Suécia ultrapassa as quatro mil vítimas mortais

por Alexandre Brito - RTP
Anders Tegnell é o epidemiologista responsável pela estratégia sueca

A Suécia anunciou esta segunda-feira que são já 4029 as vítimas mortais de Covid-19 no país. O número de pessoas infetadas também cresceu para 33.843. São valores oficiais divulgados ao início da tarde pelo país que, desde o início, optou por uma ação diferente em relação a praticamente todo o mundo no combate a este vírus. Com muito menos restrições do que noutros pontos do globo, a Suécia continua a defender a estratégia de máxima responsabilização dos cidadãos, mas sem confinamento.

A Suécia optou por uma estratégia mais suave, digamos assim, no combate ao novo coronavírus. Sempre com a teoria de que os confinamentos ou isolamentos não resultam a longo prazo. Logo, não cabe ao Governo fechar as pessoas em casa. São elas que têm de ter a responsabilidade de evitar a transmissão do vírus.

Nessa linha de orientação, uma boa parte das escolas continuaram abertas, tal como restaurantes e lojas. 

O resultado começa agora a ser visível, em comparação, por exemplo, com países vizinhos e até com Portugal, que tem praticamente a mesma população - 10 milhões. A Suécia tem atualmente cerca de quatro vezes mais mortos de Covid-19 do que Portugal.

O responsável pela estratégia sueca é o epidemiologista Anders Tegnell que, desde o início, tem defendido esta linha e que, verdade seja dita, tem dado a cara por ela.

As críticas têm aumentado nos últimos dias, em paralelo com o aumento de vítimas mortais, mas também porque durante dois dias a Suécia chegou mesmo a ter a taxa de mortos per capita mais elevada do mundo. 

Uma vez mais, como comparação, a taxa de vítimas mortais per capita na Dinamarca, Finlândia e Noruega é, respetivamente, quatro, sete e nove vezes mais baixa do que na Suécia, de acordo com contas feitas pelo The Guardian.

Uma das vozes que se fez ouvir recentemente contra a estratégia em curso foi a de Annika Linde, a epidemiologista principal do país entre 2005 e 2013. Foi ela que organizou a resposta do país durante a gripe suína e Sars. 

Linde afirmou recentemente que o país devia mudar de rumo. "Se tivéssemos fechado muito cedo... teríamos sido capazes, durante esse tempo, de fazer o necessário para proteger os vulneráveis", disse Annika Linde.

Disse ainda esta epidemiologista que a estratégia sueca de conseguir a imunidade para a população e proteger os mais velhos e grupos de risco falhou.

A verdade é que na Suécia, tanto políticos como a população tem estado do lado do Governo no apoio a esta resposta à Covid-19. Até agora eram poucos os protestos visíveis. Linde, ao falar, abriu uma frente de descontentamento. Sendo que ela tem o peso de ter sido já a principal epidemiologista do país.

Numa recente entrevista na rádio, Anders Tegnell, o epidemiologista que tem levado a cabo esta estratégia, afirmou que quem critica não consegue indicar um caminho diferente.

Annika Linde, por sua vez, afirmou que Tegnell tem estado mal ao culpar os lares pela elevada taxa de infeções no país. Diz ela que, se o Governo achou que não deviam ser aplicada medidas de confinamento, tinha de se certificar antes que o país estava preparado, em particular os lares.
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