Bombardeamentos israelitas fizeram esta segunda-feira várias vítimas em Gaza, no Líbano e em Damasco, capital da Síria. Foram intercetados vários drones ao largo de Israel e o tráfego aéreo do aeroporto Ben Gurion, em Telavive, teve de ser por isso suspenso alguns minutos. O movimento xiita libanês Hezbolla disse ter disparado, por seu lado, sobre militares israelitas próximo da fronteira entre o Líbano e Israel.
O exército israelita afirmou ter atingido cerca de 300 alvos do Hezbollah em 24h00, corrigindo um balanço anterior que mencionava apenas 30.
Foi um primeiro balanço da sua ofensiva, iniciada domingo, contra "infraestruturas" onde se concentra o "poder económico" do Hezbollah.
Os alvos foram sucursais da al-Qard al-Hassan, organização financeira afiliada ao grupo xiita libanês Hezbollah, em Baalbek, Sidon, Hermel e Rayak, nos subúrbios do sul de Beirute e nas proximidades do aeroporto.
Durante o dia, os aviões de guerra israelitas bombardearam intensamente vários pontos do bairro de Baalbek e arredores, no leste do país, onde se levantaram grandes nuvens de fumo, visíveis de diferentes pontos da região, informou a Agência Nacional de Notícias libanesa (ANN). Nas últimas 24h foram atingidos mortalmente quatro socorristas no sul do país e outros cinco ficaram feridos, em bombardeamentos israelitas, acrescentou a mesma fonte.
Num dos ataques, ao bairro de Nabi Inaam, em Baalbek, morreram seis pessoas, entre elas um menor, e outras cinco ficaram feridas, reportou o Centro de Operações de Emergência do Ministério da Saúde Pública libanês.
Israel anunciou "novos bombardeamentos" contra locais ligados ao Hezbollah, nas próximas horas.
As Nações Unidas censuraram entretanto "os danos consideráveis", provocados pelos ataques de Israel a propriedades "civis" no Líbano.
"Condenamos o bombardeamento massivo israelita de várias áreas urbanas e residenciais (...) que, segundo o exército israelita, teve como alvo instalações afiliadas à associação financeira Al-Qard al-Hassan", declarou a entidade da ONU em comunicado.
O Alto Comissariado acrescentou que estes ataques causaram "danos consideráveis "em instalações civis", incluindo "propriedades residenciais, infraestruturas civis e instalações comerciais".
O plano dos EUA
Já os Estados Unidos afirmaram querer, "o mais rapidamente possível", pôr fim à guerra aberta no Líbano entre Israel e a milícia xiita do país, antes das eleições presidenciais de 5 de novembro, que podem alterar de forma significativa a política norte-americana para a região.
A Administração Biden quer invocar como base desse cessar-fogo a resolução 1701, das Nações Unidas, que impôs em 2006 o recuo de elementos armados do Hezbollah e de soldados de Israel, junto à fronteira israelo-libanesa.
Um emissário especial americano, Amos Hochstein, afirmou esta segunda-feira em Beirute, perante a imprensa, que "não interessa ao Líbano" ligar o seu destino "a outros conflitos na região". Hochstein afirmou estar a trabalhar "sem parar" num cessar-fogo, com base "na resolução 1701 da ONU". "A solução deverá ser semelhante", referiu Hochstein.
"A resolução 1701 conseguiu por fim à guerra em 2006", reconheceu o americano, "mas ninguém fez o que quer que fosse para a implementar". "O compromisso das duas partes para respeitar a resolução não foi suficiente", lamentou.
A resolução previa em 2006 que apenas os capacetes azuis da UNIFIL, a missão de paz das Nações Unidas no Líbano, e o exército libanês, patrulhassem a fronteira entre o Líbano e Israel.
A milícia do Hezbollah conseguiu no entanto instalar arsenais e posições na área ao longo dos últimos 18 anos, os quais tem estado a usar desde há um ano para atacar posições israelitas, rompendo o cessar-fogo.
Na resposta e nos ataques a estes locais da milícia xiita, particularmente desde o reinício da guerra aberta entre ambas as forças após 23 de setembro, Israel tem atingido igualmente posições e soldados da UNIFIL, provocando protestos da comunidade internacional.
No vai e vem dos ataques, o Hezbollah referiu esta segunda-feira ter atacado soldados israelitas em Aïta el-Chaab, aldeia perto da fronteira entre os dois países.
Operações em Jabalia
A agência palestiniana WAFA referiu entretanto 10 mortos e 30 feridos num ataque israelita contra instalações da agência da ONU para os refugiados palestinianos (UNRWA) no norte de Gaza. Israel afirma que a UNRWA tem sido utilizada pelo grupo islamita Hamas para os seus próprios fins, sendo por isso um alvo legítimo.
O comissário da UNRWA, Philippe Lazzarini, acusou Israel, numa mensagem no X, de continuar a impedir a chegada ao norte da Faixa de Gaza de missões humanitárias "com abastecimentos básicos, incluindo medicamentos e alimentos, para a população sitiada".
