Um navio iraniano, o Shahr e Kord, ficou danificado superficialmente num alegado ataque no Mediterrâneo, quarta-feira, duas semanas após um outro navio, o MV Helios RAY, de propriedade israelita, ser alvo de uma explosão no Golfo de Omã. Os Governos de ambos os países acusam-se mutuamente e falam em "atos terroristas".
Uma fonte marítima confirmou à Agência Reuters que três outros navios iranianos foram danificados nas últimas semanas por causas desconhecidas enquanto navegavam no Mar Vermelho.
E fontes anónimas da Defesa norte-americana revelaram ao Wall Street Journal que Israel já visou pelo menos uma dúzia de navios iranianos em rota para a Síria, a maioria com petróleo iraniano nos porões. Israel afirma recear que os lucros do ouro negro estejam a financiar atividades terroristas no Médio Oriente.
O armador do Shahr e Kord prometeu apelar à Justiça para punir os responsáveis do que apelidou terrorismo e pirataria.
"Tais atos terroristas equivalem a pirataria naval, e violam a lei internacional sobre segurança da navegação comercial", referiu o porta-voz da empresa, Ali Ghiasian.
O navio ficou apenas ligeiramente danificado pelo objeto explosivo e ninguém a bordo ficou ferido, admitiu Ghiasian, mas vai haver consequências. "Vão ser iniciadas ações legais para identificar os responsáveis através de instituições internacionais relevantes", anunciou.
Campanha secretaO porta-voz disse que o Shahr e Kord estava em rota para a Europa quando se deu o ataque e que iria seguir até ao destino após reparações, só que, de acordo com os dados do serviço de rastreamento Refinitiv, a última posição do cargueiro iraniano foi registada a 10 de março ao largo da costa síria rumo ao porto de Latakia.
Israel já admitiu noutras ocasiões que tem mantido secretamente uma "campanha entre guerras", para impedir a entrega de armamento aos aliados do Irão junto às suas fronteiras, entre outros apoios oriundos de Teerão.
A faceta marítima da campanha nunca foi mencionada abertamente mas a estratégia de Israel para impedir o contrabando de petróleo iraniano para a Síria estará a ser implementada há algum tempo.
Em
2019, num discurso aos cadetes da Marinha, o primeiro-ministro Benjamin
Netanyahu afirmou que Teerão estava a usar as rotas marítimas para
contornar as sanções norte-americanas e internacionais, e anunciou que este ramo das
Forças Armadas iria em breve "desempenhar um papel mais importante no
bloqueio" desta tática, sem elaborar. A explosão que atingiu o israelita MV Helios Ray parece indicar que os
iranianos começaram a pagar na mesma moeda. Fontes do Pentágono
revelaram que a explosão rasgou o casco de ambos os lados do navio.
Israel acusou o Irão de estar por trás do incidente, acusação negada
pela República Islâmica.
"Não comentamos a campanha que temos em curso, quanto à parte operacional", respondeu o ministro para segurança nacional de Israel, Tzachi Hanegbi, à Tel Aviv Radio 102 FM, quando questionado sobre a notícia publicada pelo WSJ esta sexta-feira.
A resposta pode ser considerada um reconhecimento implícito quanto à responsabilidade de Israel nos ataques aos navios iranianos, aparentemente confirmado logo a seguir.
"Nós salientamos sempre que devemos estar prontos contra a beligerância iraniana em todas as frentes", acrescentou o ministro. "Suponho que isto também inclui as arenas aérea e marítima, além da terrestre", rematou.
Silêncio e sigilo
Apesar das sanções norte-americanas e da proibição internacional, o Irão tem continuado a fornecer à Síria, sua aliada de peso, milhões de barris de petróleo.
Estes abastecimentos são um dos alvos principais dos israelitas, embora estes tentem impedir igualmente a movimentação de outras cargas, incluindo armas, na região, de acordo com fontes da Defesa norte-americana. O artigo do WSJ desta sexta-feira revela que Israel tem utilizado várias armas, incluindo minas aquáticas, para atingir os navios iranianos ou que transportem carga iraniana, quando estes navegam em direção à Síria no mar Vermelho e noutras áreas da zona.
Os ataques aos petroleiros iranianos foram mantidos sob sigilo até agora.
Israel nunca comentou oficialmente os incidentes sofridos pelos navios e o gabinete do primeiro-ministro Netanyahu remeteu sempre todas as questões para as Forças Armadas, as quais declinaram sempre responder.
Repetindo o padrão, os responsáveis israelitas declinaram comentar a notícia do jornal
norte-americano esta sexta-feira e a embaixada dos Estados Unidos em Jerusalém mantece o silêncio.
A missão iraniana nas Nações Unidas também não respondeu a pedidos de reação às informações, por parte do Wall Street Journal.
Perguntas sobre o eventual
envolvimento de Israel no ataque de quarta-feira ao cargueiro iraniano ficaram igualmente sem resposta.
O Shahr e Kord é um dos navios colocado sob sanções severas por parte dos Estados Unidos e em 2019 chegou a ser retido na Líbia durante alguns dias.