Polícia alemã investiga AfD por distribuir "bilhetes de deportação"

por Inês Moreira Santos - RTP
Matthias Rietschel - Reuters

No fim de semana, o partido de extrema-direita Alternativa para a Alemanha (conhecido pela sigla AfD) aprovou um programa eleitoral que inclui promessas de encerrar fronteiras e o que chamam de "remigração" de imigrantes. E numa espécie de campanha, o partido alemão distribuiu panfletos, deixados em algumas caixas de correio, que se assemelhavam a "bilhetes de deportação". A polícia alemã confirmou, esta terça-feira, que está a investigar o material impresso, que pode ser considerado como uma forma de "incitamento ao ódio".

Algumas pessoas de comunidades de imigrantes que vivem na cidade de Karlsruhe, sudoeste do país, receberam os panfletos nas caixas de correio. Apesar de apelarem à deportação, não se sabe ainda se receberam de propósito e se eram alvos diretos desta campanha, ou se a distribuição foi aleatória.

Num comunicado emitido esta terça-feira, a polícia de Karlsruhe, no Estado de Baden-Württemberg, anunciou que abriu uma investigação sobre “pessoas desconhecidas por suspeita de incitação ao ódio racial”.

“Desde que os bilhetes começaram a circular, estão a decorrer investigações”, disseram as autoridades, acrescentando que o material impresso pelo partido de extrema-direita se assemelha a um bilhete de avião, com o logótipo da AfD e um código QR que dá para o site do partido.

Nos panfletos, o local onde devia estar o nome do passageiro lê-se “imigrante ilegal” e no país de descolagem está Alemanha com destino ao “país de origem seguro”. No mesmo papel está indicada a data do voo para 23 de fevereiro, a mesma das eleições antecipadas no país.



Os bilhetes foram denunciados nas redes sociais, onde se liam os slogans: “Só a remigração ainda pode salvar a Alemanha”, "hora de deportar os ilegais" e "também é bom estar em casa". O termo “remigração” foi criado por extremistas de direita para designar a expulsão em massa de imigrantes e pessoas com raízes estrangeiras - a AfD apropriou-se do termo para se referir à expulsão de migrantes irregulares por meios legais.

Os panfletos suscitaram queixas da população, bem como de membros do partido A Esquerda, que ameaçaram denunciar a secção distrital da AfD por incitação ao ódio.

O prefeito de Karlsruhe, o social-democrata Frank Mentrup, considerou que a ação de campanha passou dos limites e põe em risco a coesão social. O governante afirmou ainda, citado pela imprensa alemã, que o material impresso estava disponível na página da sede regional da AfD em Karlsruhe e teria circulado entre filiados durante a convenção partidária realizada no passado fim de semana em Riesa, no Estado da Saxónia.

O deputado da AfD em Karlsruhe Marc Bernhard confirmou à imprensa alemã que foram impressos entre 20.000 e 30.000 destes panfletos no âmbito da campanha eleitoral que antecede o escrutínio de 23 de fevereiro. O deputado negou ainda que pessoas com “nomes estrangeiros” tenham sido alvos.

A investigação policial não se centra em nenhum funcionário específico da AfD, uma vez que consiste na recolha de informações que serão transmitidas ao Ministério Público.

Os ‘media’ alemães recordam que a propaganda da AfD faz lembrar a lançada em 2013 pelo grupo neonazi Partido Nacional Democrático (NPD), cujo ‘slogan’ para as eleições desse ano era “De: Alemanha - Para: País de Origem”.



O partido AfD está a ser investigado em vários estados pelo Gabinete Federal para a Defesa da Constituição, nome dado na Alemanha aos serviços de informação do Ministério do Interior, como um “caso seguro de extremismo de direita”. Nas sondagens de opinião, a AfD surge como o segundo maior partido, depois da União Democrata-Cristã (CDU).

O partido de extrema-direita Alternativa para a Alemanha aprovou, no domingo, um programa eleitoral que inclui promessas de encerrar fronteira, “remigração” de imigrantes, a saída do euro e a reintrodução do serviço militar obrigatório.

Num momento em que as sondagens lhe dão os melhores resultados desde há um ano e a colocam como segunda força nas eleições de 23 de fevereiro, a AfD aprovou o programa no congresso, que também nomeou a sua co-líder Alice Weidel como candidata oficial a chanceler nas eleições de fevereiro.
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