo tempo, reintegrar Washington no acordo e garantir que o Irão respeita os seus compromissos nucleares, que têm vindo a ser sistematicamente violados desde a saída dos EUA do acordo e da consequente escalada de sanções a Teerão.

O coordenador da União Europeia, Enrique Mora, disse na segunda-feira que as negociações estarão concluídas numa questão de semanas, mas Teerão já declarou que a prioridade é o levantamento das sanções dos EUA não fazendo qualquer referência à limitação do seu programa nuclear. Bennet mostra-se, por isso, cético relativamente às negociações e pede uma "posição mais firme" por parte das potências mundiais.

"É claro que pode haver um bom acordo. Claro. Conhecemos os parâmetros. Mas é expectável que isso aconteça na dinâmica atual? Não. Porque é preciso haver uma posição muito mais firme", afirmou Bennett.


“O Irão está a negociar com cartas muito fracas, mas, infelizmente, o mundo está a agir como se o Irão estivesse numa posição de poder”, acrescentou o primeiro-ministro israelita. “Eles são um regime corrupto e muito extremista”, afirmou Bennett.

Por sua vez, quando questionado sobre os comentários do comandante da Força Aérea, que disse na semana passada que Israel poderá atacar e danificar significativamente as instalações nucleares do Irão, Bennett apenas disse que preferia a abordagem de “falar pouco e fazer muito”. “Não acho que precisemos de acordar todos os dias a ameaçar a torto e a direito. É mais importante agir”, sublinhou.
Estará Israel a fazer bluff?
Há, no entanto, quem duvide das palavras de Bennett e Lapide relativamente a um possível ataque de Israel ao Irão num contexto de acordo de Teerão com as grandes potências. Uma análise do Jerusalem Post considera que Israel está a fazer bluff e que no caso de se chegar a um acordo – onde Teerão se comprometa a uma redução drástica do seu programa nuclear – Israel não envidará pelo esforço de planear qualquer ataque, mas sim para desvendar segredos iranianos que provem que Teerão “está a enganar o mundo”.

A história assim o diz. Antes de ter sido assinado o acordo nuclear, foram vário os dedos a apontar ao Estado hebraico uma alegada campanha de eliminação seletiva de cientistas nucleares iranianos e outros responsáveis pelo programa nuclear do país. Entre 2010 e 2012, foram assassinados pelo menos quatro cientistas iranianos.

A partir de 2013, altura em que as potências mundiais e o Irão assinaram um acordo nuclear provisório, Israel abrandou a sua política ofensiva contra Teerão e até o Governo de Trump ter abandonado o pacto, em 2018, essa estratégia foi suspensa.

Em vez disso, Israel optou pela missão de descobrir e revelar alegadas fraudes iranianas ao mundo. Em abril de 2018, o então primeiro-ministro Benjamin Netanyahu disse "ter provas conclusivas" de que Teerão estava a conduzir um programa nuclear secreto à revelia do acordo estabelecido em 2015.

Depois da saída dos EUA do acordo e de o Irão ter começado a violar abertamente o acordo nuclear, Israel terá retomado uma posição mais ativa.

Em novembro de 2020, foi assassinado um outro cientista de topo do programa nuclear do Irão e, em abril de 2021, a central nuclear de Natanz, que tinha sido reforçada com novas centrifugadoras para o enriquecimento de urânio, foi alvo de um ataque, cuja responsabilidade o Irão atribuiu a Israel.

Tal como explica o Jerusalem Post, qualquer ataque israelita depois de ser assinado um acordo que limite o progresso nuclear do Irão seria visto pela administração Biden e pela UE como belicismo e poderia levar a retaliações diplomáticas ou mesmo consequências nas áreas de vendas e cooperação militar e de segurança.

“Se de facto houver um novo acordo nas próximas semanas ou meses, mesmo que seja um acordo mau, a liberdade de Israel para atacar solo iraniano será significativamente restringida. E, por mais mantras que sejam repetidos, nada vai convencer o Irão ou qualquer outro do contrário”, lê-se no Jerusalem Post.


c/agências
Tópicos
pub