ONU alerta para aquecimento global de quase três graus até 2100

por Rachel Mestre Mesquita - RTP
Margens secas do Lago Titicaca, a maior bacia de água doce da América Latina, está a aproximar-se de níveis baixos recorde, na Ilha Cojata, Bolívia. Claudia Morales - Reuters

Na véspera da cimeira da ONU sobre o clima (COP28), que vai decorrer na próxima semana no Dubai, o Programa das Nações Unidas para o Meio Ambiente (PNUA) publicou esta segunda-feira um relatório que alerta para um aumento da temperatura entre os 2,5 e os 2, 9 graus Celsius até ao final do século, acima do acordado pelo Acordo de Paris, devido à falta de ambição dos países de todo o mundo em respeitar os compromissos climáticos assumidos.

De acordo com o mais recente relatório, as atuais políticas climáticas adotadas para reduzir as emissões de carbono são insuficientes e estão a conduzir o planeta para um aquecimento climático que atingirá ainda este século um aumento entre os 2,5 e os 2,9 graus Celsius, contra o objetivo de 1,5 graus Celsius fixado pelo países no Acordo de Paris, em 2015.

"As tendências atuais estão a conduzir o nosso planeta a um aumento de temperatura de três graus Celsius sem saída. Isto é um fracasso de liderança, uma traição aos vulneráveis e uma enorme oportunidade perdida”, criticou o secretário-geral das Nações Unidas, esta segunda-feira, na apresentação do relatório.

António Guterres explicou que “as energias renováveis nunca foram tão baratas nem tão acessíveis” e garantiu que “ainda é possível tornar o limite de 1,5 graus uma realidade”, mediante a tomada de “medidas espetaculares” por partes dos países. “Para isso, é necessário arrancar a raiz envenenada da crise climática: os combustíveis fósseis" alertou o secretário-geral da ONU.

No novo relatório, intitulado "Broken Record", a ONU manifesta preocupação com novos máximos atingidos, nomeadamente das emissões de gases com efeito de estufa (GEE), nos recordes de temperatura que continuam a ser ultrapassados e na intensificação dos impactos das alterações climáticas em todo o mundo. 

Os especialistas alertam para o perigo de seguir a trajetória definida no Acordo de Paris - aquém da necessidade do planeta e através da qual não será possível travar o aquecimento global no desejado 1,5 graus Celsius - pelo que consideram necessário e urgente que os países façam muito mais do que prometeram. 

"Temos muito trabalho a fazer, porque neste momento não estamos nem perto de onde precisamos de estar" e "precisamos de reduzir as nossas emissões de CO2 de forma fenomenal", disse a diretora executiva do PNUA, Inger Andersen, à agência France Presse.

Segundo o relatório, as emissões de gases previstas para 2030 devem diminuir 28 por cento para que o aumento de temperatura seja de apenas dois graus Celsius ou diminuir 42 por cento se o objetivo for impedir uma subida maior do que 1,5 grau.
COP28, uma oportunidade de viragem?
A poucos dias do início da crucial 28.ª cimeira da ONU sobre o clima (COP28), que decorrerá entre 30 de novembro e 12 de dezembro, a ONU apelou aos líderes mundiais para “redobrarem os seus esforços”, acelerando a transição ecológica rumo a um desenvolvimento com baixas emissões de gases de estufa (GEE) e reforçou o apelo aos países mais ricos e poluentes para tomarem medidas mais ambiciosas e apoiarem os países em desenvolvimento.

"Os líderes devem aumentar drasticamente o seu jogo, agora, com ambição recorde, ação recorde e reduções de emissões recorde. Acabou-se a lavagem verde. Acabou-se o arrastar de pés" afirmou António Guterres, acrescentando que é preciso triplicar as fontes de energia renovável até 2030 e levar gradualmente energia limpa a todos.

Segundo Simon Stiell, secretário executivo da ONU para as Alterações Climáticas, atualmente "os Governos estão a dar passos de bebé para evitar a crise climática, mas têm de dar passos corajosos na COP28 no Dubai para entrarem no bom caminho", concluiu.

c/agências
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