Netanyahu defende controlo do corredor de Filadélfia para obter libertação de reféns

por Lusa

O primeiro-ministro israelita, Benjamin Netanyahu, insistiu hoje que manter o Exército na fronteira entre Gaza e o Egito, conhecido como corredor de Filadélfia, é a única forma de exercer pressão para a libertação dos reféns ainda em Gaza.

"Sair de lá não vai trazer os reféns de volta", declarou Netanyahu num discurso em inglês proferido numa conferência de imprensa para a comunicação social estrangeira.

"Se queremos libertar os reféns, temos de controlar o corredor de Filadélfia", defendeu o governante, sublinhando que essa zona serviu durante anos como rota para o contrabando de armas procedentes do Irão, perante a passividade das autoridades egípcias, e que qualquer acordo sem essa cláusula seria uma ameaça para os israelitas, pelo que "não haverá acordo dessa forma".

O discurso, em que Netanyahu afirmou ter pedido pessoalmente perdão às famílias de alguns dos reféns mortos em Gaza, terminou com o primeiro-ministro a repetir, de diferentes formas, que Israel "não abandonará" o corredor de Filadélfia.

"Não vamos sair [da linha divisória] para voltar daqui a 42 dias, quando sabemos que não poderemos regressar", argumentou, referindo-se à duração que teria a primeira fase de um eventual acordo de cessar-fogo com o movimento islamita palestiniano Hamas, com o qual Israel está há quase 11 meses em guerra na Faixa de Gaza.

Segundo a lógica de Netanyahu, só a pressão militar ajudará à libertação dos reféns ainda nas mãos do Hamas e o cessar-fogo de novembro só aconteceu uma vez e o grupo palestiniano "sentiu a pressão".

O chefe do executivo israelita referiu também a morte, na semana passada, de seis reféns em Gaza, que abalou o país e desencadeou protestos nas ruas, sustentando que, se Israel agora cedesse, tal equivaleria a enviar a mensagem de que "matando mais reféns, [o Hamas] conseguirá mais concessões", o que classificou como uma "loucura imoral".

Israel declarou a 07 de outubro do ano passado uma guerra na Faixa de Gaza para "erradicar" o Hamas, horas depois de este ter realizado em território israelita um ataque de proporções sem precedentes, matando 1.194 pessoas, na maioria civis.

Desde 2007 no poder em Gaza e classificado como organização terrorista pelos Estados Unidos, a União Europeia e Israel, o Movimento de Resistência Islâmica (Hamas) fez também nesse dia 251 reféns, 97 dos quais continuam em cativeiro, tendo 33 deles entretanto sido declarados mortos pelo Exército israelita.

A guerra, que hoje entrou no 334.º dia e continua a ameaçar alastrar a toda a região do Médio Oriente, fez até agora na Faixa de Gaza pelo menos 40.861 mortos (quase 2% da população) e 94.398 feridos, além de mais de 10.000 desaparecidos, na maioria civis, presumivelmente soterrados nos escombros, de acordo com números atualizados das autoridades locais.

O conflito causou também cerca de 1,9 milhões de deslocados, mergulhando o enclave palestiniano sobrepovoado e pobre numa grave crise humanitária, com mais de 1,1 milhões de pessoas numa "situação de fome catastrófica" que está a fazer vítimas - "o número mais elevado alguma vez registado" pela ONU em estudos sobre segurança alimentar no mundo.

Durante a conferência de imprensa, Netanyahu condenou também a pressão internacional contra Israel pelas suas operações na Faixa de Gaza, salientando que a ofensiva em curso em Rafah - que levou mais de 1,4 milhões de palestinianos a fugir da cidade, até então considerada uma zona segura - e que permite agora o controlo do corredor de Filadélfia, teve muitos críticos, entre os quais os Estados Unidos, seu aliado tradicional.

"Parte da razão pela qual os temos sufocados é para controlarmos a sua máquina de dinheiro, que é a passagem de Rafah", explicou.

O primeiro-ministro israelita acusou também o Hamas de ter "rejeitado" tudo o que foi proposto durante as negociações realizadas sob mediação internacional para alcançar um cessar-fogo em Gaza em troca da libertação dos reféns aí mantidos em cativeiro.

"O Hamas rejeitou tudo, e quando tentamos encontrar uma base para iniciar as negociações, eles recusam [e dizem] que não há nada para discutir. Espero que isso mude, porque quero que estes reféns sejam libertados", declarou Netanyahu na conferência de imprensa, desvalorizando as acusações de que a sua insistência em que Israel mantenha o controlo do corredor de Filadélfia esteja a impedir o êxito das negociações.

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