Israel prometeu dar autorização à entrada dos camiões mas "não há mudanças de maior", referiu à France Presse Juliette Touma, porta-voz da UNRWA. Nos últimos dias, "o que entrou foi muito, muito pouco e, em todos os casos, insuficiente relativamente às necessidades", acrescentou.
Philippe Lazzarini acusou também as tropas israelitas de atacarem hospitais e de cortarem a eletricidade, deixando várias pessoas feridas impossibilitadas de receber cuidados médicos. "As pessoas a tentar fugir estão a ser assassinadas, os seus corpos deixados na rua", descreveu.
A Casa Branca apelou esta segunda-feira todas as partes a cooperar na distribuição da ajuda em Gaza. "A quantidade de auxílio tem de aumentar mais", afirmou a porta-voz da Casa Branca, Karine Jean-Pierre, apesar de ter sido registado um incremento.
"Estamos ameaçados de morte por bombas, sede e fome", afirmou à AFP Raed, um residente do campo de Jabalia. "Jabalia está a ser apagada do mapa e não há restemunhas do crime, o mundo fecha os olhos", acusou.
Residentes e médicos afirmam que Israel esteve esta segunda-feira a cercar hospitais e abrigos para deslocados no norte da Faixa de Gaza, no seu esforço para desalojar e abater militantes do Hamas. O bombardeamento aéreo de uma casa da área fez cinco mortos e vários feridos.
Os soldados estão a juntar os homens e ordenaram às mulheres para abandonar o campo de Jabalia. Invadiram uma escola e detiveram os homens que ali encontraram, tendo incendiado o edifício, perto do Hospital Indonésio.
As chamas propagaram-se aos geradores do hospital, que ficou sem eletricidade. As tropas cercaram as instalações mas "não entraram no hospital", afirmou uma enfermeira, sob anonimato. "Ninguém pode sair nem entrar", acrescentou. Responsáveis médicos disseram ter recusado ordens dos militares israelitas para evacuar três hospitais na área ou deixar os pacientes sem assistência.
Em comunicado, as Forças de Defesa de Israel afirmaram que estão a operar contra "terroristas e infraestruturas terroristas" na área de Jabalia, referindo que milhares de civis estão a ser ajudados a evacuar o campo de forma segura através de rotas organizadas.
Garantiu ainda o contacto com a comunidade médica e o sistema de cuidados de saúde de Gaza, de forma a garantir que os serviços de emergência permanecem operacionais. No passado, lembrou, as tropas de israel desmantelaram em Jabalia infraestruturas e túneis do Hamas, abatendo alguns dos seus combatentes.
Ataque em Damasco
Mais de 1.9 milhões de pessoas estarão deslocadas em Gaza, devido às
operações lançadas por Israel para desmantelar o Hamas e recuperar
reféns raptados a 7 de outubro de 2023.
O conflito envolveu já o grupo imenita xiita Houthi e alastrou nas últimas semanas ao Líbano, com o Irão a ameaçar envolver-se diretamente. A Síria, aliada do Irão e vizinha do Líbano e de Israel, pode igualmente ver-se arrastada para o conflito.
Ao fim da tarde de hoje, o ministério sírio da Defesa noticiou a morte de duas pessoas e ferimentos noutras três, num ataque com um míssil contra uma viatura "civil" que circulava no bairro de Mazzé em Damasco, onde se situa o quartel-general da ONU, assim como embaixadas.
Não foram de imediato reveladas as identidades das vítimas. O ataque foi atribuído a Israel e não seria a primeira vez que as forças israelitas atingiam na Síria alvos ligados ao Hezbollah e ao Irão.
Um correspondente da Agência France Presse indicou que um hotel sofreu estragos e que vários veículos ficarem calcinados pela explosão, ocorrida perto do Ministério das Informações sírio.
Aeroporto Ben Gurion afetado
Os militares israelita reportaram esta segunda-feira a queda, no centro de Israel, de um míssil disparado do Líbano, sem que tivessem sido acionados quaisquer alarmes de aviso à população.
O exército de Israel confirmou também ter intercetado cinco 'drones' que sobrevoavam a costa mediterrânica do país, perto do Aeroporto Internacional Ben Gurion de Telavive, onde as descolagens foram suspensas durante alguns minutos.
"Os veículos aéreos não tripulados foram intercetados antes de entrarem em território israelita", segundo um comunicado militar.
De acordo com a mesma fonte, "não existe qualquer preocupação relativamente a um incidente de segurança na zona do aeroporto Ben Gurion".
A autoridade aeroportuária israelita informou anteriormente que tinha suspendido "por breves instantes" as descolagens "em coordenação com o aparelho de segurança".
Poucos minutos depois, o aeroporto anunciou o regresso à normalidade dos movimentos aéreos.
A origem dos drones não foi mencionada, mas o Hezbollah tem lançado dezenas de aeronaves não tripuladas a partir do Líbano, que chegaram ao centro de Israel.
No sábado, o grupo atingiu a residência privada do primeiro-ministro israelita, Benjamin Netanyahu, em Cesareia, sem causar danos.
com agências