Polémica com Trump. Demitiu-se o embaixador do Reino Unido em Washington

por Joana Raposo Santos - RTP
Kim Darrock (à direita) quis "pôr fim à especulação" Carlos Barria - Reuters

Kim Darroch, embaixador do Reino Unido em Washington, decidiu esta quarta-feira abandonar o cargo depois de se ter visto envolvido numa polémica com Donald Trump. Em memorandos, o embaixador apelidou o líder dos EUA de "inepto" e "incompetente". Em resposta, o Presidente norte-americano afirmou que Darroch “não serviu bem o Reino Unido”. A demissão do embaixador já foi aceite, com o "profundo pesar" do Governo britânico.

“Desde a divulgação de documentos oficiais desta embaixada tem havido grande especulação em torno da minha posição e da duração do tempo que me resta enquanto embaixador”, começou por declarar Darroch na sua carta de demissão.

“Quero pôr fim a essa especulação. A situação atual está a tornar impossível continuar a desempenhar o meu papel como gostaria”, frisou.

“Apesar de a minha posição só terminar no final deste ano, acredito que, nas circunstâncias atuais, o caminho responsável é permitir que seja designado um novo embaixador”.

Estou grato a todos os que, no Reino Unido e nos Estados Unidos, ofereceram o seu apoio durante estes dias difíceis. Isto fez-me aperceber da profundidade da amizade e dos laços próximos entre os dois países. Fiquei imensamente comovido”, confessou Darroch, de 65 anos.

“Estou também grato a todos aqueles com quem trabalhei ao longo das últimas quatro décadas, particularmente a minha equipa nos Estados Unidos”.

“O profissionalismo e integridade do serviço civil britânico é motivo de inveja por todo o mundo. Sairei repleto de confiança de que os seus valores continuarão em boas mãos”, terminou.
May lamenta demissão
A primeira-ministra britânica reagiu à demissão do embaixador com “muita pena”, considerando que os ocupantes deste tipo de cargos devem poder fornecer “conselhos completos e honestos”.

“Falei esta manhã com Kim Darroch. Disse-lhe que é uma pena que tenha sentido a necessidade de abandonar o seu cargo”, avançou Theresa May ao Parlamento britânico.

Na terça-feira, um porta-voz da primeira-ministra tinha já garantido a “plena confiança” de May no embaixador.

“Contactámos a Administração Trump para esclarecer que consideramos esta fuga de informação inaceitável”, declarou na véspera. “É, claramente, lamentável que isto tenha acontecido”, acrescentou.
Reino Unido apoia Darroch
Simon McDonald, subsecretário permanente no Ministério britânico dos Negócios Estrangeiros, já respondeu ao pedido de demissão do embaixador. “Em nome do Serviço Diplomático, aceito a demissão com profundo pesar pessoal”, admitiu.

“Ao longo dos últimos e difíceis dias, o embaixador comportou-se da mesma forma que sempre se comportou durante a sua longa e notável carreira: com dignidade, profissionalismo e elegância”.

“A primeira-ministra, o secretário de Estado para os Assuntos Externos e todo o serviço público ficaram do seu lado: o embaixador foi alvo de uma maliciosa fuga de informação quando estava apenas a fazer o seu trabalho”, lançou.

McDonald disse, no entanto, compreender “a vontade de aliviar a pressão sentida pela família” de Darroch e pelos seus colegas na embaixada. “Admiro que pense mais nos outros do que em si mesmo. O embaixador demonstra a essência dos valores do serviço público britânico”.
Fuga de informação na origem
Os memorandos do embaixador Kim Darroch foram divulgados no passado domingo pelo tabloide britânico Mail on Sunday e classificam Trump de “inseguro” e “incompetente”.

“Não acreditamos realmente que esta Administração vá tornar-se substancialmente mais normal, menos disfuncional, menos imprevisível, menos facciosa, menos desastrada na diplomacia e inepta”, escreveu Darroch.

O embaixador descreve ainda a Casa Branca como o palco de “cruéis lutas” e de “caos”.

Em relação à recente ameaça de bombardeamento no Irão, que o Presidente norte-americano cancelou por receio que tal pudesse causar a morte de 150 pessoas, o embaixador britânico considerou “mais provável que ele nunca tenha estado inteiramente decidido e que estivesse preocupado com o que esta aparente inversão das suas promessas de campanha de 2016 iria parecer em 2020”.

Em resposta, Donald Trump declarou que Darroch “não serviu bem o Reino Unido”. “Não somos grandes fãs desse homem. Poderia dizer coisas sobre ele, mas não me vou dar a esse trabalho”, afirmou no domingo perante jornalistas.
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