Petroleiro britânico desviado para águas iranianas no Golfo

por Graça Andrade Ramos - RTP
Navios da Armada iraniana Reuters (arquivo)

O Ministério da Defesa do Reino Unido estava, ao fim de tarde desta sexta-feira, a tentar saber o que sucedeu a um petroleiro, de bandeira britânica, que se teria desviado para águas iranianas quando em trânsito no Golfo. Os Guardas da Revolução do Irão já confirmaram ter confiscado o navio.

"Estamos a procurar com toda a urgência mais informação e a monitorizar a situação, depois de relatos sobre um incidente no Golfo", afirmou aos jornalistas um porta-voz do Ministério da Defesa britânico.

Os Guardas da Revolução iranianos confirmaram pouco depois que "confiscaram" o petroleiro britânico.

O Sunday Times afirmou que o Governo britânico se reuniu de emergência, mas, num primeiro momento, o gabinete da primeira-ministra, Theresa May, escusou-se a comentar a situação.

Já o ministro dos Negócios Estrangeiros do Reino Unido, Jeremy Hunt, considerou "inaceitáveis" as capturas pelo Irão de dois navios no Estreito de Ormuz, um de bandeira britânica e outro de bandeira da Libéria.

"Estou muito preocupado com esta apreensão de dois navios pela autoridades iranianas no Estreito de Ormuz", disse Hunt aos jornalistas.

"Vou daqui a pouco para ums reunião do Gabinete Nacional de Segurança, (COBRA), para rever o que já sabemos e o que podemos fazer para garantir a rápida libertação dos dois navios", afirmou.

"Estas capturas são inaceitáveis. É essencial que se mantenha a liberdade de navegação e que todos os navios possam navegar livremente e em segurança na região", acrescentou Hunt.

A televisão estatal iraniana identificou o navio britânico apreendido como Stena Impero, revelando que foi capturado no Estreito de Ormuz.

Os Guardas Revolucionários dizem ter apreendido o petroleiro a pedido das autoridades marítimas da província iraniana de Hormozgan, por "não seguir as regras marítimas internacionais", afirmou ainda a televisão.

O petroleiro foi levado para a área costeira e entregue às autoridades, para estas darem os passos legais necessários, acrescentou.

Notícias de que um outro navio operado pelos britânicos, o Mesdar, também fez um desvio abrupto na mesma área e na mesma altura que o Stena, não foram confirmadas de imediato. Os Guardas da Revolucão não mencionaram a apreensão de um segundo navio.
Desvio "abrupto"
A imprensa britânica confirmou o nome do petroleiro e afirmou que este se dirigia para o porto de Jubail, na Arábia Saudita, com 23 tripulantes, quando saiu de repente das linhas de navegação internacional no Estreito de Ormuz. O Stena Impero é um petroleiro de 30 mil toneladas, relativamente moderno, detido pela Stena Bulk.

Dados de rastreamento mostraram o navio a alterar abruptamente a rota e a dirigir-se para norte, para a ilha iraniana de Qeshm, onde os Guardas da Revolução têm uma base de grande dimensão.

O Ministério britânico da Defesa sublinhou que detém navios na área, mas não revelou quaisquer detalhes sobre o sucedido.

Os proprietários e administradores do Stena Impero emitiram um comunicado conjunto, afirmando que o navio foi "abordado por pequenos barcos não identificados e um helicóptero, quando navegava no Estreito de Ormuz em águas internacionais".

"Estamos atualmente impossibilitados de contactar o navio, que se está a dirigir para norte, para o Irão", acrescentou o texto assinado pela Stena Bulk e pela Northern Marine.
Retaliação
O incidente deu-se no mesmo dia em que as autoridades britânicas de Gibraltar anunciaram o prolongamento do arresto do petroleiro iraniano Grace 1, apreendido a 4 de julho pelos Royal Marines britânicos, ao largo da Gibraltar.

Os britânicos alegaram suspeitas de que o navio transportava crude para a Síria, em violação do embargo imposto pela União Europeia.

O Irão denunciou a apreensão do Grace 1 como um "ato de pirataria".

Nos dias seguintes, Londres enviou para a zona vasos de guerra para escoltar o trânsito de navios britânicos.

A 10 de julho, o HMS Montrose interveio para afastar três navios militares iranianos, que tentavam desviar um petroleiro britânico, o British Heritage, seis dias apenas após a preensão do Grace 1.

Há dois dias, o líder supremo iraniano, Ali Khamenei, anunciou que o seu país iria responder "no momento e lugar oportunos" à interceção do Grace 1.

O incidente desta sexta-feira dá-se num ambiente de guerra de nervos nas rotas de trânsito petrolífero no Golfo Pérsico, devido à tensão e mútuas acusações entre os Estados Unidos e o Irão, quanto ao programa nuclear iraniano.

Esta quinta-feira o Presidente norte-americano, Donald Trump, revelou o abate de um drone iraniano por um vaso de guerra dos EUA, no Estreito de Ormuz.

Teerão nega o incidente.
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