Putin avisa os Estados Unidos para uma crise de mísseis ao estilo da Guerra Fria
O presidente russo, Vladimir Putin, avisou no domingo os Estados Unidos que, se Washington instalasse mísseis de longo alcance na Alemanha, a Rússia instalaria mísseis semelhantes à distância de ataque do Ocidente.
Os Estados Unidos anunciaram a 10 de julho que começariam a instalar mísseis de longo alcance na Alemanha a partir de 2026, em preparação para uma instalação a longo prazo que incluirá SM-6, mísseis de cruzeiro Tomahawk e armas hipersónicas em desenvolvimento.
“O tempo de voo para alvos no nosso território de tais mísseis, que no futuro poderão ser equipados com ogivas nucleares, será de cerca de 10 minutos”, afirmou o presidente russo.
“Tomaremos medidas espelhadas para implantar, levando em consideração as ações dos Estados Unidos, seus satélites na Europa e em outras regiões do mundo”, acrescentou.
Putin, que enviou o seu exército para a Ucrânia em 2022, apresenta a guerra como parte de uma luta histórica com o Ocidente, que, segundo ele, humilhou a Rússia após a queda da União Soviética em 1991, invadindo o que ele considera a esfera de influência de Moscovo.
A Ucrânia e o Ocidente dizem que Putin está envolvido numa apropriação de terras ao estilo imperial. Os dois países prometeram derrotar a Rússia, que atualmente controla cerca de 18 por cento da Ucrânia, incluindo a Crimeia, e partes de quatro regiões no leste da Ucrânia.
A Rússia e os Estados Unidos retiraram-se deste tratado em 2019, com ambos a acusarem-se mutuamente de já não respeitar as suas disposições.
Moscovo tinha, no entanto, anunciado que não iria reiniciar a produção deste tipo de mísseis enquanto os Estados Unidos não os implantassem no estrangeiro.
Washington e Berlim anunciaram em julho a intenção de "iniciar implantações de armas de fogo de longo alcance" na Alemanha em 2026.
"Importantes locais russos da administração estatal e do exército estarão ao alcance destes mísseis (...). O tempo de voo destes mísseis, que poderão no futuro ser equipados com ogivas nucleares, até aos nossos territórios será de cerca de 10 minutos", explicou Putin.
O Kremlin já tinha avisado em meados de julho que as capitais europeias se tornariam alvos legítimos para a Rússia no caso da implantação de mísseis americanos no continente.
Putin afirmou que os Estados Unidos estavam a alimentar as tensões e que tinham transferido sistemas de mísseis Typhon para a Dinamarca e as Filipinas, e comparou os planos dos EUA à decisão da NATO de instalar lançadores Pershing II na Europa Ocidental em 1979.
O Pershing II, concebido para lançar uma ogiva nuclear de rendimento variável, foi colocado na Alemanha Ocidental em 1983. A liderança soviética, incluindo o secretário-geral Yuri Andropov, temia que a instalação dos Pershing II fizesse parte de um plano elaborado pelos EUA para decapitar a União Soviética, eliminando a sua liderança política e militar.
“Esta situação faz lembrar os acontecimentos da Guerra Fria relacionados com a instalação de mísseis Pershing de médio alcance americanos na Europa”, frisou Putin.
Em 1983, Andropov e o KGB interpretaram uma série de medidas dos EUA, incluindo a instalação do Pershing II e um grande exercício da NATO, como sinais de que o Ocidente estava prestes a lançar um ataque preventivo contra a União Soviética